"A realidade é que na Nigéria às vezes é um risco ir à missa ao domingo. As festivas assembleias litúrgicas, que os cristãos africanos animam com seu espírito intenso e particular, tornam-se lugares de repentinas violências. Violências covardes, porque se dirigem contra um povo em oração, desarmado e nada agressivo. Infelizmente, isso acontece em muitas partes do mundo", escreve o historiador da Igreja italiano Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio e ex-ministro italiano, em artigo publicado por Corriere della Sera, 06-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pentecostes de sangue em um estado no sudoeste da Nigéria, na cidade de Owo, na igreja católica de São Francisco Xavier: no final da missa dominical lotada de fiéis, geralmente festiva e acompanhada de muitos cânticos, um grupo armado entrou, atirando e jogando bombas. A festa de Pentecostes, quando os cristãos celebram o dom do Espírito Santo, foi marcada por um súbito ataque terrorista, que pegou de surpresa católicos indefesos em oração. Há pelo menos cinquenta mortos, incluindo várias crianças. O número de feridos é desconhecido. Os terroristas fugiram sequestrando alguns católicos. O atentado ainda não foi reivindicado.
Owo, uma cidade de mais de 200.000 habitantes, está localizada no estado de Ondo, habitado principalmente por iorubás, uma população que desde o século XIX se converteu ao cristianismo do animismo. Os iorubás são cerca de 40 milhões que, além da Nigéria, estão espalhados pelos vizinhos Benin, Togo e Serra Leoa. No passado houve violência entre os Fulanis (chamados peul em francês), dedicados ao pastoreio, e os agricultores permanentes, porque a desertificação empurra os pastores para o sul em busca de alimento para os rebanhos. Os Fulanis, em algumas partes da África Ocidental em contato próximo com o islamismo radical, historicamente desempenharam um papel importante na disseminação do Islã na região.
Mapa da Nigéria. (Imagem: Wikimedia Commons)
A organização que representa os Iourubás disse que o atentado é dirigido contra eles e ao governador do estado que protege seus interesses. O governador, por sua vez, recomendou calma, pedindo para não fazer justiça pelas próprias mãos. No entanto, é provável que se trate de uma organização terrorista de inspiração islâmica. O bispo de Ondo fez um apelo para a calma e para continuar a rezar pela paz.
O estado de tensão é forte, porque há crescente violência no país fomentada por grupos armados e terroristas que atacam cristãos. Há uma semana, o chefe da Igreja Metodista da Nigéria foi sequestrado com dois pastores no sudeste do país. Sua libertação ocorreu graças ao pagamento de resgate. Há duas semanas, dois padres católicos foram sequestrados em Katsina, no norte do país, de onde vem o presidente Buhari (muçulmano): sua libertação ainda é aguardada. A situação da violência anticristã do Norte, onde é parcialmente endêmica, está se radicando também no sul da Nigéria: agora os sequestros e atentados acontecem em muitas regiões deste imenso país (53% muçulmano, 46% cristão, dos quais 11% católicos).
O sentimento das comunidades cristãs (católicas, mas também anglicanas e protestantes) é que o terrorismo contra os cristãos não é efetivamente perseguido pelas autoridades centrais e regionais, pelo contrário, está agora se desenvolvendo num quadro de quase impunidade. Boko Haram, os grupos do Estado Islâmico, bandos terroristas e criminosos, tornam a vida insegura em um entrelaçamento de motivações religiosas e étnicas. Os cristãos se sentem pouco seguros diante do governo federal, onde é forte a presença de muçulmanos e nigerianos do Norte. Tradicionalmente o governo baseava-se num equilíbrio entre as componentes islâmica e cristã, mas também o Norte e o Sul do país, garantindo os diferentes grupos da população.
A Santa Sé acompanha com preocupação a situação nigeriana, onde a paz religiosa entre cristãos e muçulmanos é preciosa para a estabilidade do país e da África. O Papa Francisco, no último consistório, nomeou um cardeal nigeriano, Peter Okpaleke, rejeitado pelos padres e fiéis de uma diocese por pertencer a um grupo étnico diferente daquele majoritário. Bergoglio, com sua nomeação, quis dar um sinal de que a Igreja deve superar essa lógica.
A realidade é que na Nigéria às vezes é um risco ir à missa ao domingo. As festivas assembleias litúrgicas, que os cristãos africanos animam com seu espírito intenso e particular, tornam-se lugares de repentinas violências. Violências covardes, porque se dirigem contra um povo em oração, desarmado e nada agressivo. Infelizmente, isso acontece em muitas partes do mundo: do Egito ao Paquistão ou outros países, onde cristãos indefesos são atingidos. Na missa celebrada em Owo, como em todas aquelas dessa festa, o padre vestia roupas litúrgicas vermelhas. São as mesmas que a Igreja usa nas memórias dos mártires. De fato, as vítimas deste sangrento Pentecostes na Nigéria são mártires desconhecidos de uma perseguição que não cessa.