23 Novembro 2020
“O comboio que viajava a toda velocidade para a destruição parou repentinamente com a pandemia, fazendo-nos sair na plataforma. Agora, antes de voltarmos a bordo, devemos nos perguntar se é oportuno continuar na mesma direção de antes ou se devemos mudar completamente o rumo”. O ganhador do Nobel Muhammad Yunus, mais vezes chamado de “o banqueiro dos pobres”, fundador em Bangladesh do “Banco Grameen”, que fornece microcréditos a pessoas indigentes para o início de atividades empresariais, participando da Economia de Francisco reitera a necessidade de mudar um modelo econômico "desastroso".
A reportagem é de Luca Mazza, publicada por Avvenire, 21-11-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
O economista enumera os danos causados pelo sistema atual: "Desemprego desenfreado, desigualdades crescentes, concentração de riquezas nas mãos de poucos, um planeta à beira do precipício". Esses são sinais evidentes, de acordo com Yunus, de um mundo em vias de destruição. “Afinal, até uma criança entende que algo está errado quando 1% da população global possui 99% da riqueza total”, acrescenta Yunus.
A responsabilidade desse sistema fracassado e perigoso é também das finanças, que tem como sua "única religião a maximização dos lucros" e, portanto, criaram seres humanos "utilocêntricos", ou seja, interessados em perseguir seus próprios interesses em detrimento daqueles coletivos. “As pessoas veem que a Bolsa está em alta e pensam que a economia está em excelente estado de saúde, quando na realidade as finanças estão desconectadas da realidade - diz Yunus. Portanto, temos que nos perguntar: para onde vão esses ganhos de mercado?”.
Da mesma forma, o ganhador do Prêmio Nobel nos convida a refletir sobre o fato de que o aumento do PIB não é um fator positivo em si: “A expansão do crescimento de um país não significa que a pobreza diminuiu automaticamente, aliás, muitas vezes acontece exatamente o contrário".
Para mudar de direção, de acordo com Yunus, primeiro devem ser buscados três 'zeros': "Zero emissão de carbono, zero concentração de riqueza, zero desemprego". O convite a cada um é para não ser passivo e contribuir para a mudança de paradigma: “Não basta ver as injustiças e as desigualdades no mundo, é preciso passar à ação com a consciência de que cada escolha que fazemos produz efeitos: do banco em que investimos o nosso dinheiro aos alimentos que consumimos”.
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Yunus: “Na busca dos três ‘zeros’ para a virada” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU