24 Janeiro 2020
Enquanto os Legionários de Cristo realizam seu capítulo geral em Roma, muitos se preocupam com o fato de que vários auxiliares próximos do desonrado fundador da ordem são delegados no encontro.
A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada por La Croix International, 22-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Legião de Cristo abriu seu Capítulo Geral em Roma no dia 20 de janeiro, em um encontro que deveria apresentar um rosto novo e arrependido da congregação cerca de 15 anos depois que seu fundador, Marcial Maciel, foi revelado como um pedófilo em série e usuário de drogas. Em vez disso, o capítulo começou em meio a uma tempestade que o desonrado fundador, na verdade, criou.
E isso deixou muitos se perguntando se algo realmente mudou na Legião, apesar de ela ter passado por um “processo de renovação” imposto pelo Vaticano.
Na semana passada, a congregação anunciou que o Papa Francisco havia demitido um de seus membros do estado clerical. Fernando Martínez foi condenado por estuprar meninas em uma escola em Cancún (México), onde ele esteve nos anos 1990.
Além de seus crimes, a Associated Press divulgou um encobrimento sistemático que permitiu que o ex-padre fugisse da justiça por muitos anos. E que envolveu até o Vaticano.
O cardeal Velasio DePaolis, a quem Bento XVI nomeou como seu delegado para supervisionar o governo e a reforma da Legião de Cristo, foi informado dos feitos de Martínez no início dos anos 2010. Mas DePaolis, que morreu em 2017, não denunciou os crimes às autoridades civis do México ou a qualquer autoridade da Igreja.
As revelações criaram um novo escândalo no México, tanto que até o atual núncio apostólico se manifestou. O arcebispo Franco Coppola, que é o enviado vaticano no país latino-americano desde 2016, ofereceu seu apoio às vítimas nos novos procedimentos. O italiano de 62 anos disse esperar que “a Congregação para a Doutrina da Fé (...) cuide dessa rede de encobrimento ressaltada pelas declarações das vítimas”.
Entre as personalidades renomadas que estiveram envolvidas no encobrimento está o Pe. Eloy Bedia. O padre espanhol foi superior dos legionários no México durante os anos 1990 e foi o primeiro a ignorar as acusações contra Martínez. Em vez disso, ele transferiu o pedófilo acusado para a Espanha, onde ele foi autorizado a continuar trabalhando com crianças.
Na segunda-feira, à luz do novo escândalo, Bedia concordou em não comparecer ao Capítulo Geral da Legião em Roma, mesmo tendo sido eleito como um de seus delegados.
É essa mesma eleição que hoje preocupa as vítimas. Elas ressaltam que vários ex-assessores de Maciel foram eleitos delegados para o capítulo.
O México, coração histórico da Legião, elegeu os padres Luis Garza (principal assistente de Maciel e número dois da ordem entre 1992 e 2011) e Evaristo Sada (secretário geral no mesmo período), assim como o padre Anthony Bannon. Ele foi responsável pela América do Norte entre 1976 e 2004 e líder de uma vasta rede financeira que deu aos legionários o apelido de “Milionários de Cristo”.
O próprio fato de os legionários do México terem escolhido esses três homens como delegados capitulares mostra que a velha guarda ligada a Maciel ainda exerce grande influência dentro da Legião. De acordo com a revista mexicana Proceso, existem cerca de 20 desses “macielistas” entre os 66 delegados.
“As rédeas da reforma ainda estão sendo detidas pelos homens de Maciel”, disse o ex-legionário Victor Pajares em setembro passado. Ex-reitor da faculdade de bioética da universidade da Legião em Roma, o Pontifício Athenaeum Regina Apostolorum, Pajares escreveu uma carta aberta ao capítulo, pedindo que seus ex-coirmãos rompam definitivamente com o legado de Maciel. Ele também pediu que eles parem de considerá-lo como fundador e parem de vender uma história revisionista da congregação como uma “história sagrada”.
Mas as vítimas de Maciel e ex-legionários se perguntam se isso é mesmo possível. Diante daquele que parece ser um fracasso no processo de reforma iniciado por Bento XVI, eles falam abertamente sobre a adoção de uma solução que foi rejeitada em 2010: dissolver totalmente a Legião de Cristo e admitir que ela não pode ser reformada.
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É hora de fechar a Legião de Cristo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU