26 Junho 2020
“The Next Pope”, o próximo papa, é o mais recente esforço jornalístico de Edward Pentin, vaticanista do National Catholic Reporter. Um conclave não está em vista, mas alguns ambientes católicos decidiram pensar em perspectiva. Até porque, depois de Bento XVI, não é óbvio que se deva esperar a morte de um pontífice para eleger um sucessor.
A reportagem é de Francesco Boezi, publicada por Inside Over, 25-06-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“O próximo papa”, novo livro do vaticanista estadunidense Edward Pentin (Imagem: Divulgação)
O Papa Francisco poderia decidir se tornar “emérito”. Bergoglio parece ter apreciado a novidade introduzida por Ratzinger, a do pontífice emérito. Em suma, o exercício de Pentin é mais do que lícito e, do ponto de vista do autor do livro, que deve ser publicado na Itália até o fim do ano, também é útil para os cardeais.
Por que um livro sobre o sucessor de Bergoglio?
Em um conclave, geralmente, não é apenas o público que tem pouco ou nenhum conhecimento sobre o futuro papa. Talvez, surpreendentemente, nem mesmo os cardeais que estão votando nele. No último conclave de 2013, um cardeal declarou de forma memorável que havia achado confusas as informações recebidas, e outros se queixaram da falta de informações sobre aqueles em quem se votava. Esse problema tornou-se mais agudo desde que o Papa Francisco deixou de realizar reuniões pré-consistório do Colégio Cardinalício. Tradicionalmente, o evento é uma boa oportunidade para os cardeais se encontrarem e se conhecerem. Portanto, este livro tem como objetivo principal equipar cardeais e fiéis em geral com um conhecimento detalhado sobre alguns cardeais que acreditamos que poderiam ser eleitos papa.
O livro trata de 19 perfis: essa afirmação está correta? Por que esses 19?
Sim, o livro contém 19 perfis papáveis. Nós os escolhemos porque consideramos que eles têm as maiores possibilidades de serem eleitos papa, dado o seu histórico, a sua reputação e a sua classificação na Igreja, embora, naturalmente, como diz o velho ditado romano, “quem entra papa no conclave sai cardeal”. Ou, como disse um amigo, espera-se que o próximo papa não seja o 20º – aquele que não incluímos!
Poderia nos dizer alguns nomes dos “candidatos”? E também o “porquê” deles?
Compusemos o perfil de uma série de candidatos, tanto da “esquerda” quanto da “direita” eclesiásticas. Portanto, por um lado, temos o cardeal estadunidense Raymond Burke e o cardeal guineense Robert Sarah – ambos vistos como conservadores e ortodoxos. E, por outro, temos o cardeal filipino Luis Tagle e o secretário de Estado vaticano, o cardeal italiano Pietro Parolin, considerados mais como a ala da esquerda ou da centro-esquerda da Igreja.
Digo-lhe alguns nomes: Tagle, Sarah, Parolin. Algumas previsões sobre o futuro do Vaticano giram em torno desses três nomes. Você concorda?
Em nível pessoal, sim, embora o livro não apresente uma classificação e não preveja qual dos 19 poderia ser eleito. Desse modo, ele é diferente dos prognósticos jornalísticos usuais e, em vez disso, tenta simplesmente dar o máximo de fatos possível aos leitores para permitir que eles tomem uma decisão sobre quem deveria ser eleito.
O que você acha do cardeal Zuppi? O papado poderia voltar para Roma?
Acho que ele poderia ser um forte concorrente, certamente nos próximos anos, mas apenas se o Colégio dos Cardeais quiser um pontificado semelhante ao do Papa Francisco. Não tenho tanta certeza, nesta fase, de que é isso que eles querem.
Você acha que Francesco poderia renunciar? Bergoglio será o novo “papa emérito”?
Certamente é possível que ele possa renunciar, e há muitas teorias por aí. Uma é que Francisco poderia renunciar talvez em julho, mas que está esperando que Bento morra antes. Bergoglio também teria tentado indicar um sucessor privilegiado, e muitos pensam que essa pessoa é o cardeal Tagle. Outros acham que é altamente improvável que Francisco renuncie, especialmente porque ele claramente tem um plano para reformar a Igreja, alinhado com a sua visão pessoal.
Quem teve a ideia deste livro? Ao longo dos anos, muitos atacaram a hipótese de que alguém pudesse “fichar” os cardeais...
A ideia, na realidade, tornou-se comum: acho que este livro é um dos três projetos semelhantes, embora não idênticos, que visam a fornecer aos fiéis um conhecimento completo dos principais candidatos cardeais a se tornar papa. Esse projeto em particular nasceu com um pequeno grupo de fiéis que desejam permanecer anônimos. Não vemos isso como algo problemático ou contrário à tradição da Igreja. Pelo contrário, como eu explico no livro, pelo menos até 1550, nos dias que antecediam um conclave, eram publicados em Roma avisos públicos e panfletos, precursores do jornal, com listas dos candidatos. Mas eram frequentemente cheios de boatos, então a tarefa de compilar biografias credíveis e confiáveis dos cardeais era deixada aos diplomatas e a outros escribas de confiança. Este livro pretende seguir esta última tradição.
Do ponto de vista do conclave, já é possível dizer que existe uma “maioria bergogliana”?
Seguindo os números, o Papa Francisco já escolheu a maioria dos cardeais eleitores – 67 dos 128 até o fim de 2019. Mas não é óbvio que todos votarão no sucessor favorito de Francisco, e outro ditado romano é útil aqui: “A um papa gordo, segue-se um magro” – em outras palavras, é bem provável que um papa muito diferente virá depois de Francisco, alguém que contrasta com o seu antecessor em termos de “conservadorismo” e “progressismo”.
Se você tivesse que citar dois nomes, um para a parte conservadora da Igreja e outro para a parte progressista, quais seriam? Ouellet e Maradiaga?
Eu diria que, para a parte conservadora, o cardeal Sarah, e para a progressista, o cardeal Tagle, embora seja importante enfatizar que eles provavelmente não se veem dessa maneira. O cardeal Tagle, por exemplo, não gosta de tais rótulos.
Nas suas intenções, quem deveria ler o seu livro?
Este livro é para qualquer pessoa interessada em quem poderia ser o próximo papa, começando obviamente pelos eleitores do Colégio Cardinalício, mas estendido também a todos os fiéis. Mesmo que não haja uma votação marcada, é importante saber quem poderia guiar os mais de um bilhão de católicos do mundo e, portanto, por quem rezar. Para os leitores italianos, planejamos traduzir o livro até o fim do ano.
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Quem será o próximo papa? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU