18 Fevereiro 2017
Em 2015, Silvia Camarillo, moradora de Ceres, na Califórnia, viajou para a Bolívia para participar do terceiro encontro sobre justiça social promovido pelo Vaticano, onde inspirou-se para voltar ao Central Valley e dar continuidade na missão de ajuda aos necessitados.
A reportagem é de Pat Clark, publicada por Modbee.com, 14-02-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Agora, o quarto encontro do tipo organizado pelo Vaticano vai até Camarillo, quando o Encontro Mundial dos Movimentos Populares – EMMP reunir 600 lideranças sociais de base em Modesto, na Califórnia, esta semana.
O EMMP, a acontecer de terça-feira até domingo, vai ser realizado no novo centro da Escola de Ensino Médio Católica Central (Central Catholic High School). O evento inter-religioso, fechado ao público, encoraja lideranças comunitárias sociais a partilhar e aprender uns com os outros em um esforço para combater as injustiças em suas várias comunidades – notadamente no tocante ao meio ambiente, trabalho e moradia.
Camarillo enxerga estes problemas na qualidade de administradora de uma paróquia, a St. Jude Catholic Church, em Ceres, e também em seu trabalho social em regiões de baixa renda da cidade de Modesto. Segundo ela, esses temas propostos pelo Vaticano no EMMP não só ressoam aqui, mas também nos outros dois tópicos acrescidos pelos organizadores depois de consultar as lideranças de base: imigração e racismo.
São estes dois últimos tópicos que Camarillo acha que serão centrais quando ela se juntar ao encontro internacional em Modesto, principalmente por causa da recente eleição de Donald Trump e de sua postura rígida relativa à imigração.
“Hoje estamos enfrentando as consequências [da eleição], o que tem afetado grupos minoritários”, disse. “Muitos alunos [do Condado de Stanislaus] participam do programa DACA [Deferred Action for Childhood Arrivals, que protege da deportação os jovens que chegam aqui em idade infantil]. Então, o que vai acontecer com eles? Temos muitos alunos que aqui estão por causa disso. E temos muitos que estão aqui porque foi aqui que nasceram, porém os seus pais não são moradores legais. O que vai acontecer com essas famílias?”
Ela espera que estas e outras dúvidas sejam abordadas no EMMP. Deseja que aconteça um bom diálogo que, em última instância, leve a respostas no nível comunitário.
“Estamos confrontados com este problema. O que podemos fazer para ajudar? Como fazer a diferença a todas essas famílias que já vivem no medo?”, disse Camarillo. “Temos pessoas que têm medo até de se registar como membros [da paróquia St. Jude) porque pensam: ‘Ai meu Deus, vocês irão mandar essa informação à imigração?’ E na verdade é apenas um registro local de um paroquiano. É real, e está afetando as nossas comunidades. Vemos isso nas famílias”.
Não importa o assunto, Camarillo sente-se confiante de que tudo o que for debatido será levado ao Vaticano pelo Cardeal Peter Turkson, um dos assessores de maior destaque e mais próximos do Papa Francisco, além de ser o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. Ela teve a oportunidade de passar um bom tempo com Turkson na Bolívia.
“Eu estava sentada perto do cardeal. No café da manhã, todos os dias, era aí que conversávamos”, disse. Ela achou Turkson particularmente “humilde e muito acessível”.
“Ele realmente escutava o que tínhamos a dizer”, falou Camarillo. “Quem pensava que o Central Valley seria um local de interesse para um encontro assim?”.
Turkson vai proferir o discurso principal no encontro em Modesto na noite de quinta-feira.
A experiência de Camarillo em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, incluiu um “assento na primeira fila” diante do papa que falou ao EMMP e celebrou uma missa com os moradores locais. Ainda que não haja nenhuma confirmação, é bem possível que o papa participe via teleconferência. Até agora, uma carta dele está programada para ser lida no programa de encerramento, do domingo de manhã.
Embora a maioria dos participantes do encontro em Modesto vai ser dos EUA, haverá 10 ou 11 delegações de outros países, segundo os organizadores. Nesse sentido, ele vai ser bastante diferente da experiência que Camarillo teve na Bolívia, onde ela era uma de apenas 5 pessoas dos EUA; os outros eram de Fresno e de Los Angeles.
Segundo ela, foi preciso um certo esforço para que o pequeno contingente americano se sentisse acolhido.
“Eles ficavam se perguntando: ‘O que os Estados Unidos têm a oferecer aqui? O país de vocês não sofre com a pobreza; vocês não têm os problemas que temos aqui’. Então, no início não fomos bem recebidos”, lembra Camarillo. Mas ela e os demais participantes americanos tiveram a oportunidade de falar durante os trabalhos em grupo, o que lhes permitiu partilhar que os americanos também enfrentam problemas como baixos salários, falta de moradia e preocupações ambientais.
“Foi aí que consegui falar sobre os Estados Unidos e sobre o nosso Central Valley. Eu falei: ‘Não, nós sofremos com a falta de moradia, temos pobreza, temos problemas parecidos com os de vocês’, disse ela. “A única coisa que talvez seja diferente dos EUA é que aqui temos mais possibilidades de fazer a mudança, cabe a nós querer. Enquanto talvez vocês tenham um governo que não apoie isso, talvez vocês estejam mais limitados em recursos”.
A apreensão inicial rapidamente se desfez e os americanos foram acolhidos nos círculos que se formavam – isso é importante porque estas relações, as redes que se formam, é o grande ativo que os participantes tiram de encontros como este.
“Espero que a partir daqui, com as redes, os contatos com as lideranças, possamos dizer: ‘Você entra aqui, você faz isso, que tal ajudar ali...’, falou. “Os nossos recursos estão aqui, agora precisamos saber quem está disposto a pôr a mão na massa e quem está disposto a se dedicar, a sacrificar o seu tempo para ajudar aqueles em necessidade”.
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Americana participa de encontro do Vaticano sobre justiça social – desta vez em Modesto, EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU