05 Setembro 2020
Este 11 de setembro marca o 49º aniversário do golpe brutal que derrubou o Presidente Constitucional do Chile; Salvador Allende Gossens. Nem a força das armas, bombardeios, torturas, desaparecimentos, exílios e crimes hediondos conseguiram apagar a Memória e a práxis do Presidente Martirizado que ainda estão vivas no meio do Povo ao longo do tempo.
Reproduzimos a seguir o artigo publicado aqui no Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em 05-09-2020.
“Hoje, no memorável cinquentenário do triunfo de Salvador Allende, o presidente heroico está na história da humanidade como um destacado e respeitado estadista fiel a seus princípios socialistas, leal até o fim com as justas causas do povo e que cumpriu sua palavra de que, sob seu governo, todas as crenças religiosas gozariam de plena liberdade para sua missão essencial, que é a evangelização à luz dos ensinamentos de Jesus, o Nazareno”, escreve Jaime Escobar M., do Conselho Editorial da revista Reflexión y Liberación, 04-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Hoje, 04-09-2020, cumprem-se 50 anos do inesquecível triunfo eleitoral da Unidad Popular que levou à presidência do Chile o médico Salvador Allende Gossens.
É necessário ter um olhar histórico-retrospectivo de como nesses três anos de governo Popular, não somente foram respeitados os direitos cidadãos, mas que Allende – sem ser católico – respeitava profundamente toda crença religiosa como demonstrou tantas vezes sendo Senador da República e, ademais, cultivou uma sincera amizade com o lembrado cardeal Raúl Silva Henríquez, que, pelos anos 1970, era um proeminente salesiano, arcebispo de Santiago e mantinha uma fluida comunicação direta com o papa Paulo VI.
Muitos historiadores e cronistas recordam que no dia posterior à vitória de Allende, o presidente eleito recebeu em sua residência, na rua Guardia Vieja, um grupo de padres e religiosas que trabalhavam e viviam em setores religiosos incardinados na arquidiocese de Santiago. Nesse cordial e original encontro, uma religiosa comentou ao presidente eleito que elas esperavam que se mantivesse o “respeito conosco... as consagradas...”. Ao que Allende, imediatamente e sem titubear, respondeu: “sempre respeitei a fé católica e em meu governo isso será mantido, isso lhes garanto”.
Também, durante o governo popular se produz um acontecimento histórico; organiza-se um grupo diverso que se denominou Cristãos pelo Socialismo, como uma forma efetiva de apoiar o programa do governo allendista. Chegam ao país intelectuais, teólogos, religiosos, jornalistas que queriam conhecer mais de perto esta inédita “opção” de cristãos que apoiavam ativamente um governo que avançava rumo ao socialismo de forma pacífica. Isso é, uma espécie de não violência ativa ao serviço da justiça social e à transformação profunda das estruturas de opressão capitalista. Tal e como disseram, em diversos momentos, os lembrados sacerdotes Gonzalo Arroyo, Esteban Gumucio, José Aldunate, Mariano Puga, Pablo Richard e o capelão de La Moneda nesse período histórico especial, o padre Rafael Maroto.
Por essas razões de escolha consciente e outras não menos importantes, foram milhares os jovens e estudantes católicos que se sentiram identificados com o processo político-social impulsionado pela Unidad Popular e pelo genuíno carisma do presidente Allende. A necessidade e o compromisso de produzir profundas mudanças na sociedade chilena e optar, decididamente pelos mais pobres e excluídos, estava em plena sintonia com a práxis e linhas de ação do Evangelho e, assim, o captaram esses milhares de crentes que se envolveram nessa nova e inédita experiência política-revolucionária. Este compromisso militante com as causas justas e de bem comum, em parte, explica por que a ditadura militar descarregou também seu ódio e repressão brutal, desde o primeiro dia do golpe de Estado, contra os cristãos, não somente com presença na base popular, mas também espalhada prodigamente no mundo universitário e profissional.
Hoje, no memorável cinquentenário do triunfo de Salvador Allende, o presidente heroico está na história da humanidade como um destacado e respeitado estadista fiel a seus princípios socialistas, leal até o fim com as justas causas do povo e, que cumpriu sua palavra de que sob seu governo, todas as crenças religiosas gozariam de plena liberdade para sua missão essencial, que é a evangelização à luz dos ensinamentos de Jesus, o Nazareno.
Por outro lado, o ditador Pinochet está marcado no mundo como um traidor e, em última instância, responsável por todas as violações de direitos humanos que ocorreram dentro e fora do Chile naqueles sombrios 17 anos. Além disso, ele carregará para sempre o fardo criminoso pela tortura e assassinato impiedoso dos sacerdotes missionários; Juan Alsina, Miguel Woodward, Gerardo Poblete sdb, Antonio Llidó e André Jarlan.
“Os mil dias da Unidad Popular foram certamente um acontecimento memorável que teve um impacto na sua época e suscitou esperanças não só no Chile mas em todo o mundo... A Unidad Popular foi um marco que nos deu grandes valores. Nós, cristãos, vimos neste momento como se delineava a realização dos grandes objetivos da Libertação preconizados pelo Evangelho...”.
(Padre José Aldunate / Seminário Internacional ‘Enquanto houver memória haverá Esperança’, convocado pelo Instituto de Ciências Alejandro Lipschutz e a revista “Reflexión y Liberación” – 21/07/1995 no Centro Diego Portales).
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Chile. Salvador Allende e o mundo cristão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU