03 Fevereiro 2020
A punição imposta pelo governo dos Estados Unidos a treze militares envolvidos no massacre de seis padres jesuítas e duas mulheres, em 1989, em El Salvador, é um “reconhecimento tardio” do crime, avaliou o padre José María Tojeira, um dos principais impulsionadores do processo penal.
A reportagem é publicada por Religión Digital e reproduzida por CPAL Social, 31-01-2020. A tradução é do Cepat.
Os Estados Unidos puniram 13 militares aposentados, em uma ação que consiste na proibição da entrada deles e de membros de sua família imediata no país norte-americano.
José María Tojeira, padre jesuíta e diretor do Instituto de Direitos Humanos da UCA (Fonte: Religión Digital)
Para Tojeira, ex-reitor da jesuíta Universidade Centro-Americana (UCA) e diretor do Instituto de Direitos Humanos da mesma instituição, essa punição é um reconhecimento do processo penal, de inícios dos anos 1990, e do Relatório da Comissão da Verdade da ONU, de 1993.
Este relatório descreve os crimes contra a humanidade perpetrados durante a guerra civil salvadorenha (1980-1992), incluindo o caso dos jesuítas.
“São reconhecimentos um pouco tardios e mais ainda com a informação que os norte-americanos sempre tiveram sobre esse caso”, disse Tojeira, acrescentando que “nos documentos vazados dos Estados Unidos aparecem muito mais nomes” que os que foram punidos.
O dia em que mataram Ellacuría (Foto: Religión Digital)
Recordou que no relatório da ONU “aparecem outros vinculados” e “não lhes negam o visto”, como o deputado do Congresso, Rodolfo Parker, do Partido Democrata Cristão (PDC).
O deputado é apontado por um relatório da ONU de 1993 como responsável por alterar declarações sobre o massacre “para ocultar as responsabilidades de altos oficiais no assassinato”, quando era membro de uma “comissão de honra” nomeada pelo governo para investigar o caso.
Tojeira também explicou que no processo na Espanha outras pessoas são acusadas de “cúmplices, conspiradoras, indutoras e facilitadoras” e também não foram punidas.
Os ex-militares punidos pelos Estados Unidos, de diferentes escalões, foram identificados como Juan Rafael Bustillo, Juan Orlando Zepeda, Inocente Orlando Montano Morales, Francisco Elena Fuentes, Guillermo Alfredo Benavides Moreno, Yusshy René Mendoza Vallecillos e José Ricardo Espinoza Guerra.
Completam o grupo Gonzalo Guevara Cerritos, Carlos Camilo Hernández Barahona, Óscar Mariano Amaya Grimaldi, Antonio Ramiro Ávalos Vargas, Ángel Pérez Vásquez e José Alberto Sierra Ascencio.
Via Crucis pelos mártires da UCA (Foto: Religión Digital)
Montano e Medonza enfrentam um processo na Espanha pelo massacre de cinco padres de origem espanhola.
Os jesuítas assassinados na madrugada de 16 de novembro de 1989 foram os espanhóis Ignacio Ellacuría, Segundo Montes, Ignacio Martín-Baró, Amando López e Juan Ramón Moreno, e o salvadorenho Joaquín López, também a empregada Elba e sua filha de 16 anos, Celina Ramos.
O processo em El Salvador está parado na Suprema Corte de Justiça, que atrasou em resolver uma contestação contra um juiz da Sala Criminal desse mesmo órgão.
Tal sala possui em seu poder um recurso de cassação dos advogados dos militares apontados como autores intelectuais, com o qual buscam anular o processo, cuja reabertura foi ordenada em abril de 2018 por um tribunal de paz.
Para Tojeira, que era o líder da Companhia de Jesus quando a matança foi registrada, a demora corresponde ao processo de criação de uma lei de “reconciliação nacional” no Congresso que pode trazer benefícios aos acusados, como penas fora da prisão.
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“A punição aos militares salvadorenhos é um reconhecimento tardio do massacre dos jesuítas”, avalia José María Tojeira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU