Nicarágua. O regime de Ortega expulsa o núncio apostólico

O arcebispo polonês Waldemar Stanislaw Sommertag (Foto: Vatican Media)

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14 Março 2022

 

Fechando-se cada vez mais à comunidade internacional, o governo de Daniel Ortega declarou que o núncio apostólico na Nicarágua é “persona non grata e o expulsou do país.

O representante papal, o arcebispo polonês Waldemar Stanislaw Sommertag, foi forçado a deixar o país após sua “expulsão de-facto” e está atualmente em Roma, conforme apurou a reportagem do Crux.

 

A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 10-03-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

A nunciatura publicou uma breve nota no dia 7 de março dizendo simplesmente que o prelado polonês havia “se ausentado” do país no dia anterior.

O Vaticano deve divulgar um comunicado antes do final da semana para esclarecer as circunstâncias de sua partida, deixando claro que ele foi expulso pelo governo e não chamado de volta pela Santa Sé.

Um ponto de virada na deterioração das relações entre o Vaticano e o regime de Ortega foi em 18 de novembro de 2021, quando o governo nicaraguense anulou a figura de “decano do corpo diplomático” por decreto. Na maioria dos países de maioria católica, o núncio papal tradicionalmente atua como decano do corpo diplomático.

Sommertag foi afastado do cargo de reitor logo depois de começar a usar o termo “presos políticos”, que havia evitado durante os quase três anos em que atuou como interlocutor nos bastidores entre o governo e as famílias das centenas de presos.

Entre os detidos pelo governo estão todos os candidatos da oposição que manifestaram a intenção de concorrer contra Ortega nas eleições presidenciais realizadas no ano passado.

Fontes dizem que a decisão pela remoção do núncio veio diretamente de Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, que há muito entram em conflito com a hierarquia católica, devido à condenação dos bispos à repressão violenta de um levante civil pacífico em 2018.

Normalmente, quando um embaixador é expulso de um país, o diplomata correspondente também é expulso. No entanto, a embaixadora da Nicarágua Eliette Ortega Sotomayor deixou o cargo em agosto de 2021, e Ortega nunca a substituiu, então o cargo está vago.

Desde os protestos de 2018, igrejas católicas foram atacadas, incluindo a catedral de Manágua em 2020. Em 2019, o bispo-auxiliar de Manágua Silvio José Báez foi forçado a deixar sua diocese a pedido do Papa Francisco depois de receber várias ameaças de morte.

No ano passado, os Ortegas chamaram os bispos de “golpistas”, “filhos do diabo”, “agentes estrangeiros” e os acusaram de pregar um falso cristianismo. Eles enviaram policiais para intimidar bispos e padres, instalando até uma cabine policial do outro lado da rua da casa do cardeal Leopoldo Brenes Solorzano, arcebispo de Manágua.

Sommertag teve a difícil tarefa de percorrer a linha tênue entre manter abertos os canais de diálogo com o governo e proteger seu rebanho – a perseguição aos cristãos, particularmente à Igreja Católica, vem aumentando na Nicarágua desde 2018, segundo a Comissão dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa Internacional.

Quando os protestos eclodiram, os bispos do país e Sommertag, a pedido de Ortega, tentaram mediar um diálogo nacional entre os manifestantes e o governo, mas quando a iniciativa falhou, os prelados foram responsabilizados pelo regime.

Durante as conversas posteriores, os bispos foram banidos do diálogo por Ortega. No entanto, o representante papal foi autorizado a permanecer no papel de uma “testemunha” que estava “acompanhando” o diálogo.

Mas quando o diálogo estagnou mais uma vez, Sommertag não pôde deixar de expressar sua frustração e chamou a Nicarágua de um país onde há “muitas mentiras” e acrescentou que “algumas forças estão minando o campo” do processo de diálogo destinado a acabar com a crise.

 

Nota do Instituto Humanitas Unisinos - IHU

 

A Sala de Imprensa do Vaticano publica hoje, 12-03-2022, uma nota em que afirma:

 

"A Santa Sé recebeu com surpresa e tristeza a comunicação que o Governo da Nicarágua decidiu retirar o 'agrément' a S. E. D. Waldemar Stanislav Sommertag, Núncio Apostólico em Manágua desde 2018, impondo-lhe que deixasse imediatamente o país após a notificação do procedimento".

 

A íntegra da nota pode ser lida aqui, em espanhol e italiano.

 

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