25 Junho 2021
Os sacerdotes expressam tristeza e incredulidade: um movimento em um tabuleiro de xadrez mais amplo do que um jogo político. Do Vaticano "ingerência inaceitável", fica-se "perplexos", "aturdidos". Um dia após a notícia da manobra do Vaticano junto ao governo italiano contra o projeto de lei Zan, que quer conter a homotransfobia, falam os párocos de rua. Eles expressam sentimentos de raiva, tristeza e incredulidade.
O editorial é publicado por La Stampa, 23-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O padre Gianluca Carrega, sacerdote de Turim, responsável da Diocese pelo acompanhamento das pessoas homossexuais, dá sua opinião: “Trata-se de um movimento que não é simples de explicar. Mas acho que deve ser interpretado pelo que é, ou seja, uma jogada em um tabuleiro de xadrez mais amplo do que um jogo político que vai muito além dessas questões”. O sacerdote tem uma ideia clara de como a iniciativa amadureceu: “Minha impressão é que tenha sido solicitada por uma minoria do episcopado italiano e que depois quiseram o apoio da Santa Sé para esta batalha ideológica, mas no final provavelmente terminará em uma bolha de sabão mas, no meio tempo, chamou a atenção daqueles que estão sempre prontos para sair para a briga".
Ao que parece, o Papa não teria solicitado essa iniciativa: “E seria estranho o contrário - observa - porque vai contra o que sempre fez até agora nas relações com os Estados individuais. Naturalmente, estamos perplexos com esta iniciativa que nos dá o que pensar, porque há situações que exigiriam mais atenção da Santa Sé, pensando, por exemplo, no que se passa na Hungria e na Polônia, mas sobre isso nada se diz. Caso se intervenha, depois se deveria intervir sempre e não só quando se sentir ameaçado em suas liberdades”.
Segundo Dom Carrega, a iniciativa da Secretaria de Estado do Vaticano está destinada a murchar: “Considerando também o clima de verão. Acho que tentaram forçar um pouco a situação para mostrar que existe um pouco de influência nos assuntos políticos e nostalgia das temporadas passadas que, felizmente, acho que não vão voltar”. E agora o que vai acontecer? “Os técnicos também vão encontrar modalidades para evitar que se entre em conflito com a Concordata - diz dom Gianluca Carrega - dito isto, parece-me que ninguém tenha questionado o princípio que move a lei Zan e por isso estamos mais tranquilos sobre isso. Quanto mais uma lei delicada como essa encontra a convergência da política, mais fácil é que sobreviva até mesmo às mudanças de governo. Se a direita subir para o governo, não creio que esta lei seria eliminada, por isso, se todos estiverem envolvidos, será mais difícil que isso aconteça”.
Também dom Giulio Mignani, um sacerdote da Ligúria que, em polêmica com o “não” do Vaticano à bênção das uniões homoafetivas, não deu seguimento à bênção das Palmas, ficou consideravelmente "entristecido" pela nota do Vaticano contra o projeto de lei Zan: "Eu o definiria como uma ingerência, não podemos esquecer a laicidade do estado italiano". Dom Giulio não se contentou em ler as notícias pela mídia. Pegou a Concordata e tirou suas conclusões: “Fui rever o acordo de 1984 visto que se citava o artigo 2 parágrafos 1 e 3 e vi que em um deles se fala da plena liberdade para desempenhar a própria ação pastoral, em no 3 trata-se da livre manifestação de pensamento. Também no projeto de lei não me parece que se queira impedir a livre expressão das próprias opiniões. A Igreja, digo infelizmente, sempre terá a possibilidade de expressar o seu dissenso, mas, francamente, não vejo aquele crime de opinião que se teme que possa ocorrer. Além disso, o Parlamento é soberano, não pode haver uma ingerência em dizer o que deve ser feito”.
Do Vaticano falou-se de uma ação destinada não tanto a arquivar a lei Zan, mas a remodulá-la. “Parece, porém - objeta dom Mignani - que a tentativa, senão de arquivá-la, seja de esvaziar a lei. E de quem partiu essa iniciativa, não está claro”. Sem o conhecimento do Papa? "Espero que sim. Até mesmo as modalidades de entrega da carta são um pouco estranhas”. Dom Giulio Mignani não se capacita do fato de que por trás dessa manobra também estaria o fato de que se gostaria de isentar as escolas católicas do dia antidiscriminação: “Penso e espero que nenhuma escola católica queira ensinar o racismo ou a homofobia. Parece-me absurdo colocar-se contra esta lei porque o espírito do projeto de lei Zan é plenamente cristão, por isso fico atônito com esta iniciativa. Agora espero que ninguém se deixe intimidar ou amordaçar por uma intervenção deste tipo ou a democracia sairá perdendo”.
No dia 21 de julho de 2021, às 10h, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza a conferência A Inclusão eclesial de casais do mesmo sexo. Reflexões em diálogo com experiências contemporâneas, a ser ministrada pelo MS Francis DeBernardo, da New Ways Ministry – EUA. A atividade integra o evento A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo. O Responsum em debate.
A Inclusão eclesial de casais do mesmo sexo. Reflexões em diálogo com experiências contemporâneas
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Itália, Vaticano e Projeto de Lei Zan. Os párocos de rua contra o Vaticano: “Ingerência inaceitável, por trás não há a mão do Papa” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU