09 Mai 2022
No dia 3 de maio, o bispo de Trier, Stephan Ackermann, suspendeu o processo diocesano de canonização do fundador do movimento de Schönstatt, pe. Joseph Kentenich (1885-1968) no aguardo de que as acusações contra ele sobre abusos contra suas irmãs religiosas sejam totalmente esclarecidas. Não se trata, portanto, de um juízo sobre a pessoa ou mesmo sobre a obra, mas sim de uma decisão prudencial após as recentes pesquisas históricas a seu respeito.
A reportagem é de Lorenzo Prezzi, publicada por Settimana News, 07-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em julho de 2020, foi publicado um ensaio da historiadora Alexandra von Teuffenbach, denunciando comportamentos impróprios de Kentenich em relação às freiras de sua fundação. Testemunhados pelos documentos de arquivo do visitante, Pe. S. Trump, entre 1951 e 1953, os abusos estiveram na origem da suspensão da autoridade do fundador e do seu "exílio" nos Estados Unidos, de 1951 a 1965.
Seu retorno à Alemanha, onde retomou seu papel até sua morte em 1968, não levou a nenhuma desmentida da Congregação do Santo Ofício sobre os motivos das censuras produzidas, mas a mudança do clima após o Concílio e o crescimento da Obra de Schönstatt (fundada em 1915) em muitas áreas do mundo convenceram o movimento eclesial a iniciar o processo de canonização.
O processo diocesano em Trier (diocese da morte do fundador) parecia já concluído e que em Roma aparecia sem obstáculos particulares. Mas as investigações de arquivo revelaram episódios de um poder manipulador e coercitivo, conhecidos por poucos dentro do movimento.
A compreensão da Igreja como povo de Deus, em todos os seus diversos componentes, a resistência ao nazismo nos anos sombrios da Alemanha, a generosidade missionária que projetou a experiência muito além das fronteiras alemãs colocaram na sombra os episódios que a pesquisa histórica trouxe de volta à superfície.
A Obra de Schönstatt, pouco conhecida na Itália, é considerada um movimento eclesial que envolve mais de 140.000 membros em 42 países do mundo (especialmente Norte da Europa, África, América Latina).
A Obra é uma confederação de uma dezena de comunidades e associações diferentes: de sacerdotes a leigos, dos que têm vida comum e dos que não têm, das ligas apostólicas (como as das famílias) aos institutos seculares e grupos juvenis. Tudo ligado ao carisma de um fundador, por uma particular afeição por um santuário mariano, o de Schönstatt (reproduzido mais de 200 vezes em 33 países do mundo), por uma espiritualidade comum e pelo objetivo comum da evangelização.
Publicações recentes produziram muita inquietação entre os membros da família eclesial e uma renovada atenção na diocese de Trier.
Uma primeira hipótese era iniciar uma segunda comissão histórica (a primeira já havia encerrado seus trabalhos). Em seguida, o bispo preferiu um grupo de trabalho informal que envolveu membros da Obra.
Agora a opção de interromper o processo, sem excluir que ele possa ser retomado. D. Ackermann disse: “Penso que as discussões dos últimos dois anos, mas também o conhecimento dos documentos agora disponíveis, mostram que ainda não terminamos o que há a dizer sobre a vida, obra e espiritualidade do padre Kentenich. Para tanto é necessário pesquisar mais. Enquanto isso, não posso continuar um processo de beatificação de uma pessoa contra quem há acusações que não podem ser refutadas com segurança neste momento".
Por sua vez, a historiadora von Teuffenbach registrou as diferentes reações ao seu trabalho: muita atenção de alguns membros do movimento, um silêncio substancial da presidência geral da Obra, uma crítica formal das freiras, que pediram ao tribunal para impedir a publicação do livro na Alemanha. O tribunal não aceitou o pedido.
E agora “estou escrevendo outro livro que tratará especificamente do ‘exílio’ de Kentenich em Milwaukee (EUA). Ainda não se sabe tudo. Uma coisa pode ser dita com certeza: ele ignorou todas as sanções canônicas que lhe foram infligidas”.
Christoph Hartmann no Katholisc.de advertiu para evitar precipitação no reconhecimento da santidade, convidando a diminuir os processos e as canonizações, a não multiplicar os bustos dos santos diante dos fiéis. "Hora de tirar alguns do pedestal, para ter uma visão clara do céu."
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Schönstatt: beatificação suspensa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU