Nigéria, crianças filhas do Boko Haram mortas pelo exército, a acusação da investigação da Reuters

Foto: Michael Fleshman | Flickr CC

14 Dezembro 2022

Notícia chocante que decorre de outra terrível investigação da Reuters: aquela segundo a qual, sempre na Nigéria, em nome da "pureza de sangue" o exército provocou pelo menos 10 mil abortos sem consentimento. Provocados ao espancar as próprias mulheres que libertavam dos terroristas do Boko Haram que as haviam estuprado anteriormente, até fazer com que perdessem os filhos que carregavam. Em suma, um horror sem fim.

A reportagem é de Anna Lombardi, publicada por La Repubblica, 13-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

O exército nigeriano teria massacrado centenas de crianças - e em alguns casos até suas mães - durante sua guerra contra os fundamentalistas do Boko Haram. É o que afirma uma investigação da Reuters baseada nos testemunhos de pelo menos 44 pessoas, entre militares e civis, que afirmaram ter testemunhado pessoalmente os massacres ou ter visto os cadáveres imediatamente após as ações militares.

Nigéria (Foto: Ukabia | Wikimedia Commons)

Entre eles, há também o testemunho comovente de Yagana Bukar, de apenas 20 anos, sequestrada e violentada pelos terroristas do Boko Haram, que havia conseguido fugir levando consigo seus gêmeos de 4 meses, que os militares em quem ela havia confiado, arrancaram e mataram diante de seus olhos: "Eles os estrangularam dizendo que eram filhos de terroristas".

Matar as crianças, confirmam anonimamente diversos soldados, seria também uma ordem – às vezes explícita, outras vezes menos – que os comandantes do exército têm dado repetidamente, dando a entender que mesmo os menores colaboravam com os milicianos. De quantos episódios estamos falando é impossível dizer. Segundo as fontes, em 13 anos de luta, as crianças mortas seriam até milhares.

A Reuters, com base nos testemunhos confirma "apenas" 60. "Não as vejo como crianças, vejo-as como terroristas... Se puser as mãos sobre elas, lhes cortarei a garganta", confirmou um soldado. Gabando-se, mesmo sabendo que a maioria das crianças são mortas enquanto fogem, baleadas nas costas. E em outros casos são envenenadas pela água dos poços, junto com suas mães. Muitos sabem, mas têm medo de falar, temendo retaliação das autoridades nigerianas.

Os líderes do Exército negam e disseram à Reuters que nunca ordenaram o ataque a crianças, afirmando, aliás, que se sentem "insultados" pela investigação, definida como "parte de um esforço estrangeiro para minar a luta contra o terrorismo". O general Christopher Musa, que lidera a campanha no Nordeste, foi categórico nesse sentido:

“Nunca aconteceu, não está acontecendo, não vai acontecer. Somos profissionais e seres humanos. São acusações inventadas”. Certamente, no nordeste do país - segundo as Nações Unidas - as crianças são cada vez mais atingidas pela violência e sofrem desproporcionalmente as consequências: deslocamentos, detenções ilegais, desnutrição, doenças. O promotor do Tribunal Penal Internacional concluiu em 2020 que havia razões fundamentadas para uma investigação sobre possíveis crimes de guerra e crimes contra a humanidade tanto pelas forças de segurança nigerianas quanto por militantes: mas depois não abriu nenhuma investigação.

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