13 Março 2023
Em 13 de março de 2013, Jorge Mario Bergoglio era eleito papa. Nesta década na Igreja Católica houve mudanças significativas, foram iniciados processos, mas outros também foram segurados, redimensionando a imagem do pontífice reformador.
Conversamos sobre isso com Daniele Menozzi, professor emérito de História contemporânea na Normale de Pisa, autor do livro Il papato di Francesco in prospettiva storica (O papado de Francisco em perspectiva histórica, em tradução livre, Morcelliana), nas livrarias a partir da próxima quinta-feira.
A entrevista com Daniele Menozzi, historiador italiano, é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 12-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Professor Menozzi, no início do pontificado o perfil reformador de Francisco parecia evidente, depois parece ter diminuído. Por que?
O governo de Francisco foi orientado ao longo de uma linha reformista, certamente não revolucionária. Tratava-se de tirar a Igreja da situação muito difícil a que havia levado a incapacidade do seu antecessor imediato de enfrentar os desafios da pós-modernidade.
Essa linha se chocou com várias dificuldades, tanto resistência conservadora quanto fugas para frente, o que induziu a papa a calibrar as disposições com o objetivo de preservar a unidade da Igreja, evitando um conflito que poderia gerar um cisma. Essa atitude de prudência ultimamente traduziu-se numa atenuação do impulso inovador, favorecendo, por exemplo, um retorno à centralização romana.
Bergoglio abriu uma porta, iniciando alguns processos de reforma, mas depois parou na soleira...
Desde o início, Francisco deixou claro que era sua intenção iniciar processos. Tratava-se de fazer entrar em relação com a história um povo católico que, durante os pontificados de Wojtyla e Ratzinger, fora conduzido a buscar vias de atualização totalmente inadequadas para colocá-lo de volta em contato com os homens contemporâneos, que a pós-modernidade levava a reivindicar espaços cada vez mais amplos de autonomia.
O desenvolvimento desses processos devia envolver toda a estrutura eclesial. As intervenções do Papa para regulá-los e, em alguns casos, retardá-los, são evidentemente ditadas por um juízo político: poderiam minar aquela unidade da Igreja, cuja preservação acredita ser a função primeira do ministério petrino.
Houve uma atualização ou a Igreja Romana não se moveu nem um milímetro?
Em muitos âmbitos, a mudança é real. Basta pensar no abandono do projeto de neocristandade levado adiante por João Paulo II e Bento XVI: a conformação dos ordenamentos públicos à lei natural já não é mais o traço distintivo da presença dos crentes no mundo de hoje.
Em outros âmbitos foram iniciados processos de transformação, como na atitude para com as pessoas homossexuais: Roma, por exemplo, não rejeitou a forma eclesial de acolhimento eclesial de suas uniões elaborada pela Igreja belga seis meses atrás. Justamente neste sentido: é possível atualizar a pastoral sem mexer na doutrina ou se trata de uma contradição intransponível? Francisco indicou o caminho para evitar a contradição.
A doutrina, como a lei natural, fica; mas não é o ponto de referência prioritário, porque para o crente o ponto de referência fundamental é o Evangelho, e Bergoglio identificou seu núcleo na misericórdia. Nessa perspectiva, pode-se encontrar a solução para o problema. Cabe às comunidades eclesiais mostrar a capacidade de ligar Evangelho e sinais dos tempos.
Na esfera social, porém, o ensinamento de Francisco procede de maneira linear e avançada. Quais são os pontos mais significativos?
Além da encíclica Laudato si' sobre a questão ambiental, na qual o papa ligou ecologia e justiça social, enfatizo dois aspectos entre outros. O primeiro é a conexão que me parece existir entre o processo sinodal e a revitalização de uma democracia em evidente crise de participação: ou seja, se o fiel católico participar mais da vida da Igreja, será incentivado a fazê-lo também na política.
O segundo é a mudança de um aspecto importante da doutrina social da Igreja: sem abandonar esse sintagma obsoleto, Francisco o caracterizou como encorajamento da autoridade eclesiástica aos movimentos que lutam por justiça, sem nunca colocar em questão a autonomia organizacional e política.
Bergoglio condenou a guerra na Ucrânia e reconheceu a responsabilidade do agressor russo, mas sem nunca vestir o capacete da OTAN. Agora a situação parece sem saída, o único caminho é aquele militar. É uma derrota?
A guerra é uma derrota para todos, exceto para as indústrias militares e para os traficantes de armas. Mas se a diplomacia vaticana, embora sem resultados concretos, demonstrou alguma força propositiva, por exemplo, ao relançar o modelo de Helsinque, é o mundo católico que sai mal da guerra.
Também aqui Francisco iniciou um processo: passar da doutrina da guerra justa para a não-violência ativa.
Durante o conflito, porém, os intelectuais e o mundo católico revelaram todo o seu dramático atraso em dar eficácia prática a essa indicação, mantendo-se ancorados à ideia de legítima defesa e reafirmando que constitui uma implementação da guerra justa.
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“Ecologia e justiça social, assim Francisco moderniza a Igreja”. Entrevista com Daniele Menozzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU