04 Novembro 2016
Eles vieram da periferia da economia global. Das margens daquele sistema que descarta meios e artífices da produção, três bilhões de pessoas no mundo. Alguns tomaram a longa estrada do Norte ao Sul do planeta. Outros apenas alguns milhares de metros, porque, mesmo na Europa, os excluídos abundam. Assim como as suas respostas criativas à injustiça. "Semeadores de mudança" e "poetas sociais", definiu-os o Papa Francisco. Com a sua bagagem de lutas ímpares e sonhos resistentes, mais de 22 delegados dos movimentos populares de 64 países voltaram ao Vaticano para o 3º Encontro Mundial. Uma nova etapa de um percurso que começou também em Roma, em outubro de 2014, e continuou em Santa Cruz de la Sierra, em julho de 2015.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada no jornal Avvenire, 03-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Esta é a fase da ação. Baseando-nos no método da Doutrina Social da Igreja: ver-julgar-agir, podemos definir o primeiro como o encontro do conhecimento recíproco entre nós e o papa. O segundo foi o momento do discernimento e da reflexão, sintetizados por Francisco em três diretrizes: colocar a economia a serviço dos povos, uni-los no caminho da paz e da justiça, defender a Mãe Terra. Agora, cabe a nós agir: já fazemos isso nos respectivos países. Trata-se de estabelecer uma maior coordenação e compartilhar as ‘boas práticas’", explica Juan Grabois ao Avvenire.
Esse advogado argentino, desde junho consultor do Justiça e Paz, é um dos pilares dos encontros. Grabois alterna o ativismo no Movimento dos Trabalhadores Excluídos (MTE) com a toga e o ensino universitário.
O seu compromisso começou depois da crise de 2001, quando o então jovem descendente da "burguesia de bem" via, todas as noites, seus coetâneos buscaram comida no lixo. A dor concreta daqueles rostos chamou-o em causa, conta. Assim nasceu o MTE, movimento de "pobres que não se resignam" e criam formas de autoemprego, dos recicladores de resíduos às fábricas recuperadas.
A experiência tinha tocado o coração do então cardeal Bergoglio, com o qual o MTE colaborava para a missa anual dedicada às vítimas do tráfico e da exploração. A partir daí, a aposta de fazer encontrar a Santa Sé e os movimentos populares.
"A ideia, expressada várias vezes pelo papa, é de que os pobres não são apenas vítimas a serem assistidas, mas sim protagonistas de mudança", enfatiza Grabois. "A Igreja os acompanha no esforço para construir sociedades inclusivas."
O fio dourado são os direitos fundamentais do ser humano, resumidos nos três Ts: tierra, techo, trabajo (terra, teto e trabalho). "Desta vez, porém, acrescentamos dois temas transversais. As crises migratórias e a relação entre povos e democracia."
Uma questão, esta última, mais do que nunca candente, dada as pressões da antipolítica e dos populismos. E intimamente conectada ao sinal deste terceiro encontro.
A ação dos movimentos populares os "força" a entrar no campo político. "A maioria de nós nasceu durante a crise de representatividade de sindicatos e partidos. No início, portanto, rejeitávamos a política. Agora, devemos estabelecer uma nova relação com ela", afirma Grabois.
Tal relação é crucial, não só para que os grupos populares possam incidir na esfera pública. "A falta de participação popular privou a política da sua capacidade de transformação. Esvaziando democracia. E reduzindo-a a um simulacro. Não podemos, porém, nos resignar às atuais 'midiocracias', em que elites e grandes empresas impõem a agenda manipulando a mídia. O antídoto ao populismo e à política-espetáculo continua sendo o protagonismo dos cidadãos organizados."
Em particular daqueles que criam, no cotidiano, fragmentos de outros mundos possíveis. Como afirmou Francisco em Santa Cruz: "A partir dessas sementes de esperança semeadas pacientemente nas periferias esquecidas do planeta, a partir desses brotos de ternura que luta para subsistir na escuridão da exclusão, crescerão árvores grandes, surgirão bosques densos de esperança para oxigenar este mundo".
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Movimentos populares: os pobres como protagonistas da mudança - Instituto Humanitas Unisinos - IHU