06 Agosto 2021
Quando surgiram as notícias na terça-feira, 29 de julho, de que o ex-cardeal Theodore McCarrick havia sido acusado criminalmente por abusar sexualmente de menores, muitos católicos provavelmente sentiram que a justiça estava a um passo mais perto. Outros talvez se questionaram como o ex-arcebispo de Washington pôde abusar de seminaristas e crianças por décadas.
Mas uma pesquisa mostra que talvez a mais provável resposta às notícias sobre McCarrick entre os católicos seja: quem?
McCarrick, laicizado em 2019, é o indivíduo de mais alto escalão na Igreja Católica a ser acusado na crise de abusos. As acusações são de décadas e receberam atenção nacional desde que se tornaram públicas no verão de 2018. Mas uma pesquisa recente, encomendada pela America Media, dos jesuítas estadunidenses, e conduzida pelo Centro para Aplicação de Pesquisas no Apostolado (CARA, em inglês) revelou que apenas 38% dos católicos já ouviram falar de McCarrick.
A reportagem é de Kerry Weber, publicada por America, 04-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Mesmo quando os entrevistados foram informados sobre as acusações de abuso contra ele, apenas 44% reconheceram o nome. Aqueles que tinham ouvido falar da história de McCarrick estavam igualmente divididos entre aqueles que sentiam que a notícia representava uma mudança positiva na Igreja e aqueles que sentiam que representava uma mudança negativa.
A habilidade de reconhecer um nome da hierarquia não é inerentemente um sinal de envolvimento com a Igreja. Mas o fato de os casos de abusos de maior escalão na memória recente não serem familiar para mais da metade dos católicos pesquisados revela um grande problema de comunicação dentro da Igreja, particularmente em torno da crise de abusos.
Nossos dados mostram que os católicos desejam que a Igreja institucional responda à crise, mas nem sempre fez sua parte para comunicar as reformas já iniciadas ou para abrir novos canais de diálogo. A desconexão é aquela que aumenta a dor causada pelo abuso e o encobrimento, deixando muitos católicos se sentindo presos em uma crise perpétua e sem saber de qualquer progresso ou recursos disponíveis.
Embora 57% dos católicos entrevistados digam que prestam “muita” ou “bastante” atenção ao tópico do abuso sexual na Igreja, a pesquisa também mostra que os católicos continuam inundados de desinformação e incerteza sobre as causas da crise de abuso e a prevalência do abuso hoje.
23% dos entrevistados disseram não saber por que a crise de abusos ocorreu, e 66% dos entrevistados superestimaram a porcentagem de padres acusados de abuso. Em 2007, 52% dos católicos entrevistados pela CARA sabiam que a porcentagem de padres acusados de abuso com credibilidade era inferior a 5%. Mas na pesquisa mais recente, apenas 34% sabiam disso. Além disso, aproximadamente dois terços dos entrevistados não perceberam que a maioria dos casos de abuso ocorreram antes de 1985.
O fato de haver menos casos de abuso hoje não significa que a crise já passou. Novos casos continuam a surgir e a Igreja continua a lidar com a crise de confiança e liderança que foi revelada. Mas para que os católicos avaliem o progresso feito em relação à proteção de crianças e pessoas vulneráveis, e o que ainda precisa mudar, as pessoas nos bancos devem primeiro ter uma compreensão clara da realidade atual.
Isso significa lutar por dioceses e ordens religiosas mais transparentes no que diz respeito ao tratamento dos casos e à nomeação dos acusados. Isso significa que os jornalistas que cobrem a Igreja devem continuar a cobrir os horrores dos abusos e as histórias dos sobreviventes, mas também reconhecer que fazem parte de uma narrativa mais ampla que inclui reformas em andamento. Isso significa que os fiéis devem compreender sua própria responsabilidade de permanecer vigilantes e informadas.
A pesquisa mostra que muitos católicos acham que os esforços de prevenção ao abuso já implementados parecem estar funcionando. Cerca de metade das pessoas que assistiam à missa mensalmente ou mais haviam participado de um treinamento para ambientes seguros. Além disso, 84% dos entrevistados disseram que esse treinamento “os preparou suficientemente para ajudar a prevenir ou identificar o abuso sexual” e 90% disseram que o treinamento “ajudou a tornar a (sua) escola/paróquia/ministério um lugar mais seguro para as crianças”.
Mas, embora a resposta da Igreja à crise deva ser prática, também deve ser pastoral. E nesta frente, poucos encontraram o apoio de que precisam. Uma minoria de católicos (33%) disse que sua comunidade paroquial os ajudou a processar a crise de abuso. Entre aqueles cuja paróquia foi útil, algumas das respostas que foram apontadas como mais eficazes foram a chance de discutir a crise fora da missa (32%), reconhecer a crise publicamente e com franqueza (18%) e falar sobre abusos em grupos de apoio ou terapia (15%).
Apesar do desejo de reconhecimento público da crise, apenas 29% dos entrevistados disseram ter ouvido a crise dos abusos discutida na homilia na missa, e apenas 26% disseram que sua paróquia formou um grupo de escuta em resposta à crise.
A discrepância entre a necessidade declarada e a disponibilidade de tais recursos, e entre o desejo de transparência, mas a dificuldade em modelá-la, destaca um desafio significativo que a Igreja enfrenta enquanto tenta seguir em frente. Uma resposta compassiva baseada na paróquia pode ser a chave para encontrar um equilíbrio entre informar os fiéis sobre a crise e, ao mesmo tempo, dar-lhes um lugar para processar as notícias que ouvem no momento em que surgem.
O futuro da Igreja Católica pode depender, pelo menos em parte, de uma resposta eficaz da Igreja a essa questão: 36% dos pais católicos entrevistados disseram que a crise dos abusos os fez questionar se deveriam continuar a criar seus filhos na Igreja.
Se a Igreja institucional espera ser efetiva em sua missão, ela precisará manter a proteção de suas crianças como prioridade de suas ações e políticas. Mas isso dependerá de quão empoderados estão os católicos – leigos e religiosos – para sustentar uma hierarquia responsável, para reconhecer a realidade da crise, e ajudar uns aos outros no processo de trauma a fim de seguir em frente juntos.
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A maioria dos católicos não tem ideia de quem é o ex-cardeal McCarrick. Isso é um problema - Instituto Humanitas Unisinos - IHU