16 Outubro 2019
Jeremy Rifkin é tão otimista como apenas um americano pode ser e está tão preocupado com o meio ambiente quanto uma jovem europeia chamada Greta Thunberg. O economista estadunidense Jeremy Rifkin tem 74 anos e aborda o problema do século. Isso é o que Rifkin diz hoje sobre o que se considera a implementação de medidas ambiciosas para impedir as mudanças climáticas como um ataque direto à sensatez econômica: “A civilização erguida sobre combustíveis fósseis entrará em colapso de qualquer modo, provavelmente até 2028”. E acrescenta: “Porque agora o mercado está falando”.
A reportagem é Andreas Rostek-Buetti, publicada por Deutsche Welle, 10-10-2019. A tradução é do Cepat.
Rifkin desenvolve no livro que acaba de apresentar na Alemanha, The Green New Deal, que é especificamente o que diz “o mercado”. Rifkin tem reputação como assessor político e pesquisador sobre o futuro econômico. Seu livro revolucionário sobre o “fim do trabalho” pela digitalização já tem mais de 20 anos.
A mudança impulsiona o mercado
Jeremy Rifkin considera que “é difícil para as pessoas imaginarem que estamos às portas do colapso da civilização das energias fósseis, com as quais vivemos 200 anos”. E acrescenta, em conversa com Deutsche Welle: “Neste ano, os custos da energia solar e eólica serão menores que os da energia atômica, petrolífera, do carvão e também do gás”. Segundo Rifkin, já estamos vivendo dentro de uma enorme bolha baseada em “investimentos de capital ancorados na indústria de energia fóssil”.
Rifkin oferece números a esse respeito em seu novo livro. A proporção de energias renováveis em 2017 era de apenas 3%. Mas, para Rifkin, o decisivo é a taxa de crescimento. E com 14% de renováveis em todas as fontes energéticas “alcançou-se um ponto sem retorno: o colapso da economia baseada em energias fósseis impulsiona então o mercado”.
Para Rifkin, os grandes fundos americanos, com um volume de mais de 42 bilhões em 2017, serão os principais atores na mudança energética: deveram se afastar das energias fósseis simplesmente porque não serão mais lucrativas. O tempo urge, assim como os manifestantes do movimento Friday for Future (Sexta-feira para o Futuro), Rifkin aponta: “Temos 12 anos para remodelar nossa civilização ou enfrentaremos uma mudança climática que já é impossível de controlar. Trata-se de um momento perturbador, mas também é uma oportunidade”. Não por acaso, seu New Deal verde faz alusão ao New Deal de Franklin D. Roosevelt, um pacote de medidas para tirar o país da crise econômica, nos anos 1930 do século passado. Entre outras coisas, com grandes programas de investimento em energia e infraestruturas.
“As cidades entram em jogo”
Rifkin fala sobre os atores que podem contribuir para salvar o clima: “O mercado pode ser um agente poderoso”, diz à Deutsche Welle, “mas isso não é suficiente”. É necessária uma nova infraestrutura para o novo tempo: “É aí que entram em jogo as cidades e as regiões”. “Os governos devem contribuir com os projetos da nova infraestrutura e devem integrar as comunidades nos processos de transformação”. Talvez seja a isso que Merkel se referiu quando falou sobre o pacote de medidas contra as mudanças climáticas: “A política é o que é possível”.
Rifkin acredita que, às vezes, é necessário que a rua pegue a mão da política para lhe mostrar “o que é possível”. “Está justificado que os jovens saiam às ruas e digam aos pais: 'Podemos viver neste planeta? Poderemos sobreviver?’”. O autor é, de qualquer modo, otimista: “Temos os instrumentos para uma terceira revolução industrial. Existe a tecnologia e o mercado fala, os preços demostram isso”, conclui Rifkin.
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“Estamos enfrentando o colapso da civilização das energias fósseis”, afirma Jeremy Rifkin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU