24 Agosto 2020
Steve Bannon, o polêmico ex-assessor de Donald Trump, foi preso na quinta-feira, acusado de fraudar centenas de milhares de dólares de doações a uma campanha para construir o muro na fronteira com o México.
Depois de deixar a Casa Branca, deslocou-se à Europa para colaborar com vários movimentos políticos europeus de direita e extrema-direita. Estes incluem a Frente Nacional, na França, a Fidesz, na Hungria, a Liga Norte, na Itália, e o VOX, na Espanha.
A reportagem é de Aldo Dudzevich, publicada por Perfil e reproduzida por Religión Digital, 23-08-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A prisão de Steve Bannon causou comoção na política estadunidense, na Europa e no Brasil. Para o Vaticano será o tradicional “sem comentários”. Porém os próximos a Francisco não escondem certo alívio pela notícia; sobretudo porque nos últimos meses as usinas de fake kews da “nova direita” multiplicaram seus ataques contra o Papa.
Segundo apontou em um comunicado Audrey Strauss, a procuradora em atividade no distrito sul de Nova York, Steve Bannon, o polêmico ex-assessor de Donald Trump, foi preso na quinta-feira, acusado de fraudar centenas de milhares de dólares de doações a uma campanha para construir o muro na fronteira com o México, prometido pelo presidente dos Estados Unidos.
Junto a ele foram presas outras três pessoas por suposto envolvimento na fraude na iniciativa “We Build the Wall” (“Nós construímos o muro”, em inglês), que arrecadou 25 milhões de dólares, segundo as autoridades.
Em 11 de junho, foi publicada por Perfil a reportagem “Um inimigo do Papa Francisco desembarca na Argentina” (disponível em espanhol, neste link), devido ao título, muitos interpretaram que Bannon estava no país. Contudo, até onde se sabe publicamente, ele nunca pisou em Buenos Aires. No entanto, seu desembarque pelas redes sociais ocorreu com êxito e sua política segue somando adeptos. Na recente manifestação de 17ª muitos dos cartazes carregados correspondiam às usinas ideológicas de Bannon.
Por exemplo, em Neuquén um jovem carregava um cartaz com a seguinte legenda: “Fase 1. Fuzilar políticos. Fase 2 – Fuzilar jornalistas. Fase 3 – Argentina Potência”. Seguramente o jovem do cartaz desconhece o nome de Bannon. No entanto, seus lemas políticos chegaram a ele por memes e canais do youtube.
A campanha de Trump foi baseada em acusar duramente as “elites políticas” e a imprensa norte-americana. Também figuram em sua lista de inimigos o “globalismo”, o ANON ou Estado Profundo, Bill Gates, Soros e ultimamente os chineses. Steve Bannon é um estratego político da nova direita norte-americana. Atuou como chefe de campanha de Trump e depois como estrategista-chefe da Casa Branca até agosto de 2017.
Depois de deixar a Casa Branca, deslocou-se à Europa para colaborar com vários movimentos políticos europeus de direita e extrema-direita. Estes incluem a Frente Nacional, na França, a Fidesz, na Hungria, a Liga Norte, na Itália, e o VOX, na Espanha. No Brasil participou como estrategista da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro.
Era o principal investidor da consultora de dados Cambridge Analytica, que acessou os dados de 50 milhões de usuários do Facebook para influenciar seu voto a favor de Donald Trump e do Brexit na Grã-Bretanha. Basicamente é um grande estrategista da comunicação moderna.
Descobriu o poder das fake news e as maneja como ninguém para influenciar campanhas políticas. Define-se assim mesmo, como populista, nacionalista, anti-elites globalistas, mas defensor do livre mercado. Anti-imigração hispânica e muçulmana. Anti-políticas de gênero, anti-aborto, anti-LGBT. Firme defensor da “guerra econômica” com a China.
Seu inimigo virtual preferido é Soros pelo apoio que este dá a política que chama de “marxismo cultural”. Bannon é um grande estrategista da comunicação moderna. Descobriu o poder das fake news e as maneja como ninguém para influenciar campanhas políticas. Ainda que Trump, Bolsonaro e outros emergentes da “nova direita” apareçam quase como caricatos, não é resposta desprezar seu potencial.
Os governos progressistas têm dado grande ênfase às políticas inclusivas de diferentes minorias e tem sido um grande passo na democratização de direitos. Mas muitos setores que tradicionalmente votam à esquerda se sentem excluídos ou não representados. Os efeitos da globalização sobre o emprego deixaram milhares de trabalhadores fora do sistema, que passam a culpar o imigrante por seu sofrimento. A corrupção na política, a crescente insegurança, são questões exploradas pela “nova direita” que se apresenta como transgressora e anti-establishment.
Em 2017, Bannon referiu-se aos espanhóis do VOX: “Nenhum desses partidos precisa de mim para vencer. São muito sofisticados. O que posso fazer por eles é o que fiz por Trump, ou seja, simplesmente dizer a eles que podem vencer se mantiverem a mesma mensagem”.
“A política moderna misturada com redes sociais e com uma mensagem adequada fornece isso a você. O que Trump levou ao extremo é levar questões que são como polos, como ímãs, questões que mobilizam diferentes grupos de eleitores”. “No caso de Trump, essas questões eram os migrantes da América Latina, o muro, o direito de portar armas, a chamada agenda de gênero, entre outros”.
“Depois os mandam e os colocam em relação entre eles. É um pouco o que temos feito no VOX: tomar como imãs a defesa da caça, dos touros, da Semana Santa, das forças de segurança. Novas tecnologias e as redes sociais permitem então conectar, unir as pessoas mobilizadas por um desses ímãs”. Em síntese com Bannon, preso ou livre. Com Trump reeleito ou não, o fenômeno da “nova direita” está varrendo o mundo e veio para ficar. Na Argentina, seu discurso já pousou e tem uma penetração enorme nas redes sociais que nós, acostumados a reportar em jornais e programas vespertinos, não vemos.
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Steve Bannon, o inimigo do papa Francisco, preso por fraude - Instituto Humanitas Unisinos - IHU