Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 27 Outubro 2018
A caravana que partiu de Honduras em direção aos Estados Unidos já soma mais de 7 mil migrantes. Enquanto os governos de Honduras, México e EUA procuram soluções para barrar o avanço dos migrantes, outra marcha enfrenta o governo hondurenho. O padre jesuíta Ismael Moreno, opositor do presidente Juan Orlando Hernández, encabeça a “Marcha pela Dignidade” para lutar contra o modelo neoliberal e autoritário do governo.
O jesuíta Ismael Moreno, conhecido como Padre Melo, é um dos principais opositores do atual governo. Em março de 2016, o assassinato de Berta Cáceres prenunciou o autoritarismo de um presidente que combina os traços autoritários e neoliberais. Cáceres e Melo eram duas lideranças próximas, ativistas do movimento indígena e ambiental. A investigação do assassinato, em andamento, ainda não esclareceu quais foram os mandantes do crime.
Padre Melo continuou o enfrentamento ao governo hondurenho. Em 2016 prenunciava que Hernández tentaria reeleição, o que não era previsto na Constituição. Hernández conseguiu aprovar a reeleição e se reelegeu em 2017. Segundo o padre jesuíta, o presidente conduz Honduras de uma democracia autoritária para uma ditadura.
A crise que se instaurou em Honduras gerou uma onda de violência e de migrantes que fogem do país. Nesta semana uma caravana que partiu de Honduras e somou outros migrantes da América Central desestabilizou os governos da região. São mais de 7 mil migrantes que percorrem mais de 3 mil km em direção aos Estados Unidos.
Em solidariedade à caravana, Padre Melo organizou a “Marcha pela Dignidade”, partindo da cidade de La Barca em direção à capital Tegucigalpa. A marcha parte com bandeiras de Honduras e uma imagem de São Óscar Romero, canonizado no último dia 14.
Na sexta-feira, 26-10, a Marcha completou quatro dias de caminhada e chegou à capital. Foram 300km percorridos para cobrar do governo políticas públicas e o restabelecimento da ordem constitucional.
O movimento de oposição a ao governo é um agrupamento de diferentes movimentos sociais e organizações de defesa de direitos humanos. Segundo o Padre Melo “nasceu para lutar contra o continuismo do modelo neoliberal, produtor de exclusão e violencia, e contra o continuismo do projeto autoritário e ilegal de Juan Orlando Hernández”.
O jesuíta falou aos jornalistas na chegada da marcha à capital. Afirmou que a intenção era formar uma caravana semelhante a dos migrantes como solidariedade. Ainda, destacou que a Marcha pela Dignidade tem o propósito de pressionar os governantes do país, que são os causadores das migrações: “Chegaremos ao centro de decisões do país que é o que provoca a exclusão de milhões de hondureños que não encontram um lugar digno em Honduras e precisam migrar”. A marcha exige o reestabelecimento da ordem constitucional no país com a renúncia do presidente, eleito ilegalmente, segundo os manifestantes.
O presidente hondurenho, em contrapartida, disse nessa sexta-feira que investigará a origem da caravana de migrantes que partiu no dia 13-10. Em coletiva acusou influência dos países sul-americanos e que “todo mundo sabe da relação [da caravana] com grupos radicais de esquerda e, particularmente, os que se denominaram autoconvocados”.
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Honduras. Jesuíta encabeça outra marcha em solidariedade aos migrantes e contra o governo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU