A oração de Delpini, novo arcebispo de Milão e “padre normal”

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26 Julho 2017

“Para anunciar que a terra está cheia da glória de Deus. Nesta morte apoia-se quem vive”: esse é o título escolhido pelo novo arcebispo de Milão, Mario Delpini, para o santinho ilustrado com a Pietà Rondanini que contém a oração escrita para a Igreja ambrosiana. 

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 25-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Concede à nossa Igreja ser livre, alegre, unida – afirma o texto – para não se curvar sobre os seus medos e sobre as suas pobrezas, e arder do desejo de compartilhar a alegria do Evangelho. Pai nosso que estás nos céus, seja feita a tua vontade: manifesta também na vida e nas palavras da nossa Igreja e do seu bispo o teu desejo de que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome: o amor que une os teus discípulos, a sabedoria e a fortaleza do Espírito, a audácia de construir uma convivência fraterna tornem intensa a alegria, corajoso o caminho, límpido o testemunho para anunciar que a terra está cheia da tua glória.”

Enquanto isso, já chegou às livrarias um primeiro perfil do sucessor Angelo Scola: intitula-se Mario Delpini. La vita, le idee e le parole del nuovo arcivescovo di Milano [Mario Delpini. A vida, as ideias e as palavras do novo arcebispo de Milão].

Foi escrito pelo vaticanista do La Repubblica, Paolo Rodari (edições Piemme), e, em 166 páginas, condensa notas biográficas, a recordação de amigos e conhecidos, testemunhos variados e, especialmente, uma coleção de escritos, homilias e poesias.

Um manual para conhecer mais de perto aquele sobre o qual recaiu, não sem surpresa, a escolha do Papa Francisco, que, ao nomear Delpini, quis que o caminho da Igreja ambrosiana fosse marcado pela continuidade com os antecessores e, ao mesmo tempo, com a originalidade de quem sempre se apresentou – como recorda Rodari – como “um padre normal”, a mil milhas de distância do estereótipo do padre-empresário, pouco preocupado com as estruturas e a organização, totalmente concentrado no essencial.

O livro de Rodari também é um bom antídoto para evitar o risco de reduzir a figura do novo arcebispo a alguns slogans e à imagem do bispo que anda de bicicleta. Não é por isso que ele foi escolhido.

As razões foram elencadas, de algum modo, no dia do anúncio da nomeação, 7 de julho passado, pelo cardeal Angelo Scola: profunda espiritualidade, pobreza, capacidade de governo, capacidade de diálogo e proximidade com os padres.

Annamaria Braccini, em um perfil do novo bispo ambrosiano publicado no site da diocese e referido também no livro, escreveu que Delpini é um homem que “não dá descontos sobre as coisas que importam, justamente, que não podem ser barateadas, sobre as verdades da fé , sobre a relação com o Senhor, mas compreende a vida nada fácil que vivem tantas mulheres e homens na sociedade de hoje, equilibristas na corda bamba entre trabalho, família, compromissos, responsabilidades que ‘esmagam’”.

As páginas mais bonitas e mais úteis do trabalho de Rodari (que tinha entrevistado Delpini às vésperas da chegada de Francisco a Milão, e, a partir daquele texto, reproduzido no início do livro, emerge bem a sintonia de olhar com o papa) são aquelas em que são reunidos e sintetizados escritos e homilias do novo arcebispo.

Em 2010, por exemplo, Delpini proferiu uma palestra sobre o sacerdócio, fruto dos seus anos transcorridos como sacerdote perto dos seminaristas e dos coirmãos. Para ele, falar do sacerdócio é simples, mas, ao mesmo tempo, “embaraçoso”. Porque um padre “se apresenta na ponta dos pés, quase envergonhado de ter que falar de si. Um homem, de fato, tornar-se padre para falar de Jesus, para fazer memória de Jesus, para levar no coração que as pessoas do seu tempo vivam da memória de Jesus: é, portanto, embaraçoso que um padre deve falar do padre”.

E é embaraçoso também porque, sobre o padre, todos se sentem no direito de falar, e, depois, porque, em todo o caso, sobre o padre, fala a sua vida. Na realidade, “está diante dos olhos de todos, está exposta ao público, a sua vida é um espetáculo: de fato, eu considero que Deus colocou a nós, os apóstolos, no último lugar, como condenados à morte, porque nos tornamos espetáculo ao mundo, aos anjos, aos homens”.

Não é difícil imaginar que, justamente porque a vida do Pe. Mario Delpini estava realmente “diante dos olhos de todos”, ele também acabou diante dos olhos daquele que decidiu lhe confiar a liderança da maior diocese da Europa.

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