19 Dezembro 2022
“Sem dúvida, as divisões teológicas estão perdidos entre o Povo de Deus. Mas a Igreja está perigosamente perto de perder ainda mais membros quando afirma – ou parece afirmar – que as mulheres não podem ser a imagem de Cristo – isto é, que as mulheres não são feitas à imagem e semelhança de Deus. Essa não é uma boa posição para o Vaticano. É algo que os assessores e redatores de discursos papais precisam reconhecer, e logo”, escreve a teóloga estadunidense Phyllis Zagano, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 16-12-2022.
O Sínodo sobre Sinodalidade está explodindo ideias por toda a Igreja. Alguns na extrema-direita esperam pelas missas tridentinas. Alguns na extrema-esquerda esperam mudanças na doutrina sobre sexo e gênero. As pessoas do centro só querem mais respeito e melhor reconhecimento das mulheres.
Para surpresa de ninguém, o documento de trabalho para a “fase continental” do sínodo reconheceu as mulheres como a espinha dorsal da Igreja. Também admite que muitas mulheres se sentem diminuídas, negligenciadas e incompreendidas, sintomáticas do clericalismo narcísico que infecta o clero. Muitos relatórios dos sínodos nacionais enviados ao Vaticano pelas conferências episcopais de todo o mundo apresentaram o desejo de que as mulheres estivessem presentes na governança da Igreja, certificadas como pregadoras e no diaconato.
Os comentários recentes do Papa Francisco sobre as mulheres não ajudam. Sim, na aeronave voltando do Bahrein, no início de novembro, ele condenou o tratamento de mulheres como “cidadãs de segunda classe”. Mas, em um discurso de 24 de novembro perante a Comissão Teológica Internacional (27 homens, cinco mulheres), Francisco mirou nas Igrejas dissidentes que ordenam mulheres – ele não fez distinção se como sacerdotisas ou como diáconas – enquanto, ao mesmo tempo, disse que gostaria de aumentar o número de mulheres nessa mesma comissão.
Falando com a revista America, dos jesuítas estadunidenses, alguns dias depois, Francisco usou a teologia de Hans Urs von Balthasar para negar a ideia de mulheres no ministério, embora aprovasse mulheres na gestão.
Von Balthasar, um colaborador próximo de Joseph Ratzinger (o Papa emérito Bento XVI) apresentou dois princípios que colocam as mulheres em seu lugar: o “princípio petrino”, que define o ministério como masculino, e o “princípio mariano”, que define a Igreja como fêmea.
Como Francisco disse aos jornalistas da America: “E por que uma mulher não pode entrar no ministério ordenado? É porque o princípio petrino não tem lugar para isso. Sim, é preciso estar no princípio mariano, o que é mais importante. Mulher é mais, ela se parece mais com a Igreja, que é mãe e esposa. Acredito que muitas vezes falhamos em nossa catequese ao explicar essas coisas”.
No final de seus comentários sobre as mulheres, ele recomendou uma “terceira via”: aumentar o número de mulheres em cargos administrativos, de gestão.
Então é isso. Gestão, mas não ministério.
Exceto.
A teoria petrina é a raiz do chamado argumento da autoridade contra as mulheres sacerdotisas: Jesus escolheu apóstolos homens, e a Igreja está vinculada à sua escolha. Somente os padres podem ter governo e jurisdição; eles são ordenados “in persona Christi capitas ecclesiae” – na pessoa de Cristo, cabeça da Igreja. Isso exclui as mulheres em posições de autoridade genuína.
A surpresa na teoria mariana é que documentos mais antigos dizem que o diaconato é e age “em nome da Igreja”. Portanto, se a Igreja é feminina, os diáconos ordenados devem espelhar esse fato.
Para complicar as coisas, o sacerdócio surgiu cerca de dois séculos depois do diaconato. A história registra mulheres diáconas ordenadas até o século XII, com bispos ordenando mulheres como diáconas usando liturgias muitas vezes idênticas às dos diáconos homens. Os bispos invocaram a confirmação do Espírito Santo e colocaram uma estola no pescoço das ordenadas. Mais importante ainda, os bispos chamaram essas mulheres ordenadas de diáconas.
Por muito tempo, os teólogos discutiram se a ordenação diaconal era um sacramento, mas isso aparentemente foi resolvido pela primeira vez no Concílio de Trento do século XVI. Assim, as mulheres foram ordenadas sacramentalmente como diáconas. Não será necessário um Concílio Vaticano III para reafirmar isso.
Ou será? Ultimamente, a questão da ordenação de mulheres parece restrita aos crescentes pedidos de sacerdócio. Até Francisco usa essa abreviação. Mas a tradição de ordenar mulheres como diáconas poderia ser facilmente restaurada. Bento XVI até mudou a lei canônica em 2009 para enfatizar o fato de que o diaconato não é sacerdócio.
Então, o que é? À medida que o Sínodo sobre a Sinodalidade entra em sua “fase continental”, a maré pode estar se voltando contra as mulheres no ministério. O apelo do documento de trabalho por “um diaconato de mulheres” significa diáconas ordenadas ou algo mais? Se significa outra coisa, por quê? É porque o diácono é ordenado a agir e estar “na pessoa de Cristo, o servo?”. Isso indica um ensino oficial de que as mulheres não podem ter a imagem de Cristo?
Sem dúvida, as divisões teológicas estão perdidos entre o Povo de Deus. Mas a Igreja está perigosamente perto de perder ainda mais membros quando afirma – ou parece afirmar – que as mulheres não podem ser a imagem de Cristo – isto é, que as mulheres não são feitas à imagem e semelhança de Deus. Essa não é uma boa posição para o Vaticano. É algo que os assessores e redatores de discursos papais precisam reconhecer, e logo.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Na discussão sinodal sobre a ordenação de mulheres, o diaconato é negligenciado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU