29 Setembro 2017
O papa Francisco parece ter respondido indiretamente aos quatro cardeais que o desafiaram publicamente no ano passado a respeito de seus mais recentes ensinamentos sobre a vida familiar, na exortação apostólica de 2016, Amoris Laetitia.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 28-09- 2017. A tradução é Luísa Flores Somavilla.
Em uma rodada de perguntas com membros da ordem jesuíta na Colômbia, no início deste mês, cujo texto foi divulgado pela primeira vez em 28 de setembro, o papa fez referência a aqueles que "defendem que não há moral católica subjacente a Amoris Laetitia, ou, pelo menos, nenhuma moral segura".
"Gostaria de reiterar de forma clara que a moralidade de Amoris Laetitia é tomista, a moralidade do grande Tomás", disse Francisco, referindo-se ao teólogo dominicano do século XIII, São Tomás de Aquino.
"Quero afirmar isso para que possam ajudar quem acredita que a moral é puramente casuística", disse o papa aos jesuítas, de acordo com um texto do encontro publicado em 28 de setembro pelo La Civiltà Cattolica. "Ajudem-nos a entender que o grande Tomás de Aquino possui a maior riqueza, que nos inspira até hoje."
Quatro cardeais escreveram cinco perguntas a Francisco, em setembro de 2016, sobre como entendia o ensino da Igreja após a publicação da exortação apostólica. Não tendo obtido resposta à carta, os cardeais a divulgaram em novembro de 2016.
Entre as questões, os cardeais perguntaram se o papa considerava que ainda existem "normas morais absolutas" que proíbem os católicos de tomar certas atitudes. Referiam-se a essas normas por duas vezes nas cinco questões.
Francisco visitou a Colômbia de 6 a 11 de setembro e encontrou-se confidencialmente com cerca de 65 jesuítas no dia 10 de setembro, durante sua visita à cidade de Cartagena. O papa falou sobre Amoris Laetitia respondendo uma pergunta de um jesuíta sobre o tipo de questionamento teológico e filosófico ele gostaria que a Igreja mais ampla fizesse.
Respondeu, em primeiro lugar, que não quer que a filosofia seja desenvolvida "em laboratório, mas sim na vida, em diálogo com a realidade". Referiu-se a como o Papa Bento XVI falou sobre a verdade "como um encontro, ou seja, não mais como uma classificação, mas como um caminho".
"A teologia de Jesus foi a coisa mais real de todas: começou com a verdade se elevou ao Pai", disse Francisco. "Começou com uma semente, uma parábola, um fato... e explicou-os".
"Jesus queria desenvolver uma teologia profunda, e a grande verdade é o Senhor", disse o papa. "Insisto que para ser um bom teólogo, além de estudar, é preciso se dedicar, despertar para e abraçar a realidade, e refletir sobre tudo isso de joelhos."
"Um homem, uma mulher que não reza, não pode ser teólogo ou teóloga", acrescentou.
"Podem ser os novos Denzinger na Terra, podem conhecer todas as doutrinas existentes, mas não estarão fazendo teologia", disse Francisco, referindo-se ao Manual de Credos e Definições, do século XIX, uma coleção muito citada durante os séculos de ensinamentos católicos escrita pelo teólogo alemão Heinrich Denzinger.
"Hoje é uma questão de como se expressa Deus, como diz quem Ele é, como demonstra o Espírito Santo, as feridas de Cristo, o mistério de Cristo".
Francisco também conversou com os jesuítas sobre o posicionamento que pensa que um pastor deve tomar em meio ao seu povo. Segundo ele, um pastor deve transitar continuamente entre três posições: "na frente, para mostrar o caminho; no meio, para conhecê-lo; e atrás, para garantir que ninguém fique para trás e para deixar o bando buscar o caminho."
"O povo de Deus tem um bom senso de direção", disse. "E às vezes a nossa tarefa como pastores é estar atrás das pessoas".
"O povo de Deus tem um bom senso de direção", repetiu Francisco. "Talvez as pessoas tenham dificuldades de se comunicar e, às vezes, não se entendem. Mas será que algum de nós pode dizer: 'Obrigado, Senhor, por nunca ter errado?'
Os quatro cardeais que desafiaram o papa a respeito de Amoris Laetitia foram Carlo Caffarra, ex-arcebispo de Bolonha; Raymond Burke, patrono espiritual da Ordem de Malta; Walter Brandmüller, ex-presidente do Pontifício Comitê das Ciências Históricas e Joachim Meisner, ex-arcebispo de Colônia.
Carlo Caffarra e Joachim Meisner faleceram depois disso.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Francisco responde a críticas: moralidade de 'Amoris Laetitia' é Tomista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU