31 Agosto 2022
Para o mundo eclesial e, em particular, para a Conferência Episcopal (CEI), a brevidade do confronto eleitoral é uma justificativa fácil para permanecer à margem da disputa. A nova presidência do cardeal Matteo Zuppi pode conter mais facilmente os impulsos opostos. E valorizar melhor as sintonias.
O artigo é de Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, publicado por Settimana News, 30-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há uma opinião geral positiva sobre o governo de Mario Draghi e sobre os resultados de sua ação tanto em relação à pandemia e à crise econômica quanto à clareza do posicionamento internacional (Europa, OTAN). É fácil convergir sobre o pedido de continuidade, especialmente no que diz respeito ao Plano de Recuperação. Daí um juízo crítico, embora não público, em relação aos responsáveis pela crise política. Um segundo ponto de concordância é a legitimidade produzida pelo voto popular. Uma eventual maioria de direita não será deslegitimada, mesmo no caso de críticas pontuais e previsíveis.
Pouca atenção é dada aos programas eleitorais, que são em sua maioria considerados retóricos. Além disso, exceto as biografias individuais de parlamentares e ministros, já se consolidou um certo "distanciamento" em relação ao pessoal político. E uma reconhecida "autonomia" também sobre assuntos delicados.
Permanece a irritação pelo uso instrumental e exibicionista de símbolos religiosos e referências de fé pelos representantes dos partidos e das coalizões.
É possível que tenha havido um convite do papa para não tomar partido, mas a escolha é compartilhada por um corpo episcopal que evita dar publicidade aos conflitos. Uma atitude que não diz respeito apenas aos bispos, mas à comunidade como um todo. Na síntese depois do primeiro ano do Sínodo da Igreja italiana (18 de agosto), o tema da política e das instituições é muito marginal, com algumas notas autocríticas: "Cuidado da casa comum, diálogo intergeracional, encontro entre diferentes culturas, crise da família, justiça, política, economia, estilos de vida, paz e desarmamento... A comunidade cristã é chamada a dar a sua opinião, mas muitas vezes aparece sem voz, fechada, crítica, fragmentada e pouco competente”.
O efeito soporífero relativiza o que resta do debate entre aqueles que perseguem a identidade pública dos crentes na política, aqueles que convidam a se confundir nos partidos e aqueles que defendem alguma transversalidade. Certa preguiça não permite que as comunidades cristãs ignorem posições já publicamente expostas e, em perspectiva, geradoras de divisão. Entre eles: uma abordagem positiva da imigração, o consenso às propostas de lei sobre o ius soli ou ius scholae para os filhos de estrangeiros nascidos na Itália.
O mesmo vale para a atenção ao tema ambiental (a encíclica Laudato si') e à solidariedade internacional (Fratelli tutti). Permanece uma preocupação não residual não só em relação à tradição mais relevante do papel dos católicos ao longo do século XX, mas também pela convicção de uma obrigatória e necessária contribuição para o futuro do país.
A igreja não poderia absolver-se do possível naufrágio do Estado e da convivência civil. Evidentes demais na maioria das forças políticas a ausência de consciência institucional, a ruína das finanças públicas, uma concepção de tipo clã dos partidos, a remoção retórica dos graves riscos internos e externos da Itália. As frentes das crises continuam todas ativas: pandemia, guerra, fragilidade industrial, programas energéticos e ambientais, saúde pública, inovação tecnológica, políticas fiscais e industriais, urgência demográfica etc.
Em uma perspectiva a curto prazo, algumas palavras seriam úteis: a defesa da política, o reconhecimento da crise da democracia, a urgência da paz, o posicionamento internacional do país, uma nova linguagem no confronto civil e a conscientização do papel que não pode ser delegado da igreja para o futuro do país. Vou retomar duas citações de Settimananews. “A busca de uma via atenta ao respeito do pluralismo ético e ao mesmo tempo capaz de sugerir uma comunidade ética significativa é a grande missão do mundo católico neste tempo” (Stefano Zamagni).
"Talvez, especialmente o ‘mundo católico’, com sua perspectiva histórica e sua cultura institucional e transversal, possa prestar um enorme serviço ao país, facilitando o surgimento de propostas que não sejam fáceis atalhos - que alguns agora temem inevitáveis, na Itália e em outros lugares - para as democracias presidencialistas, mas representem uma responsabilização plena dos fatores da crise política italiana: lei eleitoral, financiamento e o papel dos partidos, forma de governo” (Giuseppe Boschini).
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O silêncio da igreja na campanha eleitoral italiana é cheio de mensagens - Instituto Humanitas Unisinos - IHU