02 Setembro 2022
Monsenhor Delpini respondeu assim sobre o motivo pelo qual Bergoglio não o indicou como cardeal, preferindo Oscar Cantoni, chefe de uma diocese sufragânea da metrópole ambrosiana: "O seu time nunca ganhou nada, todo mundo sabe que o Scudetto é da Milan. E também deve ter pensado que aqueles metidos de Milão nem sabem onde fica Roma”. Depois ficou sério: "Acho que há boas razões".
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 01-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por que Francisco nomeou como cardeal o bispo de Como e não o arcebispo de Milão? "O Papa torce pelo River (na verdade ele torce pelo São Lourenço, ndr) que nunca ganhou nada, e por isso ele pensou que o pessoal de Como poderia estar um pouco mais afinado porque todos sabem que o Scudetto vai ficar em Milão". Foi assim que o arcebispo de Milão, Monsenhor Mario Delpini, respondeu a quem se pergunta por que Bergoglio não o nomeou cardeal, como aconteceu com todos os seus antecessores, no consistório de 27 de agosto de 2022 na Basílica Vaticana, preferindo Oscar Cantoni, o bispo de Como, uma diocese sufragânea da metrópole ambrosiana.
No dia 31 de agosto, no final do solene pontifical presidido pelo novo cardeal na Catedral de Como para a solenidade de Sant'Abbondio, padroeiro da cidade e da diocese, Monsenhor Delpini tomou a palavra diante de todos os cardeais e os bispos presentes, para dirigir, como presidente da Conferência Episcopal da Lombardia, seus melhores votos a Cantoni. Palavras, no entanto, pontuadas por inúmeras piadas irreverentes ao Papa.
"Estou realmente impressionado - afirmou D. Delpini - com esta celebração, da participação tão coral, tão festiva, da organização, da presença das autoridades, das forças de ordem. Estou realmente admirado. Talvez ainda haja espaço para melhorias para manter as velas do altar acesas, no entanto, para o resto, digamos que estou realmente admirado por isso. Falo em nome da Conferência Episcopal Lombarda, de todas as nossas Igrejas, para transmitir nossos votos, o afeto com que este evento nos brindou e creio que é uma forma de intensificar a relação de afeto com o Santo Padre, o Papa Francisco, que escolhe os cardeais para serem colaboradores próximos, conselheiros atentos do seu serviço à Igreja universal. Por isso, quero ser a voz de todos os bispos lombardos, mesmo daqueles que não puderam estar presentes hoje, para expressar nosso afeto ao Santo Padre, a gratidão e desejar que seu serviço possa ser verdadeiramente de ajuda ao Santo Padre”.
O arcebispo de Milão acrescentou: “Também houve algumas pessoas mais descaradas que se perguntavam por que o Papa não escolheu o metropolita para ser cardeal e, em vez disso, escolheu o bispo de Como. Ora, acredito que há boas razões para isso. É claro que interpretar o pensamento do Santo Padre é sempre um pouco difícil, porque talvez vocês se lembrem daquela expressão máxima da sabedoria antiga que dizia: 'Há três coisas que nem mesmo o Pai Eterno sabe: uma é quantas sejam as congregações de freiras, a outra é quanto dinheiro tem não sei qual comunidade de religiosos (os salesianos, ndr) e a outra é o que pensam os jesuítas (o papa é jesuíta, ndr)'. Mas nesta escolha parece-me que se revela claramente a sabedoria do Santo Padre”.
“Por que – continuou D. Delpini – escolheu o bispo de Como para ser seu conselheiro particular? Encontrei pelo menos três razões. A primeira é que o Papa deve ter pensado que o arcebispo de Milão já tem muito a fazer, está sobrecarregado de trabalho e, portanto, pensou em dar a você também algum trabalho. A segunda razão: o Papa provavelmente pensou: 'Aqueles metidos de Milão nem sabem onde fica Roma, então é melhor que eu não os envolva demais nos assuntos do governo da Igreja universal'. Talvez haja também uma terceira razão pela qual ele fez essa escolha que, se bem me lembro, o Papa é um torcedor do River, que nunca ganhou nada, e por isso ele pensou que o pessoal de Como poderia estar um pouco mais afinado porque todos sabem que o Scudetto vai ficar em Milão”.
“Contudo – concluiu D. Delpini – esses três sábios pensamentos do Santo Padre transmitem também um desejo um pouco mais sério, ou seja: trabalhe. Eis que o Papa nos pede, em particular aos cardeais, que se dediquem sem reservas, que trabalhem pela Igreja, que sirvam a Igreja como você disse até ao sangue, ou seja, uma dedicação que não se poupa, trabalha, trabalha pela Igreja.
É o segundo voto é a Igreja universal. Cada um de nós por força das circunstâncias se concentra muito em sua diocese, mas chamá-lo para ser um cardeal significa que esse amor pela Igreja deve chegar a todos os lugares, deve se preocupar com todas as situações dramáticas em que os cristãos são perseguidos, em todos os lugares onde a fé se extingue, é isso, tenha no coração a fé universal.
E a terceira coisa sobre os times de futebol. Aqui me parece que o Papa está sugerindo: 'Você torce pelos perdedores. Está do lado dos mais frágeis, dos que perdem'. Esse é o desejo que eu quero lhe transmitir. Ele pede para você trabalhar, trabalhar muito. Mas gostaria de concluir dizendo que se por acaso Roma lhe pede para trabalhar demais, na minha opinião você poderia me ceder algum vale daquela sua diocese que vai lhe poupar um pouco de trabalho”.
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O arcebispo de Milão, que não é cardeal, ironizando a nomeação do novo cardeal: “Ninguém sabe o que pensam os jesuítas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU