18 Novembro 2022
Dirigentes dos estados compreendidos na floresta tropical brasileira entregam a Lula esta semana uma carta com pedidos para seus próximos mandatos.
A reportagem é de Cristiane Prizibisczki, publicada por ((o))eco, 14-11-2022.
Presentes em evento da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP27), governadores de cinco estados da Amazônia Legal, reeleitos no pleito de outubro, garantiram que farão todos os esforços para manter a floresta em pé, mas sem deixar de lado a produção econômica na região, o que inclui o agronegócio, a pecuária e a mineração.
Gladson Cameli (AC), Mauro Mendes (MT), Helder Barbalho (PA), Wanderlei Barbosa (TO) e Marcos Rocha (RO) participaram de debate sobre a cooperação internacional para desenvolvimento da região amazônica, no pavilhão montado pelo Consórcio Interestadual da Amazônia Legal.
“Nós não pensamos na lógica que a proposta de solução e contribuição da nossa região ao Brasil envolva ter que, por exemplo, o Mato Grosso deixar de ser o maior produtor de alimentos do Brasil para ser protagonista da pauta de reflorestamento. Entendemos que é possível conciliar [preservação com atividade econômica]”, disse o governador do Pará.
Em outro momento, Helder Barbalho usou o exemplo das queimadas para reforçar a ideia da sustentabilidade aliada a produções econômicas notadamente destrutivas.
“Nós precisamos de uma solução para acabar com as queimadas na Amazônia que passe pela apresentação de um novo modelo de desenvolvimento, que possa conciliar o agro, a mineração, que possa ter a floresta em pé como um ativo econômico, seja para monetização da floresta, para a bioeconomia ou outras oportunidades que floresta pode trazer”, disse.
O Pará é o estado que há 16 anos aparece no topo da lista de maiores desmatadores do bioma. Somente em 2021, foram desmatados nesta unidade da federação 5,2 milhões de km² de floresta.
Mauro Mendes, governador do Mato Grosso, reforçou a fala de Barbalho e criticou os recentes embargos prometidos pela União Europeia a produtos ligados ao desflorestamento.
“O que nós queremos é sermos tratados com respeito pela importância econômica que nós temos, queremos que parem de nos ameaçar com embargos, porque isso é uma grande balela”, disse.
O Mato Grosso é o estado com a maior participação na produção de alimentos dentro do bioma Amazônico. Ele também é responsável por 17% do que foi desmatado no bioma em 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Somente no ano passado, foram desmatados nesta unidade da federação mais de 2 mil km² de floresta.
Os governadores presentes na COP-27 devem entregar ao presidente eleito Lula uma carta com as demandas dos estados. Segundo Helder Barbalho, o documento é uma declaração de que os mandatários dos estados subnacionais na Amazônia são “aliados” do governo federal na agenda socioambiental.
Segundo os governadores, a proposta de trabalho deles para os próximos anos está baseada em um tripé formado por fiscalização, monitoramento e controle; regularização fundiária e ambiental e produção econômica que passa pela monetização da floresta em pé.
“A Amazônia tem grande importância dentro do cenário brasileiro e internacional e queremos discutir em um outro tom, de respeito ao nosso país, sobre pagamentos ambientais, a relação comercial e valorização da floresta que nós já mantemos em pé. Essa carta traz uma proposta de uma visão desse novo momento que o Brasil vai viver. Preservar nós queremos, mas queremos também que o povo amazônida possa continuar crescendo e se desenvolvendo”, sintetizou Mauro Mendes.
Lula chegou a Sharm-el-Sheikh na terça-feira (15). O presidente eleito tem agenda pública na quarta-feira e deve se encontrar com os governadores do Consórcio na quinta.
Esta reportagem foi produzida como parte do Climate Change Media Partnership 2022, uma bolsa de jornalismo promovida pela Internews Earth Journalism Network e pelo Stanley Center for Peace and Security.
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Governadores da Amazônia querem conciliar sustentabilidade com agro e mineração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU