30 Janeiro 2023
Nada sugere a abertura da sede vacante na igreja de Roma, mas o livro entrevista de Franca Giansoldati com o Cardeal Gerhard MüIller (In buona fede, Solferino) será considerado por seus colegas que deverão eleger o sucessor de Francisco. Independentemente de você concordar ou discordar das opiniões do antigo bispo de Regensburg, que de 2012 a 2017 foi prefeito do antigo Santo Ofício.
A reportagem é de Giovanni Maria Vian, publicada por Domani, 29-01-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O quarto da série ininterrupta de guardiões da doutrina católica, não mais italianos há mais de meio século, enquanto rumores sugerem que no lugar do jesuíta espanhol Luis Ladaria estaria chegando o brilhante dehoniano Heiner Wilmer, de tendências progressistas e que seria o terceiro alemão depois de Ratzinger e Müller.
As duzentas páginas de perguntas e respostas, bem conduzidas e fluidas, têm o mérito de serem inusualmente francas, às vezes rudes e explícitas em suas críticas ao Papa Francisco e seus conselheiros. Mas o livro não deve ser reduzido à oposição ao pontífice, como pareceu pelas antecipações jornalísticas, porque quer oferecer um olhar sobre a “religião no século XXI século”, como reza o subtítulo.
Mesmo que a visão de Müller seja afetada por uma orientação exclusivamente teológica e pouco sensível à história: por exemplo, sobre a presença de mulheres na igreja, que vê até em papéis importante como o de secretário de Estado, mas às quais nega a possibilidade de cardinalato, nos séculos passados, ao contrário, não ligado à ordenação sacerdotal.
“Müller é um guardião e a sua visão parece uma bússola”, resume Giansoldati no prefácio que introduz os diferentes capítulos. Estes contam, em primeiro lugar, a história do prelado renano de setenta e cinco anos que cuidou da edição dos escritos de Ratzinger anteriores ao pontificado (dezesseis volumes de Gesammelte Schriften, em andamento desde 2008 e agora quase concluídos). O livro trata de temas incandescentes: os abusos, sobretudo; “a ruptura” com as restrições litúrgicas em relação aos tradicionalistas; a situação do catolicismo na Alemanha, encaminhado para a "apostasia"; a renúncia papal; o futuro próximo; a questão feminina; a igreja nos EUA; a China.
Aluno do teólogo Karl Lehmann (discípulo de Karl Rahner que foi por mais de vinte anos o poderoso presidente da Conferência Episcopal Alemã), com dificuldade Müller pode ser forçado ao papel de um conservador. A teologia dos sacramentos em Dietrich Bonhoeffer, o pastor luterano enforcado pelos nazistas, foi o tema de sua tese de doutorado, seguida de publicações como Dogmática cattolica (edições San Paolo) e Dalla parte dei poveri (edições Messaggero Padua -Emi), escrito com o amigo Gustavo Gutiérrez, o dominicano peruano fundador da teologia da libertação. E entre os contemporâneos que o cardeal sugere para entender o cristianismo estão, além de Ratzinger, autores inovadores como Yves Congar, Hans Urs von Balthasar e Rahner.
Bento XVI em 2012 o chamou como sucessor do estadunidense William Levada na Congregação para a Doutrina da Fé, mas no final do primeiro quinquênio Müller não foi confirmado por Bergoglio. “Um raio em céu sereno”, resume no livro, e acrescenta: “Eles me viam como o rígido professor alemão que até queria dar aulas até ao Papa, mas era tudo falso, uma armação. Eu estava apenas defendendo as regras. Mais simplesmente, suponho que ao longo do tempo o papa tenha cultivado uma forma de desconfiança, de aversão em relação aos teólogos e aos acadêmicos universitários alemães”.
As críticas do cardeal alemão ao governo de Francisco, ou melhor, àquele "círculo mágico" que o cerca, são diretas e contundentes: pela centralização excessiva; por um exercício sem regras dos "processos civis no Vaticano", como no caso do cardeal Angelo Becciu, condenado sem provas; pela repressão insuficiente e contraditória dos abusos, devido à resistência da Cúria Romana, mas também à proteção de amigos como o bispo argentino Gustavo Zanchetta; pelas divisões inúteis provocadas pelas restrições litúrgicas.
Tendendo a considerar favoravelmente o celibato eclesiástico, Müller declara-se extremamente contrário à renúncia do papa e a uma sua eventual regulamentação.
Na frente política e social, o cardeal, entusiasmado pela Laudato si', critica abertamente tanto o regime chinês quanto a agressividade russa (e a diplomacia do Vaticano). Mas Müller reserva palavras de fogo tanto para o superpoder da minoria capitalista, "que está explorando a maioria" da população mundial, quanto para as perspectivas ameaçadoras do transumanismo, na realidade um anti-humanismo que nega Deus.
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O peso das palavras de Müller sobre a sucessão do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU