05 Setembro 2019
O pontífice fala no voo que o levava para Moçambique, recebendo de presente um livro sobre as manobras contra ele conduzidas pela galáxia da extrema direita católica dos Estados Unidos.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada em Corriere della Sera, 04-09-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Para mim, é uma honra que os americanos me ataquem.” No voo que o levava para Moçambique, Francisco sorri enquanto segura nas mãos um livro de capa listrada e estrelada, e de título eloquente: “Comment l’Amérique veut changer de Pape”, ou seja, “Como a América quer mudar o papa”. Escrito pelo jornalista Nicolas Senèze, do jornal católico La Croix, o livro foi publicado nessa quarta-feira, 4, na França e reconstrói as manobras realizadas no ano passado pela galáxia da extrema direita católica dos EUA para tentar pressionar o papa a renunciar e para orientar um novo conclave.
O autor presenteou um exemplar para Bergoglio, que o considerou com interesse: “Ah, ei-lo. Diziam-me que ainda não estava disponível”, e depois o entregou aos colaboradores para que o guardassem: “Isso é uma bomba!”. Essas exclamações de Francisco foram feitas enquanto ele caminhava serenamente até o fundo do avião e cumprimentava um a um os jornalistas que o acompanham na viagem.
Mas é claro que a frase sobre os norte-americanos soou muito dura, tanto que, dali a pouco, o porta-voz vaticano, Matteo Bruni, especificou: “Em um contexto informal, o papa quis dizer que sempre considera as críticas como uma honra, particularmente quando vêm de pensadores de autoridade e, neste caso, de uma nação importante”.
No entanto, foi notável a atenção do papa a uma questão que se tornou evidente a partir da carta do arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-núncio nos EUA, que em agosto do ano passado chegou a pedir a renúncia de Francisco, um ataque deliberado e organizado sobre o tema da luta contra a pedofilia. O texto foi divulgado por uma rede de blogs conservadores entre os EUA e a Itália, e foi apenas o começo.
O livro de Senèze lista todos os ataques do ano passado e mostra a sua matriz comum em um mundo norte-americano não muito consistente, mas muito bem financiado e representado por personagens como Steve Bannon.
São várias as coisas que incomodam a “galáxia” ultradireita no magistério do pontífice argentino: começando pela Igreja “pobres e para os pobres”, as críticas ao neoliberalismo e à “economia que mata”, a denúncia do tráfico de armas que prospera com as guerras, o diálogo com a China ou a defesa do ambiente, da encíclica Laudato si’ ao próximo Sínodo sobre a Amazônia.
Além disso, a própria viagem de seis dias à África subsaariana desdobrará uma parte desses temas. Francisco aterrissou no fim da tarde em Maputo; na sexta-feira, voará para Madagascar e, na próxima segunda-feira, chegará às Ilhas Maurício, antes de retornar para Roma na terça-feira.
Em Moçambique, Francisco chegou para apoiar o processo de paz que começou com o acordo de 1992, mas também visitará um centro para crianças de rua e um centro médico para o tratamento dos pacientes com Aids, e também falará sobre a crise climática e a rapina de recursos em um país atingido pelo desmatamento e devastado pelos ciclones. No avião, o papa convidou a rezar pelas vítimas dos furacões nas Bahamas.
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Papa Francisco: “Para mim, é uma honra que os americanos me ataquem” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU