16 Mai 2022
De todas as notícias de guerra, muitas das quais de brutalidade infernal, esta dos cadáveres de soldados russos deixados no chão como latas vazias, e não reivindicados por Moscou, talvez seja a mais cruel. Se não houvesse numerosos testemunhos diretos, de muitas fontes diferentes, seria difícil acreditar que tal traição aos próprios filhos pudesse realmente ser realizada. Porque é disso que se trata: garotos de vinte anos enviados para morrer pelos seus pais e esquecidos na poeira e na lama. Levar de volta aqueles corpos para casa e entregá-los às suas famílias significaria admitir que os mortos russos são muitos milhares, talvez dez vezes mais do que os números oficiais.
A reportagem é de Michele Serra, publicada por La Repubblica, 15-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O cuidado dos mortos é tão antigo quanto a civilização humana. Expressa piedade por aqueles que abandonam a vida e, ao mesmo tempo, contém a esperança de que a jornada continue em outro mundo.
Especialmente por esta razão em todas as culturas as práticas funerárias são tão precisas: é uma longa jornada, e tudo dever estar em ordem.
(Fonte: Reprodução Facebook Volodymyr Zelensky)
Especialmente para quem tem fé, ou diz ter fé, deixar um cadáver para os corvos e os ratos é um sacrilégio. Será que o Patriarca Kirill tem algo a dizer sobre isso, admitindo que ele encontre tempo, entre uma bênção da guerra "em defesa dos valores tradicionais" e uma maldição do Ocidente corrupto, para finalmente ser padre e lembrar de levar os sacramentos aos mortos, e dar-lhes sepultura.
Porque aqueles cadáveres abandonados inevitavelmente fazem pensar que aos líderes da Rússia os valores tradicionais não importam minimamente. Paradoxal que caiba a nós, não crentes, lembrar o patriarca de sua função.
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