07 Julho 2022
As discordâncias dentro do concílio australiano ecoam as tensões do catolicismo global.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 06-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
As tensões no Concílio Plenário da Austrália explodiram depois que as moções sobre o papel das mulheres não conseguiram obter a maioria e várias delegadas fizeram silêncio em forma de protestos no salão da assembleia.
Uma moção que incluía uma resolução para considerar as diáconas, caso o Papa Francisco autorizasse tal medida, foi aceita pela maioria dos 277 delegados, mas não foi aprovada depois que não se alcançou a maioria necessária entre os bispos.
De acordo com as regras do concílio plenário, todas as moções exigem uma maioria de dois terços dos delegados e bispos. Os membros do concílio têm um voto “consultivo” e os bispos um voto “deliberativo”.
Os resultados da votação causaram aborrecimento entre muitos delegados e delegadas, que ficaram reunidos em silêncio em um canto da sala de assembleia para expressar seus sentimentos.
Os procedimentos foram suspensos quando os bispos realizaram conversas de emergência para encontrar uma resolução. Após as negociações, o concílio anunciou que os membros agora reconsiderarão as moções que não foram aprovadas e formaram uma comissão de redação de quatro pessoas para apresentar um novo texto que será então apresentado aos membros.
“Ontem eu me senti extremamente triste porque foram algumas mulheres que falaram contra o aprimoramento dos papéis das mulheres na Igreja”, disse ao The Tablet a irmã Patty Fawkner, superior das Irmãs do Bom Samaritano, a primeira congregação religiosa, fundada na Austrália.
“A participação das mulheres nas estruturas de liderança e governança não deve necessariamente ser equiparada ao desejo de ordenação ao sacerdócio”.
Mas ela acrescentou: “Sinto-me esperançosa, no entanto, porque os procedimentos pararam, paramos, ouvimos e reconhecemos que não poderíamos deixar este concílio plenário sem dizer algo sobre os papéis das mulheres no governo da Igreja”.
Uma moção separada, que pedia que as mulheres “participem de ministérios e funções que sejam estáveis, publicamente reconhecidos, dotados de formação apropriada, incluindo educação teológica e comissionados pelo bispo”, também não alcançou a maioria entre os delegados e os bispos.
Embora nenhuma razão tenha sido dada por que as pessoas votaram contra esta moção, um delegado disse ao The Tablet que vários sentiram que a redação da moção não refletia adequadamente o trabalho que as mulheres já estão fazendo na Igreja e seu sentimento de exclusão.
As divergências dentro do concílio da Austrália ecoam as tensões dentro do catolicismo global que surgiram durante o processo sinodal.
O desejo de Francisco por uma Igreja sinodal ainda está em seus estágios iniciais e, de certa forma, o processo na Austrália, o primeiro desse tipo no país, reflete isso. Alguns dentro da sala do concílio estão esperançosos de que as tensões desencadeadas hoje ajudem a aprofundar o processo de discernimento.
Dom Greg Homeming, bispo carmelita da Diocese de Lismore, amplamente respeitado por sua liderança espiritual, disse que a humildade era crucial.
“Todos têm a responsabilidade de dizer o que pensam, mas assim que o dizem, devem deixar de lado, caso não seja o que Deus pensa”, disse o bispo ao The Tablet. “A única maneira é a sinodal porque a Igreja não pode mais ser autocrática”.
A questão das diáconas é uma que tem feito parte da conversa católica depois que o Papa ordenou uma comissão sobre o tema em 2016.
Após o Sínodo Pan-Amazônico de 2019, onde o tema foi mais uma vez levantado pelos participantes, ele reconstituiu a comissão.
Em toda a Igreja global, as discussões sinodais sobre o papel das mulheres foram levantadas como um tópico de destaque pelos católicos comuns.
Mas a questão da ordenação de mulheres, seja como diáconas ou para o sacerdócio, é altamente sensível e ferozmente combatida por alguns, dada a decisão do Papa João Paulo II contra a ordenação feminina, algo que ele disse que deve ser mantido definitivamente. O diaconato, que é um ofício distinto do sacerdócio, está sendo solicitado por mulheres e outros em lugares como a Amazônia e a Austrália como forma de reforçar a presença da Igreja onde há uma grave escassez de sacerdotes.
Um concílio plenário é a mais alta forma de reunião de uma Igreja local e tem autoridade para emitir decretos obrigatórios, desde que sejam assinados pelos bispos e pela Santa Sé.
O Concílio Plenário da Austrália começou em 2016 e é considerado um dos principais exemplos de um movimento em direção a uma Igreja sinodal no mundo de língua inglesa. Um conjunto inicial de moções sobre a direção-geral da Igreja, uma resposta aos escândalos de abuso e tentativas de incluir melhor os aborígenes e os nativos do Estreito de Torres foram aprovados na terça-feira, 5 de julho. A assembleia deve ser encerrada em 9 de julho.
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Austrália. Concílio plenário em conflito sobre o papel das mulheres na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU