06 Abril 2018
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,19-31 que corresponde ao Segundo Domingo da Páscoa ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Poucos nos ajudaram tanto como Christian Chabanis a conhecer a atitude do homem contemporâneo ante Deus. As suas famosas entrevistas são um documento imprescindível para saber o que pensam hoje os cientistas e os pensadores mais reconhecidos acerca de Deus.
Chabanis confessa que, quando iniciou as suas entrevistas aos ateus mais prestigiosos dos nossos dias, pensava encontrar neles um ateísmo rigoroso e bem fundamentado. Na realidade encontrou-se com que, detrás de graves profissões de lucidez e honestidade intelectual, escondia-se com frequência “uma absoluta ausência de procura da verdade”.
Não surpreende a constatação do escritor francês, pois algo semelhante sucede entre nós. Grande parte dos que renunciam a acreditar em Deus fazem-no sem ter iniciado nenhum esforço para procurá-Lo. Penso sobretudo em tantos que se confessam agnósticos, por vezes de forma ostensiva, quando na realidade estão muito longe de uma verdadeira postura agnóstica.
O agnóstico é uma pessoa que se coloca o problema de Deus e, ao não encontrar razões para acreditar Nele, suspende o julgamento. O agnosticismo é uma procura que termina em frustração. Só depois de ter procurado adota o agnóstico a sua postura: “Não sei se existe Deus. Eu não encontro razões nem para acreditar Nele nem para não acreditar”.
A postura mais generalizada hoje consiste simplesmente em desentender-se da questão de Deus. Muitos dos que se chamam agnósticos são, na realidade, pessoas que não procuram. Xavier Zubiri diria que são vidas “sem vontade de verdade real”. Resulta-lhes indiferente que Deus exista ou não exista. É-lhes igual que a vida termine aqui ou não. A eles é suficiente com “deixar-se viver”, abandonar-se “ao que fosse”, sem aprofundar no mistério do mundo e da vida.
Mas, é essa a postura mais humana ante a realidade? Poderá apresentar-se como progressista uma vida em que está ausente a vontade de procurar a verdade última da nossa vida? Pode-se afirmar que essa é a única atitude legítima de tudo? Pode-se afirmar que é essa a única atitude legítima de honestidade intelectual? Como pode um saber que não é possível acreditar se nunca se procurou Deus?
Querer manter-se nessa “postura neutral” sem decidir-se a favor ou contra da fé é já tomar uma decisão. A pior de todas, pois equivale a renunciar a procurar uma aproximação ao mistério último da realidade.
A postura de Tomé não é a de um agnóstico indiferente, mas a de quem procura reafirmar a sua fé na própria experiência. Por isso, quando se encontra com Cristo, abre-se confiadamente a Ele: “Senhor meu e Deus meu”. Quanta verdade encerram as palavras de Karl Rahner: “É mais fácil deixar-se afundar no próprio vazio que no abismo do mistério santo de Deus, mas não supõe mais coragem nem tampouco mais verdade. Em todo o caso, esta verdade resplandece se se a ama, se a aceita e se a vive como verdade que liberta”.
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Agnósticos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU