A mudança climática pode nos deixar sem Jogos Olímpicos no futuro próximo

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26 Agosto 2016

“Agora, o futuro da maratona em particular, e dos Jogos Olímpicos em geral, podem estar em perigo. Um relatório que acabar de ser publicado pela revista médica britânica The Lancet dá a entender que até o ano 2085 quase todas as cidades que poderiam sediar os Jogos Olímpicos seriam muito quentes para realizar eventos ao ar livre”, escrevem Amy Goodman e Denis Moynihan, em artigo publicado por Democracy Now, 19-08-2016. A tradução é de André Langer.

Eis o artigo.

Conta a lenda que a primeira maratona aconteceu na Grécia Antiga, em 490 a.C. Os atenienses tinham impedido a invasão dos persas e enviaram um mensageiro para que levasse, correndo, a notícia da vitória do lugar da batalha, a cidade de Maratona, até a capital, Atenas. Correu cerca de 40 quilômetros, entregou a mensagem e, ato contínuo, caiu e morreu ali mesmo. Os historiadores questionam a veracidade da lenda, mas segue sendo um mito fundacional do popular acontecimento.

Agora, o futuro da maratona em particular, e dos Jogos Olímpicos em geral, podem estar em perigo. Um relatório que acabar de ser publicado pela revista médica britânica The Lancet dá a entender que até o ano 2085 quase todas as cidades que poderiam sediar os Jogos Olímpicos seriam muito quentes para realizar eventos ao ar livre.

Kirk Smith, catedrático de saúde ambiental da Universidade da Califórnia, Berkeley, liderou a equipe que redigiu o artigo para o The Lancet. Smith escreveu: “A maratona é a atividade que exige maior resistência e, por conseguinte, dá uma boa ideia de se as condições serão seguras para outros esportes olímpicos”.

O cientista observou que as temperaturas extremamente elevadas já provocaram o cancelamento de maratonas, como aconteceu em Chicago, em 2007. Durante as provas classificatórias para a escolha da equipe olímpica estadunidense que disputaria os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro este ano, realizadas em Los Angeles, 30% dos corredores abandonaram a corrida devido ao calor.

O relatório assinala que “em 2085, somente 8 das 543 cidades fora da Europa Ocidental com capacidade de receber os Jogos entrariam na categoria de baixo risco. Ou seja, apenas 1,5%”.

Os pesquisadores do The Lancet aproveitaram o fato de que os olhares de todo o mundo estavam voltados para os Jogos Olímpicos para apresentar um fato mais importante: “Depois de 2050, o mundo enfrentará graves dificuldades devido a que o grau e a velocidade da mudança climática poderiam exceder a capacidade de adaptação da sociedade”, escreveram os cientistas.

A metade dos trabalhadores do mundo trabalha ao ar livre, e os espaços exteriores, assim como os espaços interiores sem refrigeração adequada, são cada vez menos seguros. Advertem que “os ataques de calor após realizar esforço físico e suas consequências negativas, inclusive a morte, passarão a ser uma parte fundamental do trabalho ao ar livre em todo o mundo”.

Se tomarmos o exemplo de outro esporte, milhares de trabalhadores estão trabalhando em condições de calor extremo no Catar, construindo estádios para a Copa do Mundo de 2022, que acontecerá nesse país. A Confederação Sindical Internacional estima que “mais de 7 mil trabalhadores morrerão antes que se chute a primeira bola na Copa do Mundo de 2022”.

Estas terríveis condições reforçam a necessidade urgente de abordar a ameaça do problema climático. O Acordo de Paris alcançado em dezembro aspira a colocar um limite máximo de 1,5 a 2 graus Celsius no aumento médio da temperatura mundial. A ciência sugere, cada vez com maior contundência, que o clima está mudando mais rapidamente do que o previsto e que é necessário adotar medidas urgentes. Cada dia que passa em que se debate este problema e se adota soluções pela metade, o problema torna-se cada vez mais difícil, senão mesmo impossível, de solucionar.

Os Estados Unidos foram o maior emissor de gases de efeito estufa na história da humanidade. Eles queimaram combustíveis fósseis de forma desenfreada durante séculos. Segundo a Administração de Informação Energética do país, “mais de 80% do consumo total de energia nos Estados Unidos durante os últimos 100 anos é proveniente exclusivamente de três fontes de combustíveis fósseis: petróleo, gás natural e carvão”.

Embora o uso de fontes renováveis, principalmente a energia solar e eólica, esteja aumentando, elas representam uma pequena porção do que deveriam para cumprir as promessas feitas durante a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática realizada em Paris.

O presidente Barack Obama acaba de anunciar o que provavelmente será sua última ordem sobre padrões de veículos eficientes. Seu legado climático é consideravelmente limitado (considerando-se, evidentemente, que teve que enfrentar nestas questões a firme oposição dos negadores da mudança climática do Partido Republicano). Mas, o que dizer sobre os dois possíveis sucessores de Obama?

Hillary Clinton reconhece que a mudança climática é um problema urgente, mas deu um sinal contrário ao anunciar, esta semana, que sua equipe de transição estaria sendo chefiada pelo Ken Salazar, ex-secretário do Interior e ex-senador dos Estados Unidos pelo Colorado. Salazar promoveu com entusiasmo a fraturação hidráulica e apóia a construção do oleoduto Keystone XL e o Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP).

Donald Trump, por sua vez, descreveu a mudança climática como um “engano”. Enquanto Trump participou esta semana da sua primeira reunião informativa sobre informações secretas de segurança nacional dos Estados unidos, o Golfo do México está sendo açoitado por chuvas torrenciais e inundações. Pelo menos 11 pessoas morreram e mais de 20 mil foram evacuadas das suas casas em Baton Rouge e das áreas próximas.

No sul da Califórnia, continuam os incêndios florestais provocados pelas graves secas em consequência da mudança climática, que obrigaram mais de 82 mil pessoas a abandonarem suas casas. Julho foi o mês mais quente da história desde que os registros começaram a ser feitos. Como parte das informações secretas, deveriam mostrar a Trump as conclusões do Pentágono, que durante anos identificou a mudança climática como uma das piores ameaças à segurança nacional.

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