21 Junho 2018
A crise na Igreja chilena continua sangrando pela ferida, embora os enviados papais, Charles J. Scicluna e Jordi Bertomeu, continuem no país encontrando-se com vítimas e anunciando medidas. A mais notável, apontada pelo padre espanhol, é o anúncio de “reparações econômicas” para as vítimas.
A reportagem é publicada por Religião Digital, 19-06-2018. A tradução é de André Langer.
Bertomeu acrescentou que o problema eclesial que se vive na nação austral “é reflexo de um problema social mais profundo no Chile, de uma fratura social”. Na oportunidade, anunciou a criação de um escritório em Santiago para continuar a receber denúncias de abusos, que chegarão ao Vaticano, e que começará a funcionar assim que os enviados do Papa deixarem o Chile.
Antes de deixar o país, Scicluna encontrou-se os meios de comunicação chilenos, perante os quais agradeceu às vítimas que “nos abriram o seu coração e estão dispostos ao diálogo e a iniciar um caminho de reconciliação”.
“Elas nos pediram para que a Igreja avance em caminhos de verdade, justiça e reparação”, recalcou Scicluna, que reiterou o seu desejo, e do Papa, “para reconhecer e admitir a verdade completa, com todas as suas dolorosas repercussões e consequências”.
“Investigar é um dever de justiça. Precisamos fazer justiça às vítimas pelo bem do país e da Igreja”, acrescentou o prelado, que anunciou a criação de “um serviço de acolhida das pessoas que nos escreveram e desejam ter acesso a isso que, além de acolhê-los, possa orientá-los”.
Os dois enviados do Papa terminaram no domingo uma visita de quatro dias à cidade de Osorno, no sul do país, que se tornou o epicentro da crise da Igreja chilena pela presença, até a semana passada, do bispo Juan Barros, acusado de acobertar os abusos cometidos pelo influente padre Fernando Karadima.
Sua permanência em Osorno culminou com uma missa de reconciliação durante a qual Scicluna pediu perdão em nome do Sumo Pontífice aos fiéis “por tê-los ferido e ofendido profundamente” ao defender Barros.
Bertomeu disse que, de Osorno, compilou uma pasta com pelo menos 40 denúncias de pessoas provenientes de Villarrica até a cidade de Punta Arenas, no sul do país. Durante a segunda-feira, o arcebispo Charles Scicluna visitou o Santuário da Irmã Teresa de los Andes, enquanto Bertomeu continuou recebendo denúncias de abusos.
Enquanto isso, um novo caso de abusos sexuais fere a Igreja chilena. Na segunda-feira, a Congregação dos Sagrados Corações anunciou o recebimento de uma denúncia contra o padre Juan Andrés Peretiatkowicz, que o acusa de abusos sexuais e de poder no final dos anos 80.
“Como congregação religiosa expressamos a nossa vontade e empenho para investigar em profundidade e com rigor estes fatos, e a lutar resolutamente contra a cultura dos abusos e acobertamentos que o Papa Francisco recrimina em nós”, indicou o comunicado intitulado “A dolorosa verdade e a busca da justiça”.
Peretiatkowicz, 82 anos, está há cinco anos sem uma missão pastoral por motivos de saúde. A investigação está sendo realizada por uma advogada especialista em Direito Canônico e um religioso, que receberão novos depoimentos sobre o caso. “Acreditamos que este é o único caminho de reparação para aqueles que foram violados ou abusados”, acrescentou o comunicado.
Caros irmãos
Ao terminar a “Missão Pastoral” confiada pelo Santo Padre Francisco a mons. Jordi Bertomeu e a mim, agradeço mais uma vez ao Povo de Deus que peregrina no Chile e a todos os seus habitantes sua acolhida e testemunho.
Foi uma bela experiência compartilhar com diversas comunidades, cheias de homens e mulheres, que – mesmo com suas feridas nas costas – nos abriram seus corações e estão dispostos a dialogar e a iniciar um caminho de reconciliação.
Pediram-nos para que a Igreja avance em formas de verdade, justiça e reparação. É também o que o Santo Padre nos pede. Por isso, reitero que o convite para reconhecer e admitir a verdade completa, com todas as suas dolorosas repercussões e consequências, é o ponto de partida para uma autêntica cura, tanto da vítima como do autor dos abusos.
Investigar é um dever de justiça. Precisamos fazer justiça às vítimas pelo bem do país e também da Igreja. Junto com isso, assinalamos que a acolhida de vítimas denunciantes de abusos deve ser um princípio norteador nos processos eclesiásticos.
Tivemos uma missão pastoral com dias de Graça e escuta, onde nos encontramos com centenas de pessoas na Nunciatura Apostólica em Santiago e na querida diocese de Osorno.
Agradecemos pela confiança que depositaram em nós tantas pessoas que nos pediram audiências ou enviaram cartas. Lamentamos não ter podido atender pessoalmente a todas e nos comprometemos a responder por escrito a cada uma dessas comunicações o mais breve possível.
Conforme antecipamos, organizamos a criação de um serviço de escuta das pessoas que nos escreveram e desejam acessá-lo, que, além de acolhê-las, pode também orientá-las.
Depois de nos reunirmos em diversas ocasiões com os membros do Conselho Nacional para a Prevenção de Abusos da Conferência Episcopal do Chile, consideramos oportuno que alguns de seus especialistas assumam essa tarefa transitória – em nosso nome – no país. Tenho plena confiança de que estas pessoas, por sua preparação, competência e experiência, poderão prestar este serviço à comunidade eclesial. A partir de amanhã, peço a todos os interessados para que entrem em contato com o serviço de escuta através do correio eletrônico Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. Também pelo telefone 9949-50-519.
Finalmente, nesta visita pudemos manifestar a particular proximidade do Papa com a diocese de Osorno e seu querido povo, no signo do serviço e da comunhão, num contexto de oração, da celebração litúrgica, da escuta mútua e de cordialidade.
Agradeço a todos por tanta boa vontade, por tanto amor pela Igreja de Jesus Cristo e pelo desejo de uma grande maioria de uma reconciliação verdadeira, o que não se consegue – como já disse – com uma missão de poucos dias, mas que é um dom de Deus que deve ser acompanhado por um longo processo, que exige paciência, generosidade, fortaleza e humildade.
Por último, queremos agradecer a todos aqueles que colaboraram na “Missão Pastoral Osorno”: ao Senhor Núncio Apostólico, dom Ivo Scapolo; ao coordenador de comunicações desta missão, o jornalista Sr. Cristián Amaya, junto com sua equipe de trabalho; aos serviços de segurança e logística e a todos aqueles que colaboraram na organização e no desenvolvimento deste serviço pastoral. Uma saudação especial aos jornalistas da imprensa chilena e internacional que informaram a comunidade com profissionalismo todos esses dias.
Antes de concluir, permitam-me repetir uma mensagem do venerável servo de Deus Francisco Valdés Subercaseaux, primeiro bispo de Osorno: “Que felicidade quando os povos sabem se encontrar para conversar e se conhecer...”.
“Dou-lhes a minha paz, deixo-lhes a minha paz”: estas palavras de Jesus Cristo inspiraram a viagem do Papa Francisco ao Chile. Paz e bem para o Chile, pedimos hoje ao Senhor, por intercessão de Nossa Senhora do Carmo, Mãe e Rainha do Chile.
Muito obrigado.
+ S.E. Dom Charles Scicluna
Arcebispo de Malta
Missão Pastoral Osorno
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Chile. Bertomeu anuncia que haverá “reparações econômicas” para as vítimas de abusos no Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU