14 Agosto 2013
É um clima diferente que vai haver em Orlando, na Flórida, na abertura, no dia 13 de agosto (com conclusão prevista para o dia 16) da Assembleia Anual da Leadership Conference of Women Religious (LCWR), a organização das responsáveis por 80% das cerca de 57 mil religiosas norte-americanas, comissionadas pelo Vaticano desde abril de 2012.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 12-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Pela primeira vez no encontro, estará presente Peter Sartain, o arcebispo de Seattle, nomeado por Roma para presidir a Comissão de Inquérito para examinar o fundamento dos resultados da avaliação doutrinal movida contra as irmãs pela Sagrada Congregação vaticana (por enquanto reiterada pelo Papa Francisco), mas cujo trabalho ainda não está concluído.
"Sabemos que temos uma nuvem sobre as nossas cabeças e que estamos sob controle", declarou nos últimos dias a Ir. Theresa Kane, ex-presidente da LCWR. Mas a confiança é palpável entre as irmãs e, como se vê em muitas afirmações, também entre os religiosos que compartilharam o destino das suas coirmãs com grande proximidade e identidade de pontos de vista (foram muitas as intervenções até mesmo oficiais a esse respeito), desde o início do caso.
E, no novo clima apresentam-se algumas novidades. A primeira é a abertura aos jornalistas credenciados da grande maioria das sessões. A segunda é a intervenção prevista de Sartain durante meia-hora: seria a primeira intervenção pública sobre o assunto, já que, no momento da sua nomeação, Sartain tinha descartado qualquer declaração. O condicional é necessário, porque o anúncio foi feito ao jornal National Catholic Reporter pela Ir. Annamarie Sanders, responsável pelas comunicações, mas não figura no programa oficial publicado no site da LCWR (disponível aqui).
A novidade mais significativa para as irmãs, como, aliás, para toda a Igreja, no entanto, é o advento do novo pontífice. O fato de que o Papa Bergoglio venha das fileiras de uma ordem religiosa, logo gerou esperanças nas irmãs que haviam se manifestado de maneira entusiástica. Mas é sobretudo a sua proximidade – bem conhecida nos Estados Unidos – aos pobres que, de acordo com as irmãs (uma declaração nesse sentido veio de uma líder indiscutível como a Ir. Simone Campbell), poderia fazer a diferença.
Uma das acusações mais fortes movidas contra as irmãs era justamente a de se dedicarem um pouco demais "para fora", às atividades sociais, deixando um pouco na sombra a defesa da vida (campanha Pro-Life), entendida como antiabortista, e a oposição ao casamento gay, um dos carros-chefe do episcopado norte-americano nos últimos meses.
Um papa que convida a Igreja a sair para as periferias para encontrar os pobres, que fala explicitamente contra a cultura do descarte (nenhuma vida deve ser descartada) de uma Igreja pobre e para os pobres logo se tornou um sinal de esperança.
Uma esperança que, ao contrário, se atenuou um pouco nas últimas semanas com relação a outro tema que é caro a uma parte das religiosas, o da abertura da ordenação sacerdotal às mulheres. Durante a já famosa coletiva de imprensa no avião de retorno do Rio, o Papa Francisco havia falado de uma "porta fechada", embora afirmando a necessidade de iniciar uma reflexão teológica sobre as mulheres.
Sobre esse tema, as religiosas parecem divididas: "A ordenação feminina é uma questão de justiça", declarou no dia seguinte a Ir. Theresa Kane. "Toda desigualdade, seja racial, cultural, religiosa ou de gênero, é uma forma de injustiça. Se a Igreja no século XXI abrisse essa porta às mulheres, essa seria a expressão mais significativa de paridade".
Mas não é essa a posição oficial da LCWR, que nunca encontrou uma maioria nesse sentido. Como explicou em várias ocasiões Pat Farrel, também ex-presidente da LCWR, o papel da mulher na Igreja para as irmãs não se esgota na demanda do sacerdócio, mas sim em toda uma consideração diferente da figura feminina.
Nuns on the bus
Enquanto isso, as irmãs concluíram na Califórnia a sua nova turnê pelos Estados Unidos (Nuns on the bus), para sensibilizar sobre a necessidade de aprovação da nova lei sobre a imigração e, também esta é uma novidade, viram muitas vezes, nas suas etapas, os bispos locais as acolhendo: uma diferença de grande importância com relação à turnê do ano passado (para protestar contra os cortes orçamentários propostos pelo candidato republicano à vice-presidência, Ryan, e que iriam atingir as famílias com renda baixa e média), em plena campanha eleitoral.
A Ir. Simone Campbell tinha levado o pedido diretamente ao presidente Obama durante uma visita à Casa Branca, no início da turnê em maio.
Poderemos ver nos próximos dias quanto as diversas questões sobre a mesa vão contribuir para um esclarecimento com o Vaticano, especialmente com a Comissão liderada por Dom Sartain: se o clima mudou, talvez os problemas ainda não resolvidos poderiam encontrar uma forma de solução. Misericórdia, talvez, também é a palavra chave aqui.
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Irmãs dos EUA: mudança de clima, mas com os problemas de sempre - Instituto Humanitas Unisinos - IHU