Por: MpvM | 08 Novembro 2019
"Hoje a teologia usa a linguagem do amor e da festa para se referir ao céu. Sabemos que o amor é a experiência mais plena e profunda do ser humano. Amar e ser amado é a maior aspiração desejada. Assim, o céu só pode ser experiência plena de amor, de comunhão. O céu é uma festa, sem distinção de gênero, religião, raças e culturas, onde criatividade e beleza nos leva a sentir a liberdade total. Essa esperança em um Deus de amor infinito, salvador em Cristo ressuscitado, leva-nos a acreditar que o seu desejo é que possamos desfrutar do reino de Deus, de uma vida justa e igualitária já aqui neste mundo."
A reflexão é de Maria Cristina Silva Furtado, teóloga leiga. Doutora e mestra em teologia sistemática pela PUC-RIO, especialista em Educação e Licenciada em Psicologia pela PUCRS e Psicóloga pelo CNP-MG, ela é também escritora, compositora e cantora, teatróloga, diretora teatral e palestrante. É pesquisadora no CEPECCIG/UFRJ/Macaé e no Grupo de Extensão e Pesquisa em Corporeidade - Cidadania e Gênero da Faculdade de Enfermagem, da UFRJ/Macaé/CNPQ e pesquisadora no Grupo de diversidade sexual - cidadania e religião, PUC-Rio/CNPQ.
Referências bíblicas
1ª Leitura - Mac 7,1-2.9-14
Salmo - Sl 16,1.5-6.8b.15 (R. 15)
2ª Leitura - 2Ts 2,16 - 3,5
Evangelho - Lc 20,27-38
A liturgia deste domingo nos leva a refletir sobre a importância da esperança na ressurreição. Já na primeira leitura (Mac 7,1-2.9-14), temos uma família israelita perseguida, na época de Antíoco, que pela fé na ressurreição consegue encontrar a coragem para enfrentar a tortura e a morte.
Na segunda leitura (2Ts 2,16 - 3,5) encontramos a necessidade de orarmos uns pelos outros para que a Palavra de Deus possa alcançar os seus objetivos, dirija os nossos corações no amor de Deus e na esperança em Cristo.
Por fim, o Evangelho (Lc 20,27-38) traz um grupo de Saduceus, que tenta confundir Jesus trazendo a história fictícia de uma viúva que, por não ter filho homem, segundo a lei, deveria se casar com o irmão do marido para garantir-lhe a posteridade. Mas este irmão também morre antes de lhe dar filhos, e o outro cunhado que se casa com ela também morre, deixando-a sem filho varão; e assim ela se casa, sucessivamente, até o último irmão. Por fim, vem a pergunta. Quando esta mulher morrer, de qual irmão será a mulher, pois os sete irmãos a tiveram como mulher?
A história contada e a pergunta são baseadas na lei do Levirato, feita principalmente para preservar a continuidade do nome e as propriedades do falecido entre as ricas famílias saduceias de Jerusalém. A lei determina que o cunhado se case com a mulher do irmão que não tiver filho varão. Para a mulher, mesmo não sendo este o principal objetivo da lei, de certa forma a protegia. A mulher naquela época, em Israel, era considerada propriedade do marido, e quando ficava viúva, se não tivesse quem a defendesse, acabava perdendo o que possuía, pois seus direitos não eram respeitados e a lei civil e religiosa não a ajudava.
Os saduceus não acreditavam na ressurreição. Para eles, a vida e o templo eram o mais importante, já que lhes davam riqueza e poder, e era isto que importava. Assim, com essa pergunta pretendiam ridicularizar Jesus.
A resposta de Jesus foi precisa. A vida após a morte não significa estar sujeito a leis físicas ou biológicas, pois não é um prolongamento desta vida. É algo novo. A ressurreição não reproduziria as estruturas patriarcais existentes nesta vida, beneficiando os homens em detrimento das mulheres. A vida eterna não perpetuaria as desigualdades, os abusos e as injustiças dessa vida. A vida junto a Deus é totalmente nova, pois é sustentada pelo amor de Deus. Então podemos prever que ela esteja livre das diferenças entre homens e mulheres, pobres e ricos, da discriminação ao diferente, pois o amor de Deus é incondicional.
Paulo, ao se referir à vida eterna, em Corinto, disse que se tratava de algo que “o olho nunca viu, nem o ouvido ouviu, nem homem algum imaginou, algo que Deus preparou para os que o amam.”
No mundo vindouro não haverá morte, pois todos que lá estiverem serão iguais aos anjos e filhos de Deus, oriundos da ressurreição. Para Jesus, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó é o Deus dos vivos, pois mesmo após a morte deles, continua sendo Deus, protetor, amigo e fiel ao seu povo. Para Deus não há mortos e vivos, todos estão vivos porque o seu amor é mais forte do que a morte. Ele é fonte inesgotável de Vida e se compadece de todos que não sabem ou não conseguem viver de maneira digna. Deus ama, perdoa e se compadece por todos os seus filhos.
Hoje a teologia usa a linguagem do amor e da festa para se referir ao céu. Sabemos que o amor é a experiência mais plena e profunda do ser humano. Amar e ser amado é a maior aspiração desejada. Assim, o céu só pode ser experiência plena de amor, de comunhão. O céu é uma festa, sem distinção de gênero, religião, raças e culturas, onde criatividade e beleza nos leva a sentir a liberdade total. Essa esperança em um Deus de amor infinito, salvador em Cristo ressuscitado, leva-nos a acreditar que o seu desejo é que possamos desfrutar do reino de Deus, de uma vida justa e igualitária já aqui neste mundo. Uma vida que, embora ainda não em plenitude, seja possível viver com dignidade, e seguindo os passos de Jesus, espalhar o amor de Deus aos nossos irmãos e irmãs necessitadas, trabalhando para que seja possível viver com mais igualdade, solidariedade, respeito ao diferente, de acordo com a ética de Cristo, onde a justiça, o amor e a misericórdia são prioridades. Precisamos, mais do que nunca, lembrar que “Deus não é um Deus dos mortos, mas de vivos”. E ele quer que todos e todas, sem exceção, tenham uma vida plena e feliz, agora e por toda a eternidade.
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32º domingo do tempo comum - Ano C - A novidade do amor incondicional de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU