Votar em mulheres e leigos no Sínodo: um pequeno passo na reforma “urgente” da Igreja. Artigo de Consuelo Vélez

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28 Abril 2023

  • Muitas coisas podem mudar se houver vontade, sem procurar tantas justificações ou desculpas.

  • Uma Igreja que, depois de afirmar que a dignidade baptismal é o fundamento do nosso ser cristão porque nos torna partícipes da tríplice dignidade sacerdotal, profética e real do próprio Cristo, já é verdadeiramente anacrônica, não a traduz em estruturas onde "o sentido da fé” (sensus fidei) ,que pertence a “todo” o povo de Deus, tem a possibilidade de se expressar.

  • Terá de chegar o dia em que os “convites” não tenham tantos filtros, mas sim quando discordantes, diferentes vozes de outras perspetivas queiram ser ouvidas, com perguntas profundas, sem medo de reflexões críticas e propostas arrojadas. Mas ainda temos que esperar. Ainda falta muito tempo para que os participantes das assembleias, dos sínodos ou das reuniões eclesiais sejam os pobres da terra, dos quais Jesus diz serem os primeiros destinatários do reino.

  • Bom para o passo dado para a assembleia sinodal de outubro, porque não há outra maneira de começar do que começar. Mas continua urgente uma reforma da Igreja em que não é a vontade de um pontífice que permite algumas mudanças.

O artigo é de Consuelo Vélez, teóloga colombiana, publicado por Religión Digital, 26-04-2023.

Eis o artigo.

Anunciou-se com "tambor de trombeta" que, pela primeira vez, em um Sínodo, os leigos — mulheres e homens — terão voz e voto. E isso é decidido pela vontade do Papa. O que parecia imutável — o sínodo dos bispos nasceu como uma instituição de bispos e, portanto, só eles podiam ter voz e voto — mudou depois de um encontro com o chamado C9 (Conselho de Cardeais, grupo que Francisco escolheu desde o início do seu pontificado com o objetivo de realizar sua tarefa de maneira mais colegiada). Em outras palavras, muitas coisas podem mudar se houver vontade, sem procurar tantas justificativas ou desculpas.

Podemos dizer que “já era hora” de dar esse passo. Nas reuniões de consulta destes dois anos desde o início do Sínodo sobre Sinodalidade, não deixaram de se ouvir vozes exigindo essa participação. Os leigos, especialmente as mulheres, e os jovens o pediram porque uma Igreja que, depois de afirmar que a dignidade batismal é o fundamento do nosso ser cristão porque nos torna partícipes da tríplice dignidade sacerdotal, profética e real do próprio Cristo, já é verdadeiramente anacrônicos, não o traduzam em estruturas onde “o sentido da fé” (sensus fidei) que pertence a “todo” o povo de Deus, tenha a possibilidade de se expressar.

No entanto, esta decisão tomada pelo papa tem seus "poréns": ainda será apenas 25% do total de membros e as pessoas que participarem serão escolhidas "a mão" por Francisco, a partir de uma lista fornecida por aqueles que lideraram os sete reuniões da Etapa continental. Por quais critérios eles serão escolhidos? Elas terão de passar por "dois filtros" ou duas listas.

E os critérios que aparentemente serão considerados para escolhê-los serão: “não apenas sua cultura geral e prudência, mas também seus conhecimentos, tanto teóricos quanto práticos, assim como sua participação em diversas instâncias do processo sinodal”. Essa "prudência" me faz pensar, porque geralmente em nossos grupos eclesiais ser prudente significa não dizer as coisas diretamente, não pensar diferente, não insistir, não manter uma postura crítica e tudo isso é uma boa tática para ser chamado e permanecer nesses grupos de participação eclesiástica. É isso que se espera das vozes leigas no sínodo? E nada indica que devemos entendê-lo de outra forma.

Terá de chegar o dia em que os “convites” não tenham tantos filtros, mas sim quando discordantes, diferentes vozes de outras perspectivas queiram ser ouvidas, com perguntas profundas, sem medo de reflexão crítica e de propostas arrojadas. Mas ainda temos que esperar. Ainda falta muito tempo para que os participantes das assembleias ou sínodos ou reuniões eclesiais sejam os pobres da terra, dos quais Jesus diz serem os primeiros destinatários do reino. Caso alguém que seja pobre por condição socioeconômica, ou etnia, ou por algum outro motivo participe, é como uma espécie de concessão ou representação que se quer dar, mas não porque acredita na parcela do povo de Deus que, assim como na sociedade, continua marginalizada e sem ser protagonista das grandes decisões.

Bom para o passo dado para a assembleia sinodal de outubro, porque não há outra maneira de começar do que começar. Mas ainda há uma necessidade urgente de uma reforma da Igreja em que não é a vontade de um pontífice que permite algumas mudanças. Há muita teologia formulada que fundamenta um modo de ser igreja com a plena participação do povo de Deus. Há muito mais consciência entre os leigos e, especialmente entre as mulheres, de que a exclusão baseada no sexo não pode continuar a ser mantida na Igreja. Há demasiada deserção de pessoas da nossa vida eclesial porque uma Igreja que não "acompanha os tempos" — e isso não é relativismo, nem está na moda — para secundar a voz do Espírito que continua a palpitar no mundo de hoje, diz cada vez menos aos pessoas.


Um pequeno passo foi dado. Alguns dirão que é muito grande. Outros de nós dizem que a marcha está indo tão devagar, sem motivos convincentes — mais que o tradicionalismo e a retenção do poder em poucas mãos — que é preciso continuar insistindo cada vez mais. O que está em jogo não é quem ganha o jogo. O que está em jogo é que a Igreja seja reformada para que seja sinal do reino neste presente que vivemos. 

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