Os ataques à CF 2023 e o “não só de pão vive o homem” (Mt 4,3). Salvar o corpo ou a alma? Artigo de Frei Jacir de Freitas Faria

(Foto: Nick Fewings | Unsplash)

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01 Março 2023

"Aqueles que atacam a proposta da CF de refletir sobre a criminosa situação da fome, como afirmou o Papa Francisco, agem como Diabos que dividem e mutilam o evangelho. Não se trata de partidarismo político! Tampouco de comunismo. É Evangelho vivo! Por que será que a fome incomoda tanto esses que se dizem cristãos defensores da tradição? Seria ódio aos pobres? Os dados sobre a situação da fome no Brasil são estatísticos, reais", escreve o frei Jacir de Freitas Faria, OFM.

Frei Jacir é doutor em Teologia Bíblica pela FAJE (BH), mestre em Ciências Bíblicas (Exegese) pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma e professor de Exegese Bíblica. É membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB), padre franciscano e autor de dez livros e coautor de quinze.

Eis o artigo.

“Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.” Esse é um pensamento bíblico que vem do livro do Deuteronômio (Dt 8,3). Jesus cita-o para contrapor ao diabo que pede que Ele transforme pedras em pão se é que ele era Filho de Deus (Mt 4,4). O que Jesus quis dizer com isso? Por que a CF 2023 está sendo combatida de forma desonesta por cristãos de extrema-direita, somente porque ela trata da fome cotidiana de mais de 30 milhões de brasileiros?

Jesus não estava querendo dizer que não é preciso dar de comer a quem tem fome, tampouco que o dever do cristão ou da Igreja é de cuidar da alma e não do corpo. Quando o povo estava no deserto passando fome, Deus lhes deu o maná, o pão, para dizer ao povo que acreditasse na sua Palavra que o libertou da escravidão do Egito. O pão oferecido foi a certeza de que a Palavra de Deus é fiel.

No deserto, lugar da terra sem pão, e sendo tentado pelo Diabo, Azazel, o demônio do deserto, Jesus, o novo Moisés, afirma que o que sai da boca de Deus é a sua palavra. A boca de Jesus é a boca de Deus. A Palavra que sai de ambas é a mesma. Mais tarde, assim como o Pai, Jesus multiplica pães e peixes para os famintos e conclama os seus discípulos a dividir o pão (Mc 6,30-44). Tarefa repassada para nós.

Aqueles que atacam a proposta da CF de refletir sobre a criminosa situação da fome, como afirmou o Papa Francisco, agem como Diabos que dividem e mutilam o evangelho. Não se trata de partidarismo político! Tampouco de comunismo. É Evangelho vivo! Por que será que a fome incomoda tanto esses que se dizem cristãos defensores da tradição? Seria ódio aos pobres? Os dados sobre a situação da fome no Brasil são estatísticos, reais.

Fora da realidade é a proposta de cristãos ultraconservadores do grupo intitulado “Centro Dom Bosco”, que propõe como tema da CF: “Fora da Igreja não há salvação”. Essa frase, dita por Santo Irineu, no ano 180, causou divisões na Igreja por entender que os outros grupos de cristãos eram ladrões e assaltantes. Retomar essa ideia é voltar a um passado superado. É não sair da sacristia para evangelizar, como pede o Papa Francisco. Libertar o corpo da fome é o mesmo que salvar a alma. Mãos à obra. Contribuamos para acabar com a fome no mundo, no nosso país. Lutemos por políticas públicas que acabem com as desigualdades sociais, tendo a Palavra de Deus como a bússola que nos orienta, pois a luta contra a fome não é questão simplesmente religiosa, mas de direitos humanos.

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