11 Setembro 2020
Quando a Ir. Norma Pimentel perguntava quais eram as necessidades dos requerentes de asilo em um acampamento ao longo do Rio Grande na cidade fronteiriça mexicana de Matamoros, eles pediam suprimentos como utensílios e cobertores. Agora, quando ela fala com eles, eles expressam temores pela sua segurança e pedem uma saída.
A reportagem é de David Agren, publicada por Catholic News Service, 10-09-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Irmã Norma Pimentel, religiosa das Missionários de Jesus, é fotografada ao longo de um muro de fronteira entre o Texas e o México no final de fevereiro de 2018. (Foto: CNS photo/Barbara Johnston)
“Estamos passando para uma situação mais desesperadora: ‘Tire-me daqui, eu temo pelo meu filho’”, disse ela, citando o que as pessoas lhe dizem.
Moradores da Dignity Village – povoada por requerentes de asilo que aguardam no México enquanto seus casos avançam nos tribunais dos EUA, como parte do plano de Protocolos de Proteção ao Migrante – suportaram de tudo, desde resfriados até furacões, de ratos e cobras até infestações de vermes, e de gangues de criminosos que os sequestram até a pandemia da Covid-19.
Mas o medo tomou conta do acampamento nas últimas semanas, quando pelo menos sete pessoas foram encontradas assassinadas, e seus corpos deixados ao longo da margem do rio em uma área onde os residentes do campo costumam se lavar e se banhar.
“É difícil saber o que está acontecendo, porque as autoridades não falam e não identificam a pessoa morta. Elas dizem que a pessoa morta é da cidade de Matamoros, mas a maioria das pessoas não acredita nisso”, disse Pimentel, religiosa das Missionárias de Jesus e diretora da Catholic Charities do Vale do Rio Grande. “É perigoso e todos querem sair.”
Mapa da cidade de Matamoros, México. (Mapa: Wikimedia Commons)
À medida que o tempo passa, o desespero se instala, especialmente porque as barracas temporárias que os residentes usam são atingidas pelos elementos naturais – o furacão Hanna passou em agosto, quase inundando-os –, e a pandemia da Covid-19 adia suas aparições nos tribunais dos EUA indefinidamente.
“Não há nada à vista que possa realmente levá-los a seguir em frente. Eles suportaram muitas dificuldades, e a Covid-19 não facilita nada”, disse Pimentel.
A população do acampamento diminuiu para menos de 1.000 residentes, cerca de um terço da sua ocupação máxima. Alguns voltaram para seus países de origem, enquanto outros mudaram para acomodações melhores. Alguns requerentes de asilo estão ficando no México e solicitando a permanência, embora Pimentel tenha dito que muitos deles “não se veem prosperando nem se consideram seguros, então o México não é considerado como uma opção”.
Mapa do México fazendo fronteira com os Estados Unidos. (Mapa: Wikimedia Commons)
Alguns dos residentes do acampamento também estão tentando cruzar o Rio Grande até os EUA – uma tentativa arriscada, de acordo com três pessoas que trabalham com migrantes. Eles disseram que o rio tem correntes aparentemente fortes e que o crime organizado exige um pagamento para tentar a travessia.
“Você tem que pagar 500 dólares a eles para fazer isso. Eles não vão tentar lhe ajudar a cruzar. Eles simplesmente estão dando a permissão para cruzar”, disse Pimentel. “Se acontecer de os EUA mandarem você de volta, você estará em apuros, e eles fazem questão de assegurar que você saiba disso.”
Rio Grande, onde fica o acampamento de migrantes. (Mapa: Wikimedia Commons)
Rodrigo Castro, um requerente de asilo da Guatemala e líder do acampamento, foi encontrado morto às margens do rio no dia 18 de agosto. Inicialmente, acreditava-se que Castro havia se afogado ao tentar resgatar uma pessoa do rio, mas boatos de um crime circulam pelo acampamento, e uma fonte que conhece a família dele diz que foi um homicídio para “mandar um recado” para quem cruza o rio sem pagar.
Pelo menos seis outras pessoas foram encontradas mortas na área, de acordo com três fontes consultadas pelo Catholic News Service, embora não esteja certo que sejam residentes do acampamento.
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Desespero aumenta em acampamento mexicano de requerentes de asilo perto da fronteira com os EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU