13 Julho 2021
Cada vez mais países e empresas estão testando a semana curta com o mesmo salário. O CEO da Carter & Benson no HuffPost: "Satisfeitos. Nem temos mais cartão ponto".
A reportagem é de Adalgisa Marrocco, publicada por Huffington Post, 09-07-2021. A tradução Luisa Rabolini.
Trabalhar quatro dias por semana em vez de cinco ou mais, mantendo o mesmo salário: é uma opção na qual cada vez mais países e empresas ao redor do mundo estão apostando. Aliás, dois anos atrás, um especialista do Banco da Inglaterra havia previsto que o regime de trabalho reduzido poderia suplantar o tradicional até 2050. O debate se intensificou com a pandemia e com o advento do smart-working generalizado: em maio de 2020, por exemplo, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, evocou a possibilidade de recorrer a férias adicionais e semana curta para favorecer a retomada econômica após o Covid-19.
A revista Forbes lembra que nos últimos anos muitas empresas importantes iniciaram testes que vão nessa direção. A Unilever, escreve o jornal, lançou um programa que permite aos funcionários da Nova Zelândia trabalhar quatro dias por semana e escolher como distribuir seus dias de descanso. De acordo com alguns testes realizados pela Microsoft no Japão em 2019, a produtividade dos trabalhadores aumentou 40% graças ao fechamento de escritórios às sextas-feiras. A Toyota na Suécia também reduziu os turnos para 6 horas de trabalho.
Casos italianos não faltam: a empresa milanesa de head hunting e consultoria estratégica, Carter & Benson, é um exemplo virtuoso. “A ideia nasceu em julho de 2019, antes mesmo do teste realizado no Japão por uma gigante como a Microsoft. Resolvidas as questões burocráticas, a primeira fase do projeto experimental teve início em janeiro de 2020 com a redução de 4 horas semanais de trabalho mantendo o mesmo salário e benefícios. Diante do sucesso, em janeiro de 2021 tomamos a decisão de adotar a semana de trabalho de quatro dias, sempre com o mesmo salário. Cada um é livre para colocar e gerir as 8 horas livres da maneira que considerar mais adequada, não necessariamente escolhendo a sexta-feira”, relata William Griffini, CEO da Carter & Benson, ao HuffPost.
Griffini prossegue ressaltando que a escolha nasceu do desejo de “melhorar o equilíbrio entre vida privada e trabalho, colocando as pessoas no centro. Queríamos dar algo que fosse além dos benefícios corporativos clássicos, que desde sempre oferecemos. Dessa forma, nossos colaboradores trabalham sem serem constantemente assediados por controles externos, obtendo resultados qualitativos melhores”. A semana curta é apenas a última peça de uma estratégia empresarial muito específica: “Nem temos mais cartão ponto e desde 2005 adotamos o smart-working e o remote working. Vou dar um exemplo: temos uma funcionária que trabalha em outra cidade há cerca de quinze anos e faz seu trabalho muito bem, é uma das melhores”.
Agora, graças à semana de trabalho de quatro dias, “os funcionários estão ainda mais motivados e a equipe está ainda mais coesa. O que os deixa satisfeitos, para além da redução do horário, é a abordagem da empresa que sempre se pautou nos conceitos de confiança, autonomia, responsabilidade e objetivos”. O CEO da Carter & Benson acrescenta que “infelizmente o mundo do trabalho ainda está enredado na relação tempo-salário, tempo-dinheiro, mas alguns empreendedores estão começando a ter a coragem de se arriscar a superar o obstáculo. Em nossa empresa, por exemplo, contam a responsabilidade e a autonomia na gestão do trabalho”.
“Trabalhar mais do que se deveria faz parte de uma lógica que já está fora de moda. Não leva em conta que trabalhar mais não significa necessariamente maior qualidade do trabalho”, finaliza Griffini.
“Um dia livre por semana melhora a vida. Com a semana de 4 dias se trabalha menos e melhor”, tinha dito no ano passado ao HuffPost a empresa de recrutamento irlandesa Ice Group, protagonista de um teste para redução da semana de trabalho desde meados de 2019. Margaret Cox, gerente da empresa, nos havia dito: “O que percebemos é que nossos funcionários estão produzindo muito mais agora”, reduzindo, por exemplo, as pausas para fumar e o tempo gasto nas redes sociais. Em seis meses, as vendas da empresa aumentaram 30% e as ausências diminuíram.
Os relatórios elaborados pelo Ice Group falavam de um clima de trabalho mais sereno e de colaboradores felizes, enérgicos e autoconfiantes. O que acaba sendo poupado economicamente para os trabalhadores também é importante: “O pessoal que era obrigado a ir e vir cinco dias por semana, agora gasta menos”. Para a gestora, a semana de 4 dias não foi apenas uma forma de aumentar o desempenho da empresa, mas sim “uma oportunidade de mudar a vida das pessoas em quem confiamos”.
Não são apenas as empresas privadas que mostram interesse pela revolução da semana de trabalho curta. Foi divulgado nos últimos dias resultados de um teste realizado no setor público na Islândia durante quatro anos: 2.500 trabalhadores na capital Reykjavík passaram de 40 horas semanais para não mais de 35/36 horas, sem cortes salariais. O relatório constatou que a produtividade dos funcionários envolvidos (funcionários em repartições públicas, serviços sociais, creches e hospitais) permaneceu constante ou inclusive aumentou. Para o diretor de pesquisas da empresa de pesquisas Autonomy, que analisou os resultados em conjunto com a Association for Sustainability and Democracy, o estudo foi "um sucesso extraordinário". Graças à redução da jornada de trabalho, os funcionários islandeses também relataram sentir-se menos estressados, vendo diminuir o risco de burnout e melhorando o equilíbrio entre o tempo passado no trabalho e aquele dedicado à vida privada.
A semana de trabalho curta beneficia os funcionários, mas também beneficia o meio ambiente. Um estudo recente realizado por ativistas da Platform London e da 4-Day Week Campaign, uma campanha mundial para adoção da semana curta, sugeriu que uma redução do horário poderia diminuir a pegada de carbono. A queda nas emissões de gases de efeito estufa - destaca a pesquisa - seria possibilitada pelo menor consumo de energia no local de trabalho, pela redução do deslocamento diário, pelo corte da poluição causada pelos meios de transporte. O relatório também aponta que oferecer aos trabalhadores um dia livre extra por semana aumentaria a quantidade de atividades de "baixa emissão de carbono" (descanso, exercícios físicos, etc.). Em termos numéricos, de acordo com o estudo, uma semana de trabalho de quatro dias significaria reduzir as emissões em 127 toneladas até 2025 somente no Reino Unido.
Uma maior atenção ao meio ambiente é um dos motivos da proposta da semana de 32 horas recentemente apresentada pelo partido de esquerda espanhol Más País: segundo o fundador Iñigo Errejón, ex-Podemos, o debate sobre a semana curta possibilitaria "colocar a saúde mental no centro da agenda política". “Um maior bem-estar e uma melhor organização da vida permitiriam um aumento da produtividade horária, que é o verdadeiro lastro do trabalho na Espanha”, acrescentou Errejón.
Laurie Mompelat, pesquisadora da Platform London entrevistada pelo Guardian, resumiu os benefícios do regime de jornada reduzida: “Mudar para uma semana de trabalho de quatro dias, com uma remuneração justa para todos, pode nos ajudar a mudar a forma como o valor é criado na sociedade, agregando espaço para o cuidado, o descanso e as relações”.
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“Trabalhar mais do que se deveria está fora de moda. A Semana de 4 dias torna mais produtivos e reduz o estresse” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU