Caso Rupnik, a segunda investigação que pode esclarecer os abusos do jesuíta-pintor

Rupnik | Foto: VateNews

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

09 Dezembro 2022

Dom Daniele Libanori está em Ljubljana para esclarecer o que aconteceu na comunidade de freiras fundada por uma religiosa ligada ao sacerdote. As conclusões entregues ao Vaticano.

A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 12-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Há duas investigações que giram em torno da figura do padre Marko Rupnik, jesuíta esloveno e mosaicista conhecido em todo o mundo, submetido a algumas "medidas cautelares" depois que surgiram acusações de abuso contra ele – que, no entanto, prescreveram – que ele teria cometido na década de 1990 contra algumas freiras de uma comunidade em Ljubljana. O caso desencadeou um debate animado até mesmo dentro da própria ordem religiosa de origem do Papa Francisco. “Nós, jesuítas, nos identificamos, com mérito e sem mérito, com as fronteiras da fé, da justiça, da caridade, do diálogo, da atenção aos pobres, da pesquisa: no entanto, hoje, com o caso Rupnik, nos apegamos à prescrição e esperamos que tudo possa parar aqui”, escreveu no Twitter o padre Gianfranco Matarazzo, ex-provincial italiano, que fala do caso Rupnik como de um tsunami.

Por sua vez, o atual provincial esloveno, Pe. Miran Zvanuta, que não é superior do padre Rupnik desde que se mudou da Eslovênia há vinte anos, afirma, ao contrário, que as notícias que surgiram nos últimos dias são "bastante infladas e com muita falsidade".

A primeira investigação

Depois que as acusações contra Rupnik apareceram na internet nos últimos dias, os jesuítas explicaram que o dicastério vaticano para a Doutrina da Fé, responsável também por processos canônicos relacionados a abusos sexuais, recebeu uma denúncia em 2021 contra o padre Rupnik “sobre sua forma de exercer o ministério”. Mas “não houve menores envolvidos”, especifica a nota assinada pelo delegado das Casas interprovinciais romanas da Companhia de Jesus, atual superior do padre Rupnik.

O inspetor, externo à ordem

O dicastério, liderado por outro jesuíta, o cardeal espanhol Luis Ladaria, "pediu à Companhia de Jesus para instaurar uma investigação preliminar sobre o caso". Os jesuítas "nomearam imediatamente um instrutor externo (um religioso de outro instituto) para a investigação", portanto não um jesuíta. “Várias pessoas foram convidadas para depor. Depois de ter estudado o resultado dessa investigação”, continua a nota, “o Dicastério para a Doutrina da Fé constatou que os fatos em questão deviam ser considerados prescritos e, por isso, encerrou o caso, no início de outubro deste ano de 2022. Durante a investigação preliminar, várias medidas cautelares foram tomadas contra o padre Rupnik", explica o comunicado: "Proibição do exercício do sacramento da confissão, da direção espiritual e do acompanhamento dos exercícios espirituais. Além disso, o padre Rupnik foi proibido de exercer atividades públicas sem a permissão de seu superior local”.

A nota dos jesuítas especifica: “Essas medidas ainda estão em vigor hoje, como medidas administrativas, mesmo depois da resposta do dicastério para a Doutrina da fé. A Companhia de Jesus leva em séria consideração toda denúncia contra um dos seus membros”, conclui a nota. “A missão da Companhia de Jesus é também uma missão de reconciliação. E queremos acolher a todas e a todos de forma aberta”.

Acusações consideradas suficientemente provadas

Os abusos nunca são citados expressamente, mas da nota transparece que, no quadro do acompanhamento espiritual (que, não por acaso, lhe é agora proibido), o Padre Rupnik é acusado de abusos contra uma ou mais pessoas adultas ("Não houve menores envolvidos"), que teriam ocorrido numa época bastante distante que os leva à prescrição, mas evidentemente foram considerados suficientemente comprovados para induzir a Companhia de Jesus a confirmar as medidas cautelares mesmo após a conclusão da investigação. Investigação decidida pelo Vaticano e realizada pelos jesuítas, por meio de um religioso não jesuíta que, entretanto, não representa o ponto final da história.

A visita à Eslovênia

Os abusos em questão – seriam abusos de consciência e, em alguns casos, abusos sexuais – teriam ocorrido na década de 1990 na Comunidade Loyola de Ljubljana, capital da Eslovênia. Comunidade feminina, de espiritualidade inaciana, fundada – conforme reconstrução da revista Left - por uma freira ligada ao padre Rupnik, Ivanka Hosta, onde o jesuíta, pelo menos no início, teria convivido. Comunidade onde hoje haveria muitas recriminações e desavenças.

Tanto que o Vaticano, pelo que se averiguou, enviou algum tempo atrás outro jesuíta, Daniele Libanori, bispo auxiliar de Roma, homem conhecido por sua firmeza, para realizar uma segunda investigação. Para esclarecer o presente e, provavelmente, o passado, estabelecer a verdade fazendo justiça, reconciliar os ânimos. Uma missão particularmente árdua porque a comunidade estaria dividida internamente entre religiosas que continuam a venerar a figura da fundadora e religiosas que a contestam. E, novamente, entre aquelas que acreditam nas acusações contra o padre Rupnik e aquelas que não acreditam. Libanori concluiu sua visita e entregou suas conclusões, estritamente confidenciais, aos escritórios vaticanos competentes, que agora terão que tomar as decisões apropriadas e esclarecer todo o caso.

Leia mais