04 Março 2020
Scicluna e Bertomeu, que realizaram trabalho semelhante no Chile, se reunirão com vítimas, bispos e religiosos. A Congregação para a Doutrina da Fé não aborda o trabalho como uma punição.
A reportagem é publicada por Vida Nueva Digital, 03-03-2020.
A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) ordenou que seu vice-secretário, Charles Scicluna, arcebispo de Malta, e dom Jordi Bertomeu, oficial do mencionado Dicastério do Vaticano, viajem ao México para ajudar a Igreja local em sua resposta ao desafio do abuso sexual de menores cometido por eclesiásticos. A missão especial de Scicluna e Bertomeu acontecerá na Cidade do México no final de março, segundo apurou Vida Nueva.
Os dois especialistas em pedofilia eclesiástica, que já realizaram uma tarefa semelhante no Chile em 2018, planejam se reunir na capital asteca com os bispos do país latino-americano e superiores de institutos religiosos, além de ouvir todas as pessoas que desejam oferecer seus testemunhos relativos casos de pedofilia ou encobrimento dentro da Igreja. Os enviados do Vaticano realizarão essas reuniões na sede da nunciatura apostólica da Cidade do México para garantir a absoluta confidencialidade das vítimas e testemunhas.
O arcebispo Franco Coppola, representante da Santa Sé no país latino-americano, já informou a missão de Scicluna e Bertomeu a Rogelio Cabrera López, arcebispo de Monterrey e presidente da Conferência Episcopal Mexicana (CEM). O Vaticano propõe o trabalho dos dois enviados da CDF não como uma punição ou inspeção, mas como uma ajuda para a Igreja local melhorar sua resposta ao flagelo do abuso.
O Pontífice decidiu sobre esta missão no México depois de receber algumas informações sobre as dificuldades que alguns representantes da hierarquia eclesiástica teriam para aplicar as últimas mudanças na legislação sobre proteção de menores e encobrimento de casos de pedofilia. O trabalho de Scicluna e Bertomeu tocará a situação dos Legionários de Cristo, que foram novamente abalados por vários episódios de abuso, mas não se limitarão apenas a esta importante congregação; eles enfrentarão a realidade da Igreja mexicana como um todo.
Coppola está desde sua nomeação em 2016 como enviado do papa no país latino-americano tentando melhorar a resposta eclesial a essa praga. Em fevereiro passado, ele viajou a Roma para relatar em primeira mão como esse trabalho tem sido feito. Por isso, reuniu-se com Francisco e os responsáveis pela CDF e pela Congregação para Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.
“Nestes três anos, houve um grande trabalho da CEM para lidar com esses abusos e punir os padres culpados. Acho que posso dizer que hoje os bispos mexicanos estão conscientes de suas obrigações e estão alinhados com a posição do papa Francisco”, disse Coppola à revista Proceso em entrevista publicada em fevereiro passado, na qual fez referência aos casos mais recentes nos Legionários de Cristo. Ele reconheceu que, durante anos, o Vaticano “foi pouco ativo e atento” a esse problema e pediu a retirada das “maçãs podres para que outros não apodreçam”.
O núncio reconheceu que muitas vítimas não haviam apresentado queixas por “medo”, um sentimento qual ele queria “libertar mexicanos”. Em sua entrevista à revista acima mencionada, Coppola explicou como foi seu encontro com o Papa: “Informei-o sobre a situação no México, sobre esse caminho que seguimos, e ele me disse que era necessário continuar incentivando as instâncias eclesiais diocesanas do México para que cumpram plenamente seu papel na defesa das vítimas e conversar com as congregações do Vaticano interessadas para coordenar o trabalho. Eu já fiz isso e (as congregações) me prometeram que haverá colaboração total”.
Em janeiro passado, Coppola confessou à agência Notimex que os episódios de pedofilia nos Legionários de Cristo lhe davam “muita tristeza e vergonha” e anunciou que “tentamos fazer com que isso nunca mais aconteça”. Essa congregação iniciou em 20 de janeiro seu capítulo geral em Roma, no qual, além de eleger o americano John Connor como o novo diretor geral, publicou dois documentos com as decisões e compromissos sobre como tentar encerrar os casos de pedofilia e melhorar a resposta às vítimas.
A Igreja Católica mexicana investigou 271 padres por denúncias de abusos a menores na última década, segundo informou a CEM, em 14 de janeiro deste ano. São 217 os padres demitidos do estado clerical devido a esses delitos. Naquela audiência, o presidente do episcopado pediu às autoridades civis que eliminem a prescrição desses crimes, que se produz agora aos dez anos.
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X Colóquio Internacional IHU. Abuso sexual: Vítimas, Contextos, Interfaces, Enfrentamentos
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O Vaticano envia uma missão especial ao México para melhorar a resposta ao abuso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU