21 Outubro 2018
“Nossas religiosas também fazem pastoral com os jovens, e então, por que não lhes dar direito de voto no Sínodo?”. Nascida no México e criada nos Estados Unidos, Yadira Vieyra, de 29 anos, é uma entre os 39 “auditores” que participam no Sínodo que está acontecendo no Vaticano. Obteve sua licenciatura na Georgetown University de Washington, provêm da Diocese de Chicago, é pesquisadora e assistente de famílias de migrantes.
“Muitos bispos escutam, o Papa escuta, e então compartilha o que pensa com intervenções depois do que diferentes bispos e jovens tenham falado. Para mim tem um grande significado fazer parte do grupo de ‘auditores’, e sabemos que nos escutam”, disse Yadira em uma das coletivas de imprensa diárias sobre o Sínodo da qual participou. “Que pena não votar, mas nossas vozes são ouvidas e, em particular, nos círculos menores temos a possibilidade de dizer o que em nossa opinião pode melhorar o “Instrumentum laboris”. Temos a liberdade de apresentar emendas, temos o microfone quando queremos tomá-lo, praticamente cada auditor jovem interviu, e temos intervido também no tempo dedicado às intervenções livres. Parece-me um grande passo adiante. Estou incrivelmente agradecida pelo fato de que o Papa tenha convocado um Sínodo para discutir sobre a juventude e de que haja tantos líderes religiosos para discutir sobre este tema e sobre qual é a mensagem que a Igreja quer mandar para a juventude, e a mensagem é que os jovens fazem parte da Igreja e, se não escutam a mensagem da Igreja, é talvez porque a mensagem não foi comunicada da forma como os jovens gostariam de ser atraídos pela Igreja”.
A entrevista é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 20-10-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.
O que sugeriria para melhorar o “Instrumentum laboris”? O que se espera que este Sínodo afirme?
Comunicar que a juventude como fase da vida humana é uma fase alegre. Jesus era jovem. Não é um tempo em que a pessoa deva se sentir descuidada como ilegítima enquanto não alcança a idade adulta. Os jovens têm uma voz, têm ideias, têm capacidade de liderança e deveríamos lhes dar ouvido para escutar seus talentos, garantir-lhes um papel de líderes na Igreja.
Em relação ao tema da sexualidade, você disse que há muitas discussões no Sínodo e que são acaloradas: qual espera que seja a contribuição sinodal?
É um tema difícil, porque cada jornalista que busca um título escreve que a Igreja se nega, por exemplo, a aceitar os homossexuais ou quem pertença à comunidade LGBT, ou que a Igreja decidiu que o Sínodo aceitará os matrimônios entre pessoas homossexuais. Mas não funciona assim! É uma questão difícil, e agradecemos que nos deem a oportunidade para falar aqui. Não temos uma resposta definitiva, mas acredito que teríamos que trabalhar em uma pastoral para as pessoas homossexuais, para que não se sintam somente reconhecidas, mas também amadas, e acompanhá-las. Não se vive a mesma situação em cada país, fato pelo qual não se pode dar uma resposta geral. Estão [participando] os bispos que se confrontam com católicos homossexuais, por exemplo, nos Estados Unidos; outros bispos dizem, “De que estão falando? Em nosso país não há [nada disso]”. Mas esta é a realidade, e é preciso encontrar as pessoas onde elas estão e buscar uma maneira para lhes mostrar o ensinamento da Igreja de uma forma que não os faça se sentir desumanizados.
Você disse que é uma pena que as mulheres presentes no Sínodo não tenham direito de voto. A objeção principal a este tipo de propostas é que é um Sínodo dos bispos, fato pelo qual não é o lugar adequado para fazer este tipo de pedido. O que lhe parece?
É um Sínodo dos bispos, mas temos também pessoas jovens aqui. Nossas religiosas também fazem pastoral com os jovens, e então, por que não lhes dar voz? Têm experiências impressionantes com os jovens, podem explicar as dificuldades e o que funciona bem no trabalho com os jovens, então, por que não lhes dar direito de voto sobre um documento que lhes permita ter a mesma voz na Igreja?
Por que é preciso falar sobre os migrantes em um Sínodo sobre os jovens?
Nossos jovens não acompanhados que atravessam as fronteiras são levados a centros de detenção, a lugares de deportação que não só tem um impacto na saúde física, como também na saúde mental. Se não investirmos agora em sua saúde mental, como podemos esperar que vivam normalmente quando forem adultos? E nosso país, Estados Unidos, não investe em sua saúde mental, os países dos quais fogem não investem em sua saúde mental. Quem os ajudará a elaborar um trauma deste tipo desde pequenos? Deve ser a Igreja. Dentro de vinte ou trinta anos as pesquisas descobrirão que ninguém havia se dado conta de que eram pessoas que precisavam de ajuda. Por isso este tema me encanta tanto, me nego a pensar que, como parecem estar bem por fora, estão bem por dentro: não estão bem.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A jovem “ouvinte” no Sínodo: seria bom se as religiosas votassem - Instituto Humanitas Unisinos - IHU