22 Janeiro 2019
Tanto as lideranças políticas quanto eclesiais são chamadas a ouvir aqueles que estão em contato com os que não têm voz.
A reportagem é de Arnaud Bevilacqua, publicada em La Croix Internacional, 21-01-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um mês depois de os bispos franceses pedirem diálogo e debate para acabar com a crise dos Coletes Amarelos, o padre Grégoire Catta SJ, diretor do Serviço Família e Sociedade da Conferência dos Bispos da França, faz um retrospecto da mobilização da Igreja local sobre a questão.
Por que a Igreja deveria se envolver nas discussões sociais sobre os coletes amarelos?
A Igreja vê como parte de sua missão envolver-se na crise dos Coletes Amarelos. É por isso que, em 11 de dezembro passado, os bispos lançaram um apelo ao diálogo e ao debate, apoiando-se na própria malha territorial da Igreja. Não podemos nos manter alheios ao que está acontecendo no país.
Isso porque os cristãos, e particularmente os bispos nas dioceses rurais, estão em contato direto com aquelas populações que estão se expressando atualmente. Muitos padres e bispos também foram parados ao longo da estrada enquanto se dirigiam a várias missas. A alegria e a felicidade dessas pessoas, assim como suas tristezas e angústias, também são as da Igreja.
Que mensagem a Igreja espera levar ao participar do debate?
Primeiro, e isso é essencial, ela convida ao diálogo. Ela precisa fazer isso em vista da definição do bem comum. Nós dialogamos para construir as coisas juntos. O papa nos assegura que, quando entramos em diálogo, aceitamos transformar a nós mesmos. Não é somente uma questão de negociação a fim de fazer as nossas próprias opiniões. Em segundo lugar, a Igreja convida as pessoas a ouvirem umas às outras. As lideranças políticas – assim como nós mesmos na Igreja – são chamadas a ouvir aqueles que estão em contato com os que não têm voz, embora os Coletes Amarelos não sejam os únicos que se encaixam nessa categoria.
Outra mensagem que precisa ser comunicada é a da Laudato si’, que nos encoraja a ouvir o clamor dos pobres, a defender uma sociedade mais justa e mais sustentável, e a enfrentar juntos o desafio da ecologia integral, combinando questões sociais e ambientais. Por fim, a Igreja também tem coisas a dizer sobre a sociedade do consumo, que é uma das causas da crise existencial que se manifesta. Como diz o papa, precisamos passar da sociedade do descarte à do encontro. Como em sua mensagem de Natal, ele associa a cultura do descarte à ganância. Na crise dos Coletes Amarelos, para além das reivindicações sociais, também percebemos uma demanda existencial: a de ser reconhecido, não como pessoas que compram ou possuem, mas pelo que somos. Isso exige uma conversão e uma transformação dos modos de vida da nossa sociedade como um todo.
Paróquias em Marselha, Toulouse, Borgonha, Loire-Atlantique e Caen estão se mobilizando. Qual é a extensão do envolvimento da Igreja na questão?
Talvez ainda seja um pouco cedo para dizer. Somos realistas sobre os nossos meios, mas viver o Evangelho significa se posicionar sobre a crise e agir. A mobilização, onde ocorreu, demonstra a vitalidade da Igreja. O bom aqui é que isso manifesta que a Igreja está em contato com aquilo que os franceses vivem e que não está no caminho errado. No entanto, ainda há trabalho a ser feito para articular essa capacidade de se engajar, reafirmando que a Igreja não oferece uma solução única e não defende um projeto político específico. Além disso, os católicos estão longe de ser unânimes quanto à crise dos Coletes Amarelos. O nosso guia aqui é o tesouro da doutrina social da Igreja. Não é novidade a Igreja se interessar em vários assuntos e não apenas na questão bioética. No entanto, existe um foco nas suas posições em relação às questões sociais.
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Bispos franceses não podem ficar alheios à crise dos ''Coletes Amarelos'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU