08 Outubro 2020
A nova encíclica do papa Francisco, Fratelli Tutti, ganhou a aprovação das lideranças da União Internacional das Superioras Gerais (UISG), que disseram em comunicado que é uma confirmação dos tipos de ministérios que as irmãs têm se engajado ao redor do mundo.
A reportagem é de Chris Herlinger, publicada por Global Sisters Report, 06-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Nós recebemos a encíclica como um presente”, disse a missionária claretiana Jolanda Kafka, presidente da UISG, durante um webinar com dezenas de líderes congregacionais de todo o mundo.
O Papa chama a “derrubar os muros”, disse a irmã Patricia Murray, secretária-executiva da UISG, ressoando com as irmãs que nos seus ministérios diários trabalham com todos os tipos de comunidades e tentam encontrar uma humanidade comum entre as pessoas.
Cabe às irmãs e outras pessoas dentro da Igreja, disse Murray, atender ao chamado de Francisco para construir pontes – “pontes de diálogo, pontes de encontro”.
Isso é particularmente necessário em um mundo de crescentes desequilíbrios econômicos e de poder, disse Murray. Embora a crise climática global esteja tornando mais pessoas conscientes de que a humanidade compartilha um mar ou oceano metafórico comum, “alguns estão em iates, e outros mal tem onde se agarrar”.
Ao enfatizar os laços que conectam toda a humanidade, Murray disse que o Papa está reafirmando muitas das direções que as irmãs católicas estão tomando em seus ministérios. Em um discurso de agosto de 2019 na Conferência de Lideranças de Mulheres Religiosas, Murray observou que “estar verdadeiramente presente umas com as outras, estar aberta a um encontro mútuo com o outro que vem como um estranho, é um ato profético no atual contexto de divisão”.
Ao imaginar um mundo melhor após a atual pandemia global, o Papa, dentre outras coisas, deseja ver um mundo com uma retórica menos populista que se torne mais focado no bem comum.
Uma crítica inicial à encíclica é que ela integra totalmente as experiências das mulheres em seu texto. Escrevendo em 05 de outubro no National Catholic Reporter (e publicado em português por IHU On-Line), Meghan Clark, professora associada de teologia e estudos religiosos na St. John's University em Nova York, argumentou que, embora a carta do Papa clame pela “construção de uma comunidade global social, civil e política radicalmente diferente”, as vozes das mulheres “estão completamente ausentes”.
“Apesar de uma real ênfase na humanidade inclusiva dentro do texto, nenhuma mulher é citada como inspiração, usada para reflexão teológica ou dada como exemplo”, disse ela.
Essa perspectiva não foi abordada durante o webinar de 5 de outubro, com a liderança da UISG elogiando unanimemente o tom, a direção e a ênfase da encíclica. Murray reconheceu que levará tempo para digerir e refletir sobre o novo documento, pois ele havia sido lançado apenas no dia anterior.
Chamando-o de um texto exigente, Murray disse: “Esta encíclica realmente exige leitura e reflexão de repetidas vezes”, mas as pessoas encontrarão nela um núcleo baseado em ver, julgar e agir.
“Temos que tocar o sofrimento, temos que nos aproximar, atraídos para a vulnerabilidade do outro”, disse Murray sobre uma das ênfases na carta.
Em seus comentários, Kafka observou a centralidade da parábola do “Bom Samaritano” na encíclica do Papa. Ao usar esse exemplo, Francisco está pedindo aos crentes que se olhem no espelho e reconheçam a experiência comum de estar vulnerável e ferido.
Mas, ao mesmo tempo, o Papa vê uma esperança comum. “Todo ser humano tem potencial para ser um bom samaritano”, disse ela.
A irmã Franca Zonta, vice-presidente da UISG, disse acreditar que na encíclica o Papa é uma “pessoa que semeia” sem se preocupar “onde caem as sementes”, pois a encíclica provará que “é frutífera”.
Ao “sair para o mundo”, Zonta disse que Francisco está pedindo aos outros humanos para que “olhem além de nossos pequenos pátios” e vejam o mundo mais amplo – um mundo que inclui migrantes em movimento. Dizendo que apoia o apelo do Papa por respeito, decência e justiça para os migrantes, Zonta disse: “É importante ver os migrantes não como uma ameaça, mas como um presente”.
A membra-executiva da UISG, Roxanne Scheres, da Escola das Irmãs de Notre Dame, disse que estava impressionada com a mensagem de esperança porque a pandemia global expôs as desigualdades dos sistemas de saúde e poderia levar a uma grande atenção e preocupação com a justiça.
Outra membra da UISG, Aurora Torres, concordou, dizendo que a encíclica destaca Francisco como um profeta, que reconhece o que está destruído “e nos dá um caminho de esperança”.
“Esse é o programa completo, é um projeto de vida”, disse Torres.
A publicação da encíclica também é um momento pelo qual as irmãs se perguntam sobre seus ministérios, disse Torres. “Como serei uma irmã para os outros? ”, perguntou.
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Fratelli Tutti: Religiosas afirmam que a encíclica confirma diretamente seus ministérios diários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU