Por: Jonas Jorge da Silva | 16 Agosto 2022
“É possível mitigar os impactos da crise hídrica com obras e ações emergenciais, mas não revertê-la”, diagnosticou Ana Paula Cunha, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais - Cemaden, durante debate intitulado Emergência climática e crise hídrica em território brasileiro.
Para a pesquisadora, “a seca não é reversível, não temos controle sobre o clima. Podemos ter controle sobre os eventos extremos climáticos, se controlarmos as emissões, mas isso é um resultado para o futuro, porque os gases permanecem na atmosfera por muitos anos. Então, continuaremos tendo secas recorrentes, enquanto não houver essa redução significativa do efeito estufa”.
Sua intervenção ocorreu durante o quinto encontro pela série de debates [online] Brasil: emergências socioambientais e horizontes políticos, no último dia 13 de agosto, em iniciativa promovida pelo CEPAT, com a parceria e o apoio de diversas instituições: Instituto Humanitas Unisinos - IHU, Núcleo de Direitos Humanos da PUCPR, Conselho Nacional do Laicato do Brasil - CNLB, Observatório Nacional Luciano Mendes de Almeida – OLMA e Departamento de Ciências Sociais, da Universidade Estadual de Maringá.
Profa. Dra. Ana Paula Cunha, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais - Cemaden, durante debate do CEPAT: "Emergência climática e crise hídrica em território brasileiro"
Durante toda a sua exposição, Cunha foi muito enfática a respeito da participação do ser humano no processo de aquecimento global, já que “as mudanças observadas no clima da Terra, desde meados do século XX, são impulsionadas pelas atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis, que aumenta os níveis de gases do efeito estufa na atmosfera terrestre, elevando a temperatura média da superfície da Terra”.
Nesse sentido, reiterou o que vem sendo constatado pelos cientistas, de que a Terra está aquecendo a um ritmo sem precedentes, e elencou alguns fatores que evidenciam a emergência climática:
- O aumento da temperatura global, considerando que a maior parte do aquecimento ocorreu nos últimos 40 anos, sendo os sete anos mais recentes os mais quentes. Além disso, 2016 e 2020 estão empatados como os mais quentes já registrados;
- O encolhimento dos mantos de gelo;
- O recuo de geleiras;
- A diminuição da cobertura de neve;
- O declínio do gelo do Oceano Ártico;
- Os eventos extremos;
Tendo em conta essas evidências, Ana Paula Cunha também elencou, em quatro pontos, como as mudanças climáticas podem afetar os riscos de desastres naturais:
1. Com o aumento das temperaturas da superfície global, é provável que ocorram mais secas e maior intensidade de tempestades;
2. À medida que mais vapor de água é evaporado na atmosfera, torna-se combustível para o desenvolvimento de tempestades mais poderosas.
3. Mais calor na atmosfera e temperaturas da superfície do oceano mais quentes podem levar ao aumento da velocidade do vento em tempestades tropicais.
4. A atmosfera contendo mais energia pode levar à ocorrência de mais eventos extremos.
Diante do eixo de discussão proposto, com uma série de gráficos e projeções, Cunha destacou como as mudanças climáticas em curso impactam sobre os recursos hídricos. Por serem generalizadas, rápidas e intensas, as mudanças climáticas desafiam nossas sociedades a buscarem estratégias de adaptação e resiliência em favor da segurança hídrica.
Nessa direção, “no Brasil, desde 2013, o setor de recursos hídricos tem pensado estratégias de adaptação às mudanças climáticas dentro do escopo do Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas”, lembrou Cunha. “Apesar do nível de incerteza sobre os impactos das mudanças climáticas, é possível adaptar-se e algum nível de adaptação pode garantir maior resiliência ao sistema”, avaliou.
Jonas Jorge da Silva, do CEPAT, e a Profa. Dra. Ana Paula Cunha, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais - Cemaden, durante o debate do CEPAT: "Emergência climática e crise hídrica em território brasileiro"
Para a pesquisadora, partindo da compreensão de que as diversas regiões do Brasil estão submersas na era dos eventos climáticos extremos, é fundamental encarar a realidade da seca como um desastre que precisa ser monitorado, pois representa uma ameaça para toda a sociedade, atingindo populações vulneráveis e provocando grandes perdas econômicas. Além disso, considerando que a água não é um recurso infinito, é preciso investir em tecnologias que evitem o seu desperdício.
Infelizmente, no Brasil, as políticas implementadas ainda estão muito concentradas em atender aos impactos de pós-desastres. No 'novo normal' dos eventos climáticos extremos, é crucial estabelecer estratégias e planos de antecipação, mitigação e adaptação às secas. Para esta finalidade, cada vez ganha mais importância a construção de pontes entre as instâncias da ciência, da tomada de decisões e da cidadania, em favor de políticas públicas eficientes e atentas às novas ameaças.
Há muitas incertezas em relação ao futuro imediato da disponibilidade hídrica. Cada dia mais, aprender a conviver com os eventos climáticos extremos será o 'novo normal'.
Abaixo, disponibilizamos a íntegra da exposição e debate.
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“É possível mitigar os impactos da crise hídrica, mas a seca não é reversível” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU