15 Outubro 2016
O Paraná poderá apresentar dias mais secos e mais quentes nos próximos 25 anos. De acordo com as projeções feitas, a região nordeste do estado poderá ter um aumento de até 5,6°C na temperatura e uma diminuição de 18% no volume de chuvas. Os dados são de um estudo inédito, que avaliou a vulnerabilidade de 399 municípios paranaenses à mudança do clima. A pesquisa coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) faz parte do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima, feito em parceria com o Ministério do Meio Ambiente.
A reportagem é de Reginaldo Alves, publicada por Fiocruz e reproduzida por EcoDebate, 14-10-2016.
Fonte: Fiocruz
A apresentação dos resultados sobre a pesquisa ocorreu durante o Seminário Indicadores de Vulnerabilidade à Mudança do Clima, realizado (10/11) em Curitiba, no Paraná. Para o coordenador do projeto, Ulisses Confalonieri, a pesquisa desenvolvida será muito útil para a administração estadual. “Por meio do estudo e da criação de uma ferramenta, um software, gestores poderão identificar quais cidades estarão mais e menos vulnerável às alterações do clima e as mais aptas a se recuperarem de possíveis impactos climáticos”, avalia o pesquisador.
O estudo feito sobre os municípios paranaenses aponta que as populações que vivem no norte do estado, possivelmente terão que lidar com o aumento da temperatura, que poderá subir até 5°C nos próximos 25 anos. Em municípios como Jardim Olinda, São João do Caiuá e Alvorada do Sul essa elevação pode chegar a 5,6°C em relação ao período atual.
O norte do Paraná também poderá ser a região mais impactada pela diminuição no volume de chuvas. Os destaques são os municípios de Alvorada do Sul com uma redução de 17% e Porecatu com uma queda de 18% para os períodos de estiagem. A situação é diferente nas regiões sul e sudeste do estado, onde poderá ocorrer um aumento na precipitação. Por exemplo, a cidade de General Carneiro poderá ter 20% de acréscimo na pluviosidade e Palmas poderá ter 18%.
Fonte: Fiocruz
Segundo as projeções feitas, a região sudeste do estado poderá ser a mais afetada em relação ao número de dias secos consecutivos no ano, índice chamado de CDD. As cidades de Pontal do Paraná e Matinhos, por exemplo, apresentaram os CDDs mais elevados, com um aumento de dias seguidos sem chuva de até 43% e 40%, respectivamente.
Fonte: Fiocruz
Na capital paranaense e região metropolitana, a temperatura poderá aumentar mais de 3°C no período de 2041 a 2070. Essa elevação também ocorrerá no número de dias seguidos sem chuva, que pode chegar até 30%. No entanto, a precipitação se mantém quase a mesma ao ser comparada com a atualidade, apresentando um incremento de até 2%. Esse cenário ocorre por causa da concentração do volume de chuvas em espaços curtos de tempo, possibilitando o aumento de eventos extremos de origem meteorológica e doenças associadas ao clima.
O Paraná foi o estado escolhido para representar o sul do país no projeto, que também avalia a vulnerabilidade dos municípios à mudança do clima em outros cinco estados: Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Pernambuco.
Para a realização do estudo são consideradas informações sobre a realidade social, econômica, ambiental e de saúde atual dos municípios do estado, que são associadas a dados de previsões para o futuro do clima. A proposta não é avaliar de forma comparativa somente as cidades mais vulneráveis às possíveis alterações climáticas, mas também identificar quais são estas vulnerabilidades. A partir da combinação e análise dessas informações, é possível calcular o Índice Municipal de Vulnerabilidade (IMV).
“A vulnerabilidade é calculada a partir de três elementos – exposição, sensibilidade e capacidade adaptativa. O primeiro diz respeito ao histórico de eventos climáticos extremos dos municípios, como deslizamentos, secas, granizos e vendavais com a preservação da vegetação nativa. O segundo indica a intensidade com a qual as cidades são suscetíveis aos impactos do clima e o terceiro se relaciona com a capacidade institucional e organização dos municípios em lidar com as mudanças do clima”, enfatiza Confalonieri.
As previsões indicaram que os municípios do norte do estado foram os mais expostos à mudança do clima, devido o clima mais seco nesta região e a destruição da vegetação nativa. Segundo os dados apontados no estudo, Querência do Norte foi a cidade mais vulnerável a este índice. Tamarana foi considerado o município mais sensível, em virtude do perfil socioeconômico da população e saneamento inadequado.
Em relação à capacidade adaptativa, Umuarama, Curitiba e Londrina foram considerados os mais adaptados para lidar com as alterações do clima, devido à existência de infraestrutura de saúde, como leitos hospitalares, plano de contingência de desastres e maior atuação da Defesa Civil. Cerro Azul seria a cidade menos adaptada.
As previsões feitas na pesquisa indicam impactos diretos nos municípios paranaenses. Dentre eles, está a proliferação de vetores, como o Aedes Aegypti e, consequentemente, o aumento no número de doenças por causa da elevação da temperatura.
Outra consequência apontada é a possível diminuição da biodiversidade, em virtude das alterações no ciclo reprodutivo de plantas e animais. Também é importante destacar os efeitos da mudança do clima na agricultura, principalmente nas áreas que, no futuro, estarão mais quentes e com menos chuva.
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Pesquisa inédita, coordenada pela Fiocruz, mapeia mudanças do clima no Paraná - Instituto Humanitas Unisinos - IHU