24 Mai 2019
Daniel “se choca frontalmente com o modelo bíblico tradicional de justiça e sabedoria. Por isso, e ainda que não tenha sido incluído no rol de jovens veterotestamentários da ‘Christus vivit’, seria bom tê-lo presente e não o deixar no esquecimento”, escreve Pedro Barrado, biblista, em artigo publicado por Vida Nueva, 22-05-2019. A tradução é do Cepat.
Surpreendeu-me que na última Exortação Apostólica pós-sinodal, ‘Christus vivit’, o Papa Francisco não tenha mencionado Daniel entre os “jovens” do Antigo Testamento, apresentados como modelos. Com efeito, entre os números de 6 a 11 da Exortação, Francisco menciona José, Gedeão, Samuel, Davi, Salomão, Jeremias, a escrava judia de Naamã, o sírio, e Rute.
Sem querer corrigir ninguém – e menos ainda do Papa -, no meu modo de ver, teria sido muito oportuno mencionar Daniel neste contexto, tendo em conta que este jovem “sábio” irá enfrentar dois juízes não só anciãos, como também corruptos.
É verdade que este “jovem” Daniel aparece em um dos acréscimos gregos do livro bíblico de Daniel, considerados como Escritura só pelas tradições católica e ortodoxa e, portanto, ausentes das Bíblicas judaica e protestante. Concretamente, no episódio de Susana e os velhos verdes (Dn 13).
Como se recordará, Susana é o obscuro objeto de desejo de dois anciãos, eleitos nesse mesmo ano como juízes de Israel. Ambos denunciam falsamente Susana de adultério, e por isso será executada. Então, levanta sua voz um garoto (neôteros), que com sagacidade consegue revelar o plano dos anciãos e, assim, salvar a vida da mulher.
O que chama a atenção é o fato de ser justamente um jovem o verdadeiro sábio e justo, diante de dois anciãos malvados, quando na antiguidade bíblica – a Bíblia é um livro antigo, não velho – a sabedoria é patrimônio dos anciãos, já que são eles que possuem a experiência e, portanto, a capacidade para julgar.
Sendo assim, este Daniel é apresentando como um personagem contracultural, quase subversivo, já que se choca frontalmente com o modelo bíblico tradicional de justiça e sabedoria. Por isso, e ainda que não tenha sido incluído no rol de jovens veterotestamentários da ‘Christus vivit’, seria bom tê-lo presente e não o deixar no esquecimento.
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Por que o Papa não menciona Daniel na ‘Christus vivit’? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU