21 Novembro 2016
"A entrevista do papa ao jornal Avvenire me deu muita alegria. Eu já sublinhei vários pontos." Luca Maria Negro, presidente da Federação Italiana das Igrejas Evangélicas, segura em suas mãos as páginas do Avvenire, com os sublinhados em evidência.
A reportagem é de Diego Andreatta, publicada no jornal Avvenire, 19-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Qual o primeiro, pastor Negro?
A avaliação, 500 anos depois, do significado da Reforma que, para Lutero, “devia ser como um remédio. Depois, as coisas se cristalizaram”. O papa convida agora a todos nós a voltar ao essencial da fé, para redescobrir a natureza daquilo que nos une. Francisco faz questão de salientar para nós que se trata de um caminho que não foi ele quem iniciou: foram os seus antecessores, até a Declaração Conjunta sobre a Justificação assinada em 1999, verdadeiro momento de reviravolta.
Segundo sublinhado, a purificação da memória...
É importante. Não se trata de ter uma atitude revisionista ou de conveniência. No dia 31 de outubro, em Lund, o papa nos recordou, substancialmente, que não se pode mudar ou adoçar a história, mas os fatos podem ser lidos hoje de forma diferente. Sem apagar tudo aquilo que houve de novo nas nossas relações e purificando-as de tudo aquilo que já não tem mais razão de nos dividir. Para nós, protestantes italianos, que temos uma história de perseguição secular, é importante essa insistência na purificação da memória. Não significa passar a borracha no passado, mas buscar juntos os erros de um lado e de outro, e tirar daí uma lição para hoje e amanhã. Um processo que também vale para os debates com os judeus.
Com as palavras de Bento XVI em Erfurt, ele também destaca a ideia de um Deus misericordioso, que penetrou no coração de Lutero...
Para a Igreja Católica, houve a redescoberta do Deus misericordioso, ou seja, a passagem de uma religião que se baseava em incutir o medo do Inferno à visão de um Deus de amor. Fazer com que o homem medieval saísse das neuroses da salvação para transportá-lo ao oceano do amor de Deus. Não por acaso, nesses três dias de congresso em Trento, partimos do texto paulino do Amor de Deus que nos impulsiona e também nos possui.
O papa afirma que não lhe tira o sono a crítica de “baratear” a doutrina católica.
Sim, eu gostei muito dessa afirmação. Ele apenas segue o Concílio. Entre parênteses, como protestante, estou surpreso com a intensidade com que alguns católicos criticam o papa, os mesmos, talvez, que em outras ocasiões salientavam a sua infalibilidade.
As palavras do papa encorajam o desfecho feliz desse congresso na cidade do Concílio, desejado junto com a Conferência Episcopal Italiana. E a partir de amanhã?
Eu não participava de um encontro tão intenso desde 2001, com a assinatura da Carta Ecumênica em Estrasburgo. Agora, pensamos em um novo congresso sobre a Reforma, para ampliar o debate também aos irmãos ortodoxos. A partir deste ano de trabalho juntos, através de reuniões que chamávamos espontaneamente de “consultas”, a partir dessa relação informal, há o desejo de criar um órgão de conexão, consultivo, mas permanente, das comunidades cristãs na Itália. Uma estrutura ágil, leve, que possa dar continuidade ao trabalho ecumênico.
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Voltar ao essencial para redescobrir o que nos une. Entrevista com Luca Maria Negro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU