04 Janeiro 2023
"Símbolos e ritos fazem parte da cultura humana desde seus primórdios. O homem, por sua natureza e necessidade de expressão criou e ainda cria atos notáveis nos quais deixa sua marca de racionalidade. Expressão e ação, combinados resultam numa significação de importância que marca determinado momento histórico pessoal ou coletivo. Para além do cumprimento de formalidades legais, constitucionais e regimentais, de assinaturas, de juramento, de faixa, na posse o povo reconhece os eleitos", escreve em artigo Felipe Augusto Ferreira Feijão, bacharel em Filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza (FCF), licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestrando em Filosofia, na Universidade Federal do Ceará e professor da rede pública municipal de Fortaleza.
Dia 1º de janeiro de 2023 foi marcado pela posse do novo presidente do Brasil. Um ritual, que teve várias quebras de protocolos, mas sempre respeitado e dignificado pelos que o protagonizaram: os eleitos pela vontade do povo, verdadeiro detentor do poder, que o delega a representantes.
E foram representantes reais do povo brasileiro: catadora, criança, pessoa com deficiência, professor, metalúrgico e indígena os que subiram a rampa junto com Lula e passaram a faixa presidencial, diante da negativa do ex-presidente e do ex-vice-presidente. A cachorra, que tem uma história junto do acampamento existente durante a prisão do agora pela terceira vez presidente, foi guiada primeiro pela primeira-dama, depois pelo próprio Lula, na rampa.
Muitas foram as negativas, ao longo dos anos do último mandato e as quebras de liturgia do cargo. Falta de postura, de decoro, em suma, de humanidade, estiveram presentes na chefia do executivo nacional. Como bem afirma Luciana Villas Bôas em seu A República de chinelos: “o que o presidente de chinelos no Palácio da Alvorada, filmado na área de serviço, ou fazendo pronunciamentos em baixo calão está representando? O que ele está deixando de representar?” e “Enquanto representante de uma República Federativa tem a obrigação de transcender seu corpo físico, a sua pessoa individual, para encarnar, personificar o que está sendo representado: o Estado democrático de Direito”.
Símbolos e ritos fazem parte da cultura humana desde seus primórdios. O homem, por sua natureza e necessidade de expressão criou e ainda cria atos notáveis nos quais deixa sua marca de racionalidade. Expressão e ação, combinados resultam numa significação de importância que marca determinado momento histórico pessoal ou coletivo. Para além do cumprimento de formalidades legais, constitucionais e regimentais, de assinaturas, de juramento, de faixa, na posse o povo reconhece os eleitos.
O filósofo Ernst Cassirer, definiu o homem como um animal simbólico, ou seja, capaz de criar símbolos. Os ritos presentes nas religiões, por exemplo, demarcam celebrações importantes e únicas na vida dos fiéis. Na vida social, destacam mudanças, passagens, evidenciam a necessária notoriedade de momento, conclamando para o respeito, a reverência.
A onda vermelha presente em Brasília, de apoiadores e eleitores do novo governo, aplaudiu, gritou, emocionou-se com o discurso no parlatório. Lula tocou nas feridas abertas do Brasil, chorou, riu, com seu singular carisma deu esperança ao país. Muitos são os desafios pela frente: acabar com a fome, com a pobreza, com o desmatamento da Amazônia, com o bang bang de armas, tudo isso aparentemente institucionalizado. Investir e valorizar a educação, a pesquisa e a ciência. Trazer de volta a alegria e o sonho para o povo.
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O desafiante futuro. Artigo de Felipe Feijão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU