05 Agosto 2020
"Como comunidade humana, estamos aprendendo duras lições sobre a nossa segurança coletiva durante esta pandemia global. Chegou a hora de enfrentar o desafio e aproveitar a oportunidade para fazer as mudanças necessárias para proteger nosso futuro. Mas a janela de tempo que nos resta poderia ser muito curta. Se não conseguirmos agir agora e de maneira decisiva para eliminar as armas nucleares da face da Terra, estaremos jogando perigosamente não apenas com a pandemia, mas também com extinção total", escrevem D. Giovanni Ricchiuti e Pe. Renato Sacco, respectivamente presidente e coordenador de Pax Christi, em artigo publicado por Fine Settimana, 27-07-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nestes últimos meses, toda a família humana foi derrubada pelo coronavírus. O número global de mortes continua a crescer diariamente; o desespero da humanidade aumenta; os efeitos físicos, psicológicos e econômicos aumentam. Essa pandemia atingiu praticamente a todos: entendemos que somos todos vulneráveis e percebemos que a verdadeira segurança deve ser, em substância, compartilhada. O próximo mês de agosto - esperando alcançá-lo com mais e mais vidas salvas - o mundo comemorará uma ameaça que por 75 anos representou o mais grave dos riscos para a humanidade. As consequências nocivas da pandemia de Covid-19 empalidecem em comparação com o que teria acontecido à família humana e à própria terra no caso de uma guerra nuclear. O Papa Francisco nos adverte que as armas nucleares constituem uma afronta mortal não apenas ao bem-estar da terra e de seus habitantes, mas também ao nosso relacionamento com Deus. As armas nucleares são uma abominação: a "ameaça de seu uso, bem como de sua posse, deve ser firmemente condenada" (do discurso de Sua Santidade aos participantes do Simpósio Internacional "Perspectivas para um mundo livre de armas nucleares e pelo desenvolvimento integral", 10 de novembro de 2017).
A chamada "segurança" oferecida pelas armas nucleares baseia-se em nosso desejo de aniquilar os nossos inimigos e sua vontade de nos destruir. 75 anos após os eventos de Hiroshima e Nagasaki, chegou a hora de rejeitar essa lógica de recíproca destruição e, em vez disso, construir uma verdadeira segurança mútua. O coronavírus representou um alarme para o mundo. Estamos experimentando em primeira mão como investir centenas de bilhões de dólares no desenvolvimento, fabricação, testes e a instalação de armas nucleares, além de não nos tornar seguros, também privou a comunidade humana dos recursos necessários para alcançar a verdadeira segurança humana: suficiência alimentar, moradia, trabalho, formação escolar, acesso à assistência sanitária.
Diante do coronavírus, as esperanças de sobrevivência nas nossas comunidades foram baseadas no sacrifício da linha de frente das equipes de atendimento. No entanto, como a Cruz Vermelha Internacional adverte, esses socorristas não existiriam no caso de um ataque nuclear: os médicos, os enfermeiros e as infraestruturas sanitárias seriam eliminados. Nem os socorristas externos, na medida em que sobrevivessem, poderiam acessar com segurança as áreas expostas às radiações.)
Enquanto a própria Terra está vivenciando uma nova inesperada experiência de cura e renascimento, devido à temporária interrupção de atividades humanas prejudiciais, um ataque nuclear teria o efeito oposto. Nem a Terra nem nenhuma de suas criaturas seriam poupadas do envenenamento produzido pela radioatividade resultante de uma guerra nuclear, mesmo que limitada. As plantações murchariam e desapareceriam, enquanto a luz do sol seria bloqueada pelas nuvens atmosféricas de poeira produzida.
Como comunidade humana, estamos aprendendo duras lições sobre a nossa segurança coletiva durante esta pandemia global. Chegou a hora de enfrentar o desafio e aproveitar a oportunidade para fazer as mudanças necessárias para proteger nosso futuro. Mas a janela de tempo que nos resta poderia ser muito curta. Se não conseguirmos agir agora e de maneira decisiva para eliminar as armas nucleares da face da Terra, estaremos jogando perigosamente não apenas com a pandemia, mas também com extinção total.
O tratado sobre a proibição total de armas nucleares, aprovado na ONU em 2017, tem crescente apoio mundial. Para se tornar efetivo, no entanto, são necessárias outras assinaturas para superar o limite necessário de cinquenta países.
O próprio Vaticano o ratificou há muito tempo e as Conferências dos Bispos Católicos do Japão e do Canadá pedem que seus governos façam o mesmo. Em nome da Pax Christi International e da Pax Christi Italia, solicitamos a Conferência Episcopal Italiana, por ocasião do 75º aniversário dos bombardeios atômicos, para pedir ao governo que assine o tratado.
Florença, 27 de julho de 2020.
D. Giovanni Ricchiuti, Bispo de Altamura-Gravina-Acquaviva delle Fonti e Presidente Nacional da Pax Christi
Pe. Renato Sacco, coordenador nacional da Pax Christi
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A pandemia de Covid19 torna ainda mais evidente a necessidade de abolir as armas nucleares, defende Pax Christi Internacional - Instituto Humanitas Unisinos - IHU