Por: Thalita Janaina Vasconcelos da Costa | 28 Novembro 2018
“O Sínodo Pan-Amazônico deixa algumas pistas que será um momento de esperança. Tanto em relação às mulheres, mas, sobretudo, em relação à própria juventude amazônica. Os clamores do Sínodo da Juventude, que não foram respondidos, mais uma vez poderão ser colocados”, aponta a jovem acreana Thalita Janaina Vasconcelos da Costa, graduanda de Ciências Sociais na Universidade Federal do Acre – UFAC, representante da Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude pelo Regional Noroeste, que compreende os estados do Acre, Rondônia e Sul do Amazonas.
Eis o comentário.
O anúncio do Sínodo foi como uma luz para a Igreja e para nós, jovens, da Pastoral da Juventude — PJ, que acreditamos no protagonismo da juventude, que é das nossas mãos que brotam as transformações da realidade. A sinodalidade que inspira a “caminhar juntos” é uma proposta motivadora a sermos francos e transparentes para expormos os nossos anseios, as problemáticas das juventudes, e por isso já foi um ganho imenso, o processo em si. Esse processo de abertura e escuta da Igreja denota uma sensibilidade do papa Francisco, como uma figura próxima da juventude, muito jovem e faz com que a juventude se identifique.
Porém agora, passadas algumas semanas desse encontro dos bispos em Roma, e tendo acesso ao ressoar do que foi discutido e aprovado no documento final, o sentimento talvez seja de desapontamento em relação ao todo. Certamente, não entraria tudo o que foi apontado pelas juventudes durante mais de um ano, mas o documento ainda é morno diante das expectativas.
Nós, jovens, esperávamos que fossem dadas respostas práticas e bem acertadas às problemáticas que dizem respeito à nossa vida. A Igreja demonstrou e assumiu que não está pronta para tocar em algumas temáticas. Sobretudo a questão da sexualidade, da juventude LGBT e a participação feminina, que foi ainda mais forte até pela movimentação de mulheres que pediam o direito à voto durante o Sínodo. Então o retorno que alguns bispos deram foi muito fechado.
Esse é só um reflexo do que as mulheres enfrentam hoje no âmbito eclesial. Existe uma presença massiva de mulheres nas congregações religiosas, nas lideranças de pastorais e serviços e nas próprias comunidades/paróquias e, mesmo assim, em diversos espaços, nós somos silenciadas e colocadas como auxiliares. Somos consideradas pessoas de classe subalterna, impedidas de ocupar os espaços, que são nossos por direito, e as instâncias de decisões ainda estão muito distantes das mulheres.
Cristo se revela ressuscitado primeiramente à uma mulher, Maria Madalena, e pede que ela anuncie aos demais sobre a Ressurreição. São as mulheres que o buscam no primeiro dia da semana e encontram o túmulo vazio, sendo então motivadas a se dirigirem à Galileia. As Galileias dizem muito, especialmente para a PJ, pois são os lugares da nossa ação pastoral, onde nós devemos ser direcionados.
Porém, a Igreja deveria inspirar esse movimento de comunhão fraterna com os empobrecidos e as empobrecidas, mas não consegue abrir esse espaço para contar com a voz das mulheres em um momento tão importante como é o processo sinodal. Ao não seguir piamente o que deveria, torna evidente quais são as suas contradições.
No mundo inteiro as mulheres têm clamado por respostas e buscado igualdade de direitos. Porém, as mulheres que são silenciadas e que enfrentam diariamente o machismo, por vezes velado, por vezes explícito, dentro dos espaços eclesiais, precisam de respostas com atitudes práticas.
Essa resposta seja dada pela ordenação feminina, que é uma pauta que tem sido levantada, e deve aparecer também no Sínodo Pan-Amazônico, visto que é um clamor das comunidades, ou por outro posicionamento, precisar ser uma ação efetiva da Igreja. É necessário, primeiramente, abrir os espaços para que as mulheres possam falar, sem intermediários, sem outras vozes. Garantir que nós mulheres possamos participar e falar. Infelizmente isso ainda nos parece um pouco distante.
O Sínodo Pan-Amazônico deixa algumas pistas que será um momento de esperança. Tanto em relação às mulheres, mas, sobretudo, em relação à própria juventude amazônica. Os clamores que do Sínodo da Juventude, mais uma vez poderão ser colocados.
Além da riqueza desse bioma, é preciso olhar também para a contribuição dos povos, para a vida no planeta. Os ribeirinhos, os pescadores, as mulheres indígenas, os homens indígenas presentes nas comunidades de todos os cantos da Amazônia, e as juventudes da zona rural, assim como da zona urbana.
O que nós, jovens, ainda temos a dizer? O que pode inspirar a Igreja a promover mudanças diante dessas escutas e partilhas?
Algumas vivências dos povos dizem muito! A própria experiência das mulheres indígenas que tem quebrado paradigmas e sendo sinal de resistência em todos os cantos da Amazônia. Essas e outras vivências que trazem perspectivas de construção de novos caminhos de evangelização, já que a Igreja busca refletir como ela tem atuado e incidido, especialmente nesse espaço.
A juventude pode ter um papel muito importante e as mulheres podem mais uma vez levantar o debate dessas temáticas que nos atingem. O Evangelho nos exige uma atitude jovem, ousada e comprometida na defesa da vida e da justiça. A Igreja não pode ter medo de deixar clara a sua opção pelos mais empobrecidos e empobrecidas, pelos excluídos e excluídas. Somente assim é possível promover mudanças nas estruturas e construir uma Igreja autêntica e comprometida.
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Do Acre, um olhar esperançoso do Sínodo Pan-Amazônico: tempo de dar voz às mulheres e às juventudes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU