21 Setembro 2018
O jornal Bild publicou cartas recentes do Papa Emérito Bento XVI, contendo polêmicas com o cardeal alemão Walter Brandmüller.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por L’HuffingtonPost.it, 20-09-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nessa quinta-feira, 20, estourou no Vaticano o caso de algumas cartas recentes de Bento XVI – que remontam a novembro de 2017, portanto, há pouco menos de um ano – que foram “passadas” ao jornal popular alemão Bild.
Nelas, o papa emérito repreende um cardeal alemão, não identificado pelo jornal, mas que provavelmente deve ser Walter Brandmüller, que, um mês antes, o havia criticado em uma entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung por ter renunciado, já que a posição de papa emérito nunca tinha sido vista na história bimilenar da Igreja, deixando, assim, a própria Igreja no caos.
Brandmüller também é um dos quatro cardeais que, em 2016, tinham assinado os famosos pedidos de esclarecimento (os “dubia”) dirigidos ao Papa Francisco sobre a Amoris letitia e a comunhão aos divorciados.
Pois bem, Bento XVI reagiu no ano passado com uma carta enraivecida. Ele escreveu em alemão: “Posso entender muito bem a profundo dor que o fim do meu papado causou em ti e em muitos outros No entanto, em algumas pessoas e – penso eu – também em ti, a dor se transformou em uma raiva que não diz respeito mais apenas à minha renúncia, mas, cada vez mais, também à minha pessoa e ao meu papado como um todo”.
E, depois, repreendeu o cardeal: “Se tu conheces um modo melhor (referindo-se à renúncia) e, portanto, pensas que podes julgar o modo escolhido por mim, por favor, me diga”. Em todo o caso, as cartas mostram que Bento XVI está profundamente preocupado com o estado da Igreja e convida o cardeal a rezar ao Senhor por isto: “Rezemos, ao contrário, como tu fizeste no fim da tua carta, para que o Senhor venha em auxílio da sua Igreja”.
Mas o fato mais interessante é que, na carta, Bento XVI faz uma comparação histórica evocada pelo papa emérito. De fato, no passado, houve outras renúncias papais, escreveu Bento. Mas o exemplo mais nítido é muito recente: o Papa Pacelli, Pio XII, que, em 1944, dando um passo atrás, queria evitar que o papa fosse “preso pelos nazistas”. Em suma, o paralelo é com um papa ameaçado pelos nazistas. Por quem Bento se sentiu ameaçado? “Rezem por mim para que eu não fuja por medo dos lobos”, dissera Bento XVI durante a homilia da missa da sua inauguração. Quem são os lobos?
Nessa ótica, também se compreende melhor um episódio relatado pela revista Spiegel em maio de 2015, segundo o qual Bento estava preocupado em ser envenenado, tanto que, em outubro de 2012, poucos meses antes da renúncia, o presidente do escritório estatal bávaro de investigações criminais teria ido a Roma para examinar as falhas de segurança na preparação dos alimentos para o papa.
De acordo com o Bild, o recente escândalo de abuso sexual lança uma nova luz sobre o surpreendente passo de Bento XVI. Mas o Papa Francisco também voltou a falar sobre os recentes escândalos, na homilia da missa em Santa Marta: “A Igreja, quando caminha na história, é perseguida pelos hipócritas: hipócritas de dentro e de fora”. E “o diabo, que é impotente com os pecadores arrependidos”, é forte justamente com os hipócritas: “Usa-os para destruir as pessoas, a sociedade, a Igreja”. Com um convite a se confiar cada vez mais à misericórdia e ao perdão de Deus, afastando-se do “escândalo dos hipócritas”.
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Bento XVI: ''Como Pio XII, sou perseguido por nazistas'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU