13 Agosto 2014
"Ninguém deve confundir esta seleção de discursos das presidentes da Conferência de Liderança de Mulheres Religiosas (LCWR) com rotineiros relatórios de executivos para as suas reuniões anuais. Ao contrário de serem resumos em PowerPoint de altos e baixos e um futuro melhor, as irmãs-presidentes lidam com ambiguidades, ameaças, promessas e sobrevivência em seu caminho rumo à meta. É uma tarefa difícil, bem feita, e esses discursos são soberbos". Essa é a opinião de Ken Briggs sobre o livro Spiritual Leadership for Challenging Times: Presidential Addresses from the Leadership Conference of Women Religious, editado pela irmã Annmarie Sanders e publicado pela Orbis Books.
O artigo foi publicado por National Catholic Reporter, 06-08-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Os discursos da LCWR falam para uma matriz complexa de ouvintes e necessidades: irmãs de centenas de comunidades distintas, uma formidável colcha de retalhos de leigos, padres e bispos a favor e contra os seus objetivos, irmãs organizadas para se opor a eles, inúmeros trabalhadores em atividades relacionadas com a Igreja, e elementos do público em geral. Em resposta, as presidentes se tornam, às vezes, líderes de torcida, outras vezes, aquelas que dizem a verdade, analistas teológicas, intérpretes e incentivadoras de vocações religiosas, tradicionalistas piedosas, empolgadas reformadoras, defensoras da justiça e carrilhões de inspiração.
Juntas, elas refletem uma viagem de meio século que sustenta a fonte de renovação do Concílio Vaticano II contra a resistência constante de papas e autoridades da Cúria. Quanto mais perto da emoção da decolagem - no auge da reforma e ansiedade do movimento feminino - mais ousada era a linguagem da justiça para as mulheres, que a irmã beneditina Joan Chittister chama de "nova visão". Em décadas seguintes, sob repetidas tentativas para conter suas tendências feministas e autônomas, a franqueza das reivindicações é cada vez mais substituída por símbolos e eufemismos, uma espécie de sublimação protetora adequada para navegar através dos ataques de Roma.
A gama de conversações, portanto, constitui o que poderia ser chamado de "diplomacia profética", na qual a LCWR resolutamente defende o seu chamado profético para a mudança, mas essa urgência está envolvida em termos menos conflituosos a medida que o tempo passa. A assombração que paira sobre a sala é o que fazer com o "elefante", se a conversa terapêutica com o Vaticano continuar a não produzir nada.
Não há espaço aqui para detalhar os valiosos temas, artisticamente concebidos e explorados por esse grupo de participantes. Uma vertente dessa tapeçaria merece uma menção especial, no entanto: a progressão de referências à situação das mulheres dentro da Igreja e fora dela. Elas são ditas sob a nuvem da acusação de que apresentam um "feminismo radical", interpretado pela hierarquia como um inimigo pernicioso da Igreja. Essa acusação era a arma mais direta no esforço do Vaticano para impugnar as intenções da LCWR.
Em 1980, menos de um ano depois de pedir ao Papa João Paulo II que considerasse as mulheres como sacerdotes, a Ir. Theresa Kane, das Irmãs da Misericórdia, disse em seu discurso, intitulado "Para falar a verdade com amor", que suas colegas líderes tinham "uma grave responsabilidade de articular uma teologia feminista da vida religiosa", na medida em que a LCWR, em particular, tem sido uma vítima "do sexismo, do clericalismo e do paternalismo" da Igreja institucional.
Cinco anos mais tarde, Margaret Cafferty, das irmãs da Apresentação [da beata virgem Maria], declarou: "a nossa preocupação com as mulheres de hoje em dia poderia ser mais apropriadamente chamada de fidelidade ao nosso carisma fundacional, em vez de ser repudiada, como muitas vezes é, como uma marca religiosa peculiar do feminismo radical. Para todos nós , é uma exigência do nosso compromisso com o Evangelho".
Ela continuou: "Temos sido apontadas por nossas preocupações com questões feministas, precisamente porque é percebido como incongruente que mulheres religiosas tenham um interesse nas agendas feministas. Aqui, novamente, a linguagem envolvida serve para dividir, separar e controlar. (...) Em nossa era contemporânea da visão e entendimento bíblico, há evidência acadêmica suficiente para questionar alguns dos pressupostos de longa data sobre a exclusividade do chamado de Jesus apenas para discípulos homens".
O discurso de 1994 da Ir. Doris Gottemoeller, das Irmãs da Misericórdia, mostra a tendência de abordagens conciliatórias diferenciadas. Ela defendeu as irmãs que ficam na Igreja, embora estejam desanimadas, em vez de sair. "É o nosso amor por Cristo e pela comunidade unida em Cristo que impele e sustenta nosso compromisso de adesão. Deixar que fiquemos alienadas da Igreja é entregar nosso direito de nascença (...) nos exilar de nosso verdadeiro lar".
Mas ela também apresentou brevemente a causa comum da queixa contínua. "A Igreja", disse, "institucionaliza o sexismo dentro de si mesma e não denuncia o de fora".
Por volta de 2010, enquanto o Vaticano fomentava suas investigações sobre as irmãs norte-americanas e a LCWR, a irmã franciscana Marlene Weisenbeck refletiu o choque generalizado e a confusão, aconselhando de uma abordagem lenta. Só esperar não "nos levará onde queremos chegar", advertiu, sublinhando a necessidade de uma estratégia concreta. Mas ela aconselhou paciência em vez de protesto. "Não devemos nos desesperar pelo impasse das conversas inexistentes e incompreendidas com os líderes da Igreja".
A irmã franciscana Pat Farrell enfrentou a tarefa pouco invejável de abordar a conferência depois que o Vaticano emitiu o seu golpe de martelo que visa tomar a custódia da LCWR. Ela lamentou a "intolerância da discordância" e o "cerceamento continuado do papel das mulheres". A resposta à repressão deve ser "humilde, mas não submissa, enraizada em um sólido senso de nós mesmas, mas não hipócrita, verdadeira, mas suave e absolutamente destemida".
Os discursos dão suporte às acusações do Vaticano de que a LCWR permitiu que houvesse dissidência contra os ensinamentos da Igreja? Provavelmente sim, a meu ver, embora outros possam discordar. O corolário é: por que as irmãs não afirmariam orgulhosamente a defesa dessas mudanças "proibidas" como algo fundamentado na consciência e sairiam de cena, deixando a bola do lado do Vaticano? Qual é o custo de fazer parte da Igreja em sã consciência?
A profundidade de pensamento e a criatividade das presidentes afirmam novamente as qualidades extraordinárias de erudição, de consciência e de caráter que distinguem as irmãs norte-americanas. Esses discursos são meditações cultas que tornam o Evangelho autêntico. O efeito que essa retórica de mentes elevadas teve no nível de base é uma questão separada que vale a pena aprofundar. Enquanto isso, as presidentes responderam supremamente à altura da ocasião que se lhes oferecia.
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Discursos da LCWR refletem a jornada pós-Vaticano II das irmãs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU